DESRESPEITO À CIÊNCIA

Professor que propôs o isolamento intermitente sofre ameaças nas redes

Ataques decorrem do estudo que o docente apresentou para Caiado que aponta risco de 18 mil mortes caso isolamento social não aumente em Goiás

Professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG)

O professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG), tornou-se vítima de ataques nas redes sociais por ter apresentado um estudo que sugere o fechamento intermitente do comércio, com 14 dias de autorização para abrir e 14 dias com portas fechadas, até setembro. O objetivo do seu estudo é evitar que se concretize a projeção de 18 mil mortes causadas pelo novo coronavírus nos próximos meses. Por causa do conteúdo da proposta que apresentou, Thiago virou alvo de montagens com seu rosto e frases que buscam desmoralizá-lo.

Em uma das publicações, há a foto do professor com a frase: “O futuro da sua família depende dele. Você o conhece? Ele é o responsável pelo lockdown em Goiás”. Devido aos ataques que o docente recebeu, a diretoria do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais (Adufg-Sindicato) publicou uma nota de repúdio contra a violência. “O Adufg-Sindicato não aceita os ataques e defende que os responsáveis respondam nas esferas administrativa, civil e criminal”, diz trecho da nota.

Ainda no texto, o sindicato destaca que o professor atua no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e foi o primeiro docente da universidade a ter um artigo publicado na revista norte-americana Science. “No combate à pandemia, certamente ajudou a salvar milhares de vidas, uma vez que faz parte do grupo responsável pela implementação de um modelo de simulação epidemiológico, que se vale de métodos matemáticos e computacionais e geram projeções temporais da expansão da Covid-19. Esse trabalho serve para subsidiar a tomada de decisão em saúde considerando o atual cenário da pandemia no Estado de Goiás”, segue a nota.

Além disso, a Adufg destaca que “apoia incondicionalmente os professores e pesquisadores das universidades federais goianas, que estão absolutamente comprometidos com a ciência e com a busca de soluções para o enfrentamento da pandemia. O sindicato também reafirma seu compromisso com a missão de incentivar, disseminar e compartilhar o trabalho desenvolvido pela comunidade acadêmica no sentido de fortalecer a luta que as universidades têm travado na linha de frente de combate ao coronavírus”.

A UFG também publicou nota em apoio ao professor e ao trabalho que o mesmo desempenha dentre da instituição. “A Universidade Federal de Goiás (UFG) repudia de forma veemente qualquer tipo de difamação no sentido de desacreditar o trabalho científico de pesquisadores que trabalham arduamente colaborando pelo bem estar social. A comunidade da UFG está perplexa diante dos ataques que professores da instituição têm sofrido em virtude de estudos publicados que reforçam a necessidade de isolamento social para o combate à Covid-19.” Veja a nota completa na íntegra

Thiago foi procurado pelo Mais Goiás, mas preferiu não dar entrevista. Porém, afirmou que está tomando as medidas cabíveis sobre o assunto.

O estudo

O estudo foi anunciado no último dia 29 de junho, mesma data do novo decreto assinado pelo governador Ronaldo Caiado (DEM), que recomendou aos municípios o isolamento intermitente. O estudo levou em consideração a projeção de mortes que o novo coronavírus poderá causar até setembro, caso o isolamento siga em baixa. Serão 18 mil mortes. A média do isolamento registrada no Estado até o momento é de 36%, sendo que a recomendada é de 70%. O cenário ainda aponta que o número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) necessários para tratar os paciente, em julho, teria que ser de 2 mil. O Estado anunciou, ainda na última segunda-feira (29), que chegará aos 600 leitos.

Com a adesão do isolamento intermitente, o estudo destaca que o número de mortes cairia para 4 mil. “Trago uma sugestão com 14 dias de fechamento e 14 dias de abertura até setembro. Isso não valeria para todos os municípios. É uma estratégia inteligente, coordenada para evitar um colapso”, reforçou ao governador ao apresentar a proposta.

Leia, na íntegra, as notas da UFG e a Adufg

[olho author=”Diretoria do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás”]

NOTA DE REPÚDIO

A Diretoria do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato) manifesta seu total repúdio aos ataques sofridos pelo professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde a última segunda-feira (29/06), quando apresentou um estudo que estima um colapso hospitalar  em Goiás no mês de julho, o docente vem sendo atacado nas redes sociais e apontado como responsável pelo “futuro das famílias”.

O estudo apresentado por Thiago alerta para a necessidade dois mil leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A pesquisa também estima que 18 mil mortes causadas pelo novo coronavírus (Covid-19) podem ser registradas até setembro em Goiás.

O Adufg-Sindicato não aceita os ataques e defende que os responsáveis respondam nas esferas administrativa, civil e criminal.  Mesmo diante da inércia do Governo Federal, do Governo do Estado e de alguns municípios no combate à pandemia, professores de universidades públicas de todo o Brasil têm trabalhado incansavelmente em diversas frentes de atuação para diminuir os impactos do vírus no País. É visível que representantes das três esferas do Poder Executivo negligenciaram o impacto que o coronavírus causaria nas áreas de saúde e economia. Diversas medidas deveriam ter sido tomadas já no início da pandemia, mas, por omissão, foram deixadas de lado. Dessa forma, o sindicato defende que docentes e pesquisadores tenham tranquilidade para a realização de suas ações no enfrentamento à doença.

Thiago Rangel atua no Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Foi o primeiro professor da UFG a ter um artigo publicado na revista norte-americana Science. No combate à pandemia, certamente ajudou a salvar milhares de vidas, uma vez que faz parte do grupo responsável pela implementação de um modelo de simulação epidemiológico, que se vale de métodos matemáticos e computacionais e geram projeções temporais da expansão da Covid-19. Esse trabalho serve para subsidiar a tomada de decisão em saúde considerando o atual cenário da pandemia no Estado de Goiás.

O Adufg apoia incondicionalmente os professores e pesquisadores das universidades federais goianas, que estão absolutamente comprometidos com a ciência e com a busca de soluções para o enfrentamento da pandemia. O sindicato também reafirma seu compromisso com a missão de incentivar, disseminar e compartilhar o trabalho desenvolvido pela comunidade acadêmica no sentido de fortalecer a luta que as universidades têm travado na linha de frente de combate ao coronavírus.

Goiânia, 30 de junho de 2020.
Diretoria do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg)

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[olho author=”Secom UFG”]

A Universidade Federal de Goiás (UFG) repudia de forma veemente qualquer tipo de difamação no sentido de desacreditar o trabalho científico de pesquisadores que trabalham arduamente colaborando pelo bem estar social. A comunidade da UFG está perplexa diante dos ataques que professores da instituição têm sofrido em virtude de estudos publicados que reforçam a necessidade de isolamento social para o combate à Covid-19.

Reforçamos o caráter científico das pesquisas, sempre baseada em critérios rigorosos de apuração e checagem dos fatos à luz da ciência, bem como a capacidade técnica dos pesquisadores e professores envolvidos, que formam uma equipe interdisciplinar de excelência internacional e com ampla experiência em bioestatística, modelagem computacional e epidemiologia. Entendemos que podemos dessa forma contribuir para auxiliar o planejamento e a gestão de políticas públicas no Brasil, formando uma frente ampla para o enfrentamento da pandemia da Covid-19.

O estudo apresentado ao governo do Estado de Goiás, no dia 29/06, feito pelos pesquisadores da UFG Thiago Rangel (ICB), José Alexandre Diniz Filho (ICB) e Cristiana Toscano (IPTSP) alerta para a rápida expansão da Covid-19 no Estado, inclusive para o interior do Estado. O estudo também mostra claramente que milhares de mortes ocorrerão em Goiás se nenhuma medida for tomada e se a pandemia continuar a avançar na mesma velocidade. Até o presente momento, o modelo de expansão da doença criado pelos pesquisadores da UFG tem sido capaz de prever corretamente os eventos de número de óbitos e hospitalização a partir dos níveis de isolamento social no Estado, o que leva à conclusão que é preciso reforçar ainda mais a necessidade de adotar um isolamento social mais rigoroso, associado a outras medidas que permitam um combate mais eficiente da pandemia. A preocupação primeira da UFG é no sentido de poupar vidas e não há outro caminho conhecido até o momento que não seja o isolamento social cumprido de forma responsável por todos os brasileiros.

O resultado do isolamento social conseguido no início da pandemia em Goiás, já respaldado nas primeiras versões do modelo desenvolvido pelo grupo de pesquisadores, permitiu que o governo do Estado pudesse se preparar melhor para atender aos goianos acometidos pela infecção da Covid-19. No entanto, a diminuição do engajamento social quanto à adoção do isolamento ao longo do tempo culminou em um aumento alarmante do número de casos nas últimas semanas. A UFG reforça, com base empírica e científica, que caso não haja diminuição da taxa de transmissão da doença o sistema de saúde atual não conseguirá atender a todos os pacientes que dele necessitarem com a quantidade atual de leitos disponíveis. A única intenção desses estudos é utilizar da capacidade técnica e científica da UFG para auxiliar e subsidiar políticas públicas para nosso estado.

Infelizmente vivemos um momento em que foi disseminada a crença que há uma oposição entre economia e saúde, o que é inverídico visto que ambas se estruturam de forma a promover o bem estar coletivo e não apenas individual ou de minorias privilegiadas. A UFG segue ao lado da sociedade e não deixará de continuar subsidiando políticas públicas com informações científicas para evitar calamidades de efeitos catastróficos e não conhecidos resultantes da pandemia.

Desde março deste ano a instituição tem trabalhado incansavelmente, em diversas frentes, para continuar devolvendo a sociedade o investimento recebido ao longo dos seus quase 60 anos de idônea história e irrefutável contribuição ao desenvolvimento de nossa sociedade. E assim prosseguiremos preservando a vida, a liberdade de pensamento e acima de tudo a dignidade da pessoa humana.

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