Principais psiquiatras de serial killers do país tentam explicar caso de Goiás
Traço marcante da violência urbana, o serial killer é uma importação da cultura de violência dos Estados Unidos
São hipóteses: existe um serial killer nas ruas de Goiânia. Ele usa um moto para matar mulheres. Não costuma levar nada. E deve se regozijar enquanto todos estão atônitos por conta de sua maldade.
Traço marcante da violência urbana, o serial killer é uma importação da cultura de violência dos Estados Unidos. Sempre existiu. Mas depois que se tornou pop, durante as décadas de 1960 e 1970, virou um hit e pode ter provocado inúmeras reações sociais, como imitação, espanto, admiração e a mais comum, a curiosidade.
Nas duas últimas décadas, Goiás foi palco de dois destes personagens: o José Vicente Matias, Corumbá, ex-artesão, que matou seis mulheres dentre 1999 e 2005. E Ademar Jesus da Silva, pedreiro baiano que matou seis adolescentes, na região de Luziânia, há quatro anos.
A polícia estaria agora atrás de um terceiro, o primeiro da região metropolitana de Goiânia.
Sem a prisão de um suspeito, a boataria é a maior reação dessa histeria coletiva: a todo o momento aparece nas redes sociais mais uma vítima do homem que usa uma moto para assassinar mulheres.
A reportagem do MAIS GOIÁS consultou um sociólogo, criminologista e um psiquiatra para saber o que de fato pode estar acontecendo. Que a polícia não sabe, parece óbvio.
Guido Palomba, psiquiatra mais renomado sobre o assunto e que investigou recentemente o caso de Marcelo Pesseghini, o adolescente de 13 anos suspeito de matar os pais policiais militares em 2013, responde de forma franca: “Pelo que foi relatado na imprensa, ele é um serial killer. Não tenho dúvidas”.
Ilana Casoy, especialista em criminologia e considerada uma das maiores especialistas em assassinos em série e crimes violentos do Brasil, não apresenta tanta certeza.
Ela acha que ainda é cedo para afirmar que exista um serial killer nas ruas da Capital. “Antes é preciso uma investigação mais detalhada: que afunile os casos. A polícia tem que se perguntar a respeito das conexões entre os crimes. São de uma mesma autoria? Onde está a balística? Afinal, algum outro crime foi feito com a mesma bala e arma?”
Conforme Guido Palomba, o criminoso é estritamente metódico – e bom de pontaria, o que já seria uma pista para a polícia trabalhar. “Ele está regozijando agora, sentindo imenso prazer com tudo isso”, diz ao portal MAIS GOIÁS.
Esse prazer, diz o psiquiatra, vai levar o assassino a tentar fazer novas vítimas: “É assim que ele passa a cometer erros. Não tenho dúvidas de que em muito breve a polícia vai pegá-lo”.
Para Palomba, o assassino da moto, caso realmente exista, deve ser um psicopata. Logo, mata para ver a vítima cair. “É o tipo que não tem compaixão. Ao contrário, é orgulhoso do que faz”.
Ilana explica que a investigação dos crimes que acontecem em Goiânia será desgastante e complexa, pois exige “trabalho braçal para pouco resultado”. Ela sugere a multidisciplinaridade, com vários profissionais envolvidos na investigação, para que a Polícia Civil e Militar consigam colocar as mãos no suposto serial killer.
Para ela, a polícia goiana precisa pegar os inquéritos e juntá-los, o que já tem sido feito. Depois, seguir um estudo da rota e dos locais dos crimes. E, por último, tentar entender a motivação. “Nos assassinos em série, o motivo é psicológico. Logo, essa pergunta não existe, pois a motivação é individual, psicológica”.
OUTRAS HIPÓTESES
Ilana Casoy diz que a série de assassinatos pode ter motivações diferentes e criminosos diversos. Neste caso, estaria mais ligada à violência urbana característica das grandes metrópoles.
“Pode ser, por exemplo, uma pessoa que cogitou matar a vizinha e depois dessas mortes encontrou a oportunidade de matá-la e não ser preso“, diz.
O advogado e sociólogo Valdir Arantes, especialista em criminologia, afirma que existe uma hipótese remota de ser coincidência. “Realmente, a moto é meio adequado para a fuga e está presente em parte considerável dos relatos urbanos de homicídios. Mas penso que a quantidade de mulheres é alta. Se bem que no rol dos casos investigados existem relatos de violência contra grupos de pessoas”, diz.
O sociólogo afirma que o caso é uma incógnita. E não será de fácil resolução. “Se prender alguém, a tendência é se espantar quando ocorrer outro crime semelhante. A Polícia fará a seguinte pergunta: se alguém está matando lá fora, então quem está preso aqui? ”, diz.
O que pensam Ilana Casoy e Guido Palomba
ILANA CASOY
“O Estado tem que se comprometer a investigar com determinação. Existe uma dúvida e ela precisa ser respeitada: afinal, temos um serial killer lá fora? Todo mundo vê televisão, séries policiais, essas coisa circulam rápido nesse momento”
“Alguns assassinos praticam um ritual. Eis aqui uma característica: a polícia precisa seguir estas pistas e fazer conexões até que encontra a assinatura do assassino. Muitas vezes a vítima personaliza algo para o assassino”
GUIDO PALOMBA
“Minha leitura neste momento, que é precoce, inclusive posso vir a reformá-la depois, é de que ele pode estar entre aspas se vingando de algo. Então, ele mata mulheres jovens, não temos relatos de mortes de idosas e mais maduras. Assim, é preciso seguir esta linha.
“Ele está regozijando agora, sentindo imenso prazer com tudo isso. E ele vai praticar mais homicídios até ser pego. Mas a grande repercussão na mídia, de certa forma, vai facilitar para a polícia pegá-lo”
“Pessoas dessa índole não apresentam regeneração. É zero essa possibilidade. Geralmente, morrem dentro do presídio. É o tipo de pessoa que morre no meio do caminho”
“Acho que temos uma história de desilusão amorosa ou algo bem trivial, tipo uma garota é chamada para dançar, e ela se vira e diz para ele: “Escuta, seu rosto é feio”.