Professores da rede estadual adotam uso de histórias em quadrinhos como metodologia de ensino
Docentes têm usado HQs como forma de despertar o interesse por disciplinas consideradas mais difíceis, além de facilitar o diálogo e a interação
Um grupo de professores da rede pública de ensino tem adotado uma forma diferente para motivar os alunos: histórias em quadrinhos (HQs). Segundo o professor de matemática Clodoaldo Gomes de Oliveira, a nova metodologia desperta nos estudantes o interesse por disciplinas consideradas difíceis, como Matemática e Espanhol.
A estratégia foi utilizada por um professor de matemática, em Goiânia, que notou como a disciplina era temida nas diferentes etapas de ensino. Uma professora de Espanhol, em Luiziânia, acredita que por ser uma forma lúdica de trabalhar, as historinhas auxiliam os pequenos a compreender a língua estrangeira.
Matemática
Docente no Colégio Estadual Deputado José Luciano, em Goiânia, Clodoaldo diz que pensou em uma forma diferente de ensinar porque a Matemática é uma matéria temida por muitos. Foi quando ele pediu aos alunos que fizessem histórias em quadrinhos envolvendo as quatro operações básicas e se surpreendeu com o resultado.
“À época, um aluno do primeiro ano, que tinha muita dificuldade em matemática, chamou minha atenção pois não sabia do dom artístico que ele possui. O desenho dele é tão bem feito e fiquei muito surpreso com a criatividade. Ele ainda me colocou como super-herói na história, como a pessoa que conseguiu ensinar matemática para ele. Fiquei encantado”, comemora o professor.
Clodoaldo disse que pediu ao mesmo aluno, que agora cursa o terceiro ano, que produzisse uma história em quadrinhos envolvendo estatística. Para o professor todas as formas diferentes de motivação que um docente pode oferecer ao aluno são importantes.
Espanhol
A professora Lidiane da Silva Pires, do Colégio Estadual da Polícia Militar de Goiás (CEPMG) Ely da Silva Braz, em Luziânia, também adotou a história em quadrinhos na sala de aula. Ele decidiu usar os gibis na hora de ensinar espanhol.
“Os alunos do 6º ano são menores, e o Espanhol é uma língua mais difícil para eles, então deve ser trabalhado de modo lúdico. Assim os estudantes conseguem assimilar e aprender, sem ficar cansativo para eles”, explica.
Durante o exercício em sala de aula, os alunos liam os gibis em português e em espanhol. Na sequência, foram estimulados a desenhar os próprios quadrinhos. “Os alunos criaram suas próprias histórias, com a criatividade deles. Foram seis aulas para concluir os trabalhos e cada um apresentou o seu e leu em espanhol”, conta Lidiane.
Facilidade de diálogo
Segundo Gisele Faria, superintendente do Ensino Fundamental da Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc), as HQs são muito presentes na vida de todos, o que ajuda o professor a se aproximar da realidade dos estudantes, e facilita o diálogo e a interação.
“As HQs são um recurso literário que vem de gerações, rico em linguagem, em recursos linguísticos e imagens. O professor tem mais facilidade em ensinar por meio desses recursos, pois o diálogo com a turma fica mais interativo. Hoje os alunos são tão podados de se expressar, e poder fazer isso em sala de aula é fantástico”, comenta Gisele.
O quadrinista
O artista plástico, tatuador e quadrinista Thiago Dornelas aprova a utilização de HQs em sala de aula. “Usar de métodos diferenciados para atingir o estudante é super válido. Sempre gostei de quadrinhos, e as partes dos livros didáticos que mais gostava era quando os exemplos tinham situações envolvendo HQs, penso que a maioria dos alunos são assim”, comenta.
O quadrinista diz que o universo dos quadrinhos é enorme e não foca somente em super-heróis e historinhas engraçadas, mas também trazem críticas e levantam questões para serem discutidas.
“Algumas de minhas charges compõe livros de Geografia e História do grupo Sesc em São Paulo. Saber que minhas charges e HQs estão sendo usadas para, de alguma forma, ajudar e melhorar o entendimento dos alunos, é muito gratificante”, conclui Dornelas.
*Fabrício Moretti é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Hugo Oliveira