Produtores de leite protestam contra a qualidade no fornecimento de energia em frente à Enel, em Goiânia
Durante ato, 2 mil litros de leite foram distribuídos para três instituições filantrópicas. Produtores caracterizam situação como "insustentável"
Um grupo de 500 produtores de leite de diversos municípios de Goiás protestou, na tarde desta sexta-feira (22), em frente à sede da Enel, no Jardim Goiás, em Goiânia. O objetivo era chamar a atenção da empresa diante da má qualidade do serviço de fornecimento de energia que vem sendo prestado. Durante o protesto, foram acendidas velas em frente à empresa e doados dois mil litros de leite à Vila São Cottolengo, Casa de Eurípedes e Paróquia São Francisco.
O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, apontou que a atual situação do fornecimento é “insuportável”. Ele disse que com a venda da Celg para a Enel, a expectativa era de melhorias e investimentos. “Ou toma-se providência ou toma-se providência. Muitos setores têm sido prejudicados por causa disso. Isso impacta na geração de emprego, no desenvolvimento da empresa e no direito básico da cidadania”, conta.
A relação entre a Faeg e a empresa estaria estremecida. O presidente ressalta que o principal objetivo com a venda da Celg era o investimento do setor energético goiano. “Queremos uma resposta para saber o que falta para começar esses investimentos. Em conversas informais, eles [Enel] alegam que têm dinheiro para investir. Se tem o dinheiro, o que é que falta para começar esses investimentos? Goiás e a sociedade goiana não merecem o tratamento que a Enel está dando”, afirma.
A comitiva da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) veio a Goiás, na última quinta-feira (14). Durante visita, ficou acordado a elaboração de um plano emergencial para conter as principais medidas a serem tomadas de curto prazo. O prazo para a conclusão é de 10 dias. “Mas não vamos nos calar! Iremos buscar juntos à Aneel, ao Ministro de Minas e Energia. Recebemos a informação de uma articulação sobre a instalação de uma CPI para investigar esse caso. Este protesto é apenas o início”, conta.
Deputados goianos já entraram com pedidos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigar a empresa. Enquanto Henrique Arantes (PTB) quer avaliar o cumprimento dos requisitos do contrato, Alysson Lima (PRB) solicitou avaliação do processo de venda, concretizado em 2016.
Investimento Privado
Muitos produtores de leite chegam a investir em geradores para que a falta de energia não comprometa a produção. Um deles é Marco Sérgio Batista Xavier, de Cromínia, a 82 quilômetros de Goiânia. “Teve casos de chegarmos a ficar mais de três dias seguidos sem energia na região. Nosso produto é perecível e isso não pode acontecer”, destaca.
Marco conta que fez um investimento em torno de R$ 40 mil na compra do gerador, instalação e combustível para funcionamento. “É um absurdo ter um gasto com um serviço que pagamos e que não é nada barato. Não há adjetivos para caracterizar o que passamos na mão da Enel atualmente”, desabafa.
Além disso, o produtor questionou o fato da cidade que mora contar apenas com uma equipe para atender sete municípios da região. Caso os moradores precisem de atendimentos fora do horário comercial, isso não acontece.”Isso é inadmissível. Tive condição de fazer um gasto desses, mas e quem não tem? Realizar um gasto com algo que devemos ter o direito de termos não é justo. Se eles compraram, eles deveriam ter ciência de todas as contas e do que deveria ser feito para melhorar os serviços”, ressalta.
Em nota, a Enel alegou que mantém contato com a Faeg e produtores rurais, principalmente do Sudoeste do Estado, para discutir as necessidades dos clientes. A empresa também destacou que, quando assumiu a antiga Celg, os índices de fornecimento estavam ruins e a empresa estaria “deteriorada”. E pontuou que já foram investidos mais de R$ 1,5 bilhão. Sobre o caso de Cromínia, a empresa informou que os colaboraram realizam serviços emergenciais 24 horas por dia, todos os dias, e que as equipes são definidas “de acordo com a quantidade de solicitações e são reforçadas em casos de aumento de demandas.” Leia a nota completa abaixo.
A Enel Distribuição Goiás informa que tem se reunido com representantes da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) e produtores rurais, principalmente, da região sudoeste do Estado, para discutir sobre os trabalhos que estão sendo realizados e necessidades dos clientes. A companhia reforça que respeita a manifestação e continua aberta ao diálogo. A Enel tem compromisso com consumidores de Goiás e tem trabalhado para a melhora constante da qualidade do fornecimento de energia no Estado. A empresa esclarece que os índices de qualidade da distribuidora, fiscalizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), já apresentam melhorias, tendo a duração média das interrupções do fornecimento de energia (DEC) reduzido em cerca de 6 horas em dezembro de 2018, em relação a dezembro de 2017 – a melhor duração desde dezembro de 2011. Com relação à frequência média de interrupções (FEC), o número alcançado em 2018 é o melhor da história da companhia. A companhia acrescenta que dos 148 conjuntos elétricos, em que o Estado é dividido, 101 já apresentaram melhoras no DEC, e representam 73% do total do número de clientes. A empresa informa, ainda, que quando assumiu o controle da distribuidora de energia de Goiás, em fevereiro de 2017, a rede da companhia no Estado estava deteriorada. Já foram investidos mais de R$ 1,5 bilhão, volume de recursos que representa bem mais que o dobro dos R$ 300 milhões anuais que a antiga CELG D investiu em 2015 e 2016, antes da privatização. Como as obras em curso são grandes e complexas, contribuirão ainda mais com a melhora da qualidade no médio prazo. A Enel Distribuição Goiás informa que as equipes de atendimento emergenciais trabalham 24 horas, todos os dias da semana. A companhia reforça que a quantidade de equipes por município são definidas de acordo com a quantidade de solicitações e são reforçadas em casos de aumento de demandas.