Laudo pericial

Represa de Pontalina não possuía estrutura para suportar cheia de córrego, diz perícia

Segundo o laudo, o barramento atendia às necessidades do proprietário, mas o processo de operação da represa não atendia às exigências técnicas

O laudo da PTC apontou que a represa que se rompeu em Pontalina não possuía estrutura para suportar uma possível cheia no Córrego do Jataí. (Foto: Gustavo Mariano)

O laudo pericial da Polícia Técnico-Científica (PTC) apontou que a represa que se rompeu em Pontalina não possuía estrutura para suportar uma possível cheia como a que houve no Córrego do Jataí, no último sábado (4). A barragem, construída no curso do córrego, não tinha projetos de engenharia e planejamento técnico. Alterações irregulares e sem permissão em equipamentos como o extravasor e as fortes chuvas também contribuíram para o desastre. Informações foram divulgadas na manhã desta sexta-feira (10) durante a apresentação do resultado da perícia.

O engenheiro civil e um dos responsáveis pelo laudo pericial, Tarcizio Valentim, explica que, apesar de perigosa, a construção de represas no curso de córregos é uma prática comum. Contudo, o responsável pela barragem deve oferecer condições mínimas de segurança para suportar a grande demanda de água ofertada pelo córrego. Porém, isso não foi feito pelo ex-prefeito de Pontalina, Edson Guimarães, conforme expõe o perito.

“O mínimo a ser feito é dimensionar a estrutura da represa para atender e suportar a grande quantidade de água ofertada pelo córrego. Pela falta de projetos de engenharia, podemos constatar que essa barragem provavelmente não foi construída a contento considerando a maior cheia histórica. Sem a devida estrutura, a barragem não suportou e se rompeu”, disse.

De acordo com Valentim, o rompimento da barragem foi resultado de diversos fatores. Além da rara precipitação (192 mm em 12h), contribuíram a falta de elementos básicos de engenharia como filtros drenantes, tapetes de escoagem subterrânea, canalização e descarga de fundo, por exemplo. Projetos de fundação, terraplanagem e execução da obra também não existiam no local. “Não constatamos a existência destes fatores e podemos afirmar que eles não existiam ou que ao menos não foram registrados no órgão competente, o que já configura erro”.

Alterações irregulares

O perito cita que o documento anexado no requerimento da outorga, entregue à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), relativo ao projeto de arquitetura da barragem, havia uma estrutura não condizente à encontrada no momento da perícia.

Entre as alterações constatadas está a do equipamento chamado de extravasor. No plano arquitetônico, era de tábuas móveis que, segundo ele, eram usadas provavelmente como comportas, que permitem ao dono da represa a regulagem da saída de água em períodos chuvosos.

O cenário encontrado, porém, foi diferente. “Conseguimos verificar que existiam essas tábuas existiram no passado. No entanto, encontramos no extravasor paredes de alvenaria e concreto e sacas de produto têxtil preenchidas com terra. É impossível que o operador controlasse o nível da barragem com facilidade com o equipamento desta forma”, ressaltou.

Relembre

A cidade de Pontalina vive dias de tensão desde que fortes chuvas atingiram o município no último sábado (4). Em menos de 12h, o local registrou precipitações com volume 192,5 milímetros (mm), 90% do previsto para todo o mês na cidade, segundo o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (CIMEHGO). Chuvas contribuíram para o rompimento da represa da fazenda São Lourenço das Guarirobas e geraram diversos transtornos aos moradores da região.

Com o rompimento, a força da água chegou à cidade e deixou vários pontos alagados. Os bairros Bujuí e Alegretinho foram atingidos. Apesar de não haver vítimas, o Corpo de Bombeiros afirma que algumas casas ficaram em situações mais graves de alagamento. Ao todo, 44 pessoas foram afetadas direta ou indiretamente. Destas, 15 estão desalojadas. Uma casa foi levadas pelas águas e outras quatro tiveram de ser interditadas em razão do risco de desabamento.

Na última segunda-feira, a prefeitura decretou estado de emergência. No decreto, o prefeito Milton Ricardo justifica a iniciativa considerando o acúmulo de precipitações que tiveram registro acima de 200 mm em menos de 24h. A situação, conforme expõe o documento, se agravou em razão do rompimento.

Além disso, houve “queda de árvores nas margens dos córregos Jataí, Mateiro e Lava Pé, e principalmente no córrego Boa Vista, riscos de quedas de outras árvores, alagamento e destruição de casas, devido a inundação de córregos, danos nas estruturas físicas de pontes de concreto e madeira e pontilhões, destruição de estradas rurais e vias urbanas”. O texto aponta que a cidade teve danos e mortes de animais, erosões em terrenos e outros semelhantes em razão da “maior precipitação ocorrida no município na história”.