Responsável pela reforma do Mutirama em 2012 fala sobre condições de segurança dos brinquedos
O paulista Adilson Rocha, proprietário da Astri Decorações Temáticas LTDA, empresa responsável pela ampliação e…
O paulista Adilson Rocha, proprietário da Astri Decorações Temáticas LTDA, empresa responsável pela ampliação e reforma dos brinquedos do Parque Mutirama, em 2012, concedeu, por telefone, uma entrevista EXCLUSIVA ao Mais Goiás.
Entre outras coisas, Adilson, que trabalha com parques de diversões desde 1981, falou sobre o contrato feito com o então Prefeito Paulo Garcia, e garantiu que, ao contrário do que foi dito na época, o dinheiro pago pela ampliação do parque não daria para que brinquedos novos tivessem sido adquiridos.
Questionado se o acidente que deixou 11 feridos na última quarta-feira (26) no Twister poderia ter sido evitado, o empresário afirmou que mesmo brinquedos novos podem apresentar problemas caso uma rigorosa manutenção não seja feita diariamente, e conta como fazia esse trabalho quando esteve, durante um ano, à frente do Mutirama.
Na ocasião da reforma, a Astri trouxe para Goiânia quatro brinquedos novos, revitalizou outros nove que já existiam, e fabricou, dentro do próprio Mutirama, outras 13 atrações. Confira abaixo o que o que diz o dono da Astri.
Mais Goiás: Quantos brinquedos o senhor trouxe para Goiânia na época, e quanto custaram?
Adilson Rocha: Dos itens contratados nós fabricamos, no próprio Parque, a portaria principal, estações e decoração da “Ferrovia Goiás”, Volta ao Mundo (antigo Autorama, onde precisamos demolir a edificação anterior e construir a nova), Goiânia Séc XXI (atração que agora foi desativada e transformado o espaço em salão de festas), Cine Mutirama, Araguaia Beach, Teleférico, Tobogã, Castelo de Alhambra, Splash, Mini Splash, Casa Mal-Assombrada, e Mini Auto Pista. Nós também trouxemos a Xícara Maluca, e o Carrossel Clássico, importados da Itália, além de uma Auto Pista, e da Torre, que são de fabricação nacional. Além disso nós revitalizamos, dentro do próprio Mutirama, a Montanha Russa, a Barca, a Roda, o Bicho da Seda, o Telecombate, a Mini Montanha, o Dumbinho, o Mini Carrossel, a Mini Montanha, e uma composição da Ferrovia. Importante lembrar também que os carrinhos do bate-bate, que estão na autopista e na mini autopista, foram importados da Itália. Todo o serviço foi orçado em R$ 28,9 milhões.
MG: Esse brinquedo do acidente foi trazido para o parque por sua empresa quando da ampliação do Mutirama?
Não. Ele já estava no Parque, foi fabricado em 1986, e comprado pela Prefeitura de Goiânia em 1997. Nós fizemos a reforma dele de acordo com as normas técnicas, que exigem a desmontagem, avaliação, reforma, montagem, liberação para certificação com emissão de laudo de segurança, e respectiva anotação de ART para cada brinquedo reformado ou fornecido.
MG: Sua empresa de alguma forma pode ser responsabilizada pelo acidente?
De maneira alguma. Nossa garantia contra defeitos de fabricação ou de serviços, conforme previa o contrato, foi de 12 meses, e já se passaram cinco anos do término. Vale lembrar que este é o sexto período de férias depois que fizemos a entrega do novo Parque.
MG: Na ocasião da reforma do Mutirama, muito se falou que o dinheiro dava para ter comprado brinquedos novos, ao invés de usados, é verdade?
Isso é falácia de quem não conhece o negócio, e nem de longe corresponde à realidade do mercado. O próprio governo do Estado de Goiás licitou, há alguns anos, para o parque da Cidade de Posse, alguns brinquedos, e ao final mencionou especificamente, a “falta de confiabilidade nos equipamentos de origem chinesa” descartando-os, e permitindo a aquisição de brinquedos usados. O que acontece hoje é que no Brasil as taxas cobradas pela aquisição de equipamentos para parques de diversões tornam a importação proibitiva. O argumento de que ente público não paga os impostos não procede, já que precisa de aprovação do governo federal até para importar um equipamento de medicina, por exemplo, o que, não raras vezes, é postergado por anos.
MG: Brinquedos antigos trazem algum tipo de risco para quem frequenta parques de diversão?
Tanto quanto os novos. Há casos de equipamentos tipo montanha russa recém-instalada, que logo após a inauguração precisou ficar fechada meses devido à ocorrência de acidentes. No caso de equipamento novo, ou seja, o primeiro modelo fabricado, podem ocorrer falhas de projeto, de fabricação, instalação, ou mesmo de operação. Posso até comparar dizendo que muita gente não compra o carro zero lançado naquele ano, espera para comprar no ano seguinte. Muitos carros novos passam por recall por erro de projeto ou fabricação. Isso também pode ocorrer com brinquedos novos. Agora, em relação a brinquedos usados, não há segredo algum para que funcionem perfeitamente. Tudo depende da forma como são cuidados, operados, e, principalmente, na manutenção preventiva e corretiva quando se detecta um problema. Um brinquedo usado ou novo que tem muita demanda, requer sempre mais atenção. Há equipamentos no mundo todo com mais de 100 anos de uso ou bem perto disso. Para que se tenha uma ideia, os grandes carrosséis do grupo Disney são da década de 20 do século passado, e mesmo depois de tanto tempo, agora que foram reformados e revitalizados continuam lindos, e funcionando perfeitamente.
MG: Como era feita a manutenção dos brinquedos quando sua empresa esteve à frente do Mutirama?
Nós participamos, por força dos termos do contrato, do plano de operação do parque durante um ano, e para garantir sua efetividade, eu mesmo permaneci no Mutirama durante três meses após a inauguração, período crítico por conta das férias, e a preparação para o mês das crianças. A equipe contratada para manutenção dos equipamentos era formada basicamente pelos profissionais que tinham encerrado contrato conosco ao fim do fornecimento, o que trazia maior tranquilidade na gestão da manutenção, pois eles já sabiam do grau de exigência no tocante a segurança, além de conhecerem todos os equipamentos. O protocolo de manutenção era baseado no princípio básico de segurança: aparelho com problema fica parado. Já no treinamento, os envolvidos diretamente na operação e atendimento nos brinquedos foram exaustivamente expostos à informação de que, em caso de dúvida, ruídos, ou percepção de algo diferente na atração, era para parar imediatamente o equipamento, e chamar a equipe de manutenção. Poderia até não ser nada, mas era para constar, tanto na ficha de operação do brinquedo, quanto no atendimento da manutenção.
MG: É preciso cumprir todo um protocolo para que acidentes não aconteçam?
Sim, e são coisas básicas. No dia a dia, por exemplo, quando estive aí, eu exigia uma equipe em quantidade suficiente de mecânicos e eletricistas para verificar todas as atrações, inclusive andando nos brinquedos. Após aprovado, assinava-se uma ficha. Posteriormente, o encarregado ou gerente de manutenção ia em cada brinquedo e checava o trabalho ou a liberação, e também assinava a ficha, liberando para o operador. Já o operador verificava a limpeza, espaço de plataforma, cintos ou travas de segurança, girava o brinquedo, e o liberava. Ele também assinava a ficha. A partir de então, o encarregado de operações ia em cada um dos brinquedos e dava a certificação final, assinando também. Importante lembrar que se essa assinatura for feita no escritório, não tem valor algum. Os colaboradores têm que estar conscientes disso por meio de treinamentos, e precisam ser cobrados diariamente pelo gestor do parque.
MG: Em 2012, como funcionava o trabalho de manutenção de brinquedos quando o parque estava fechado?
O Mutirama foi projetado para trabalhar seis dias por semana, sendo que de domingo à noite, até a abertura na terça-feira pela manhã, verificações, e reparos de maior monta poderiam ser executados sem afetar o funcionamento do parque. Normalmente o tempo era suficiente, mas às vezes, por depender da aquisição de peças, demorava um pouco mais. Nestes casos, no quadro de aviso de entrada do parque era informado que aquela atração não estaria disponível.
MG: Acidentes em parques de diversão são comuns?
Os grandes parques mantêm rigoroso controle sobre o volume de acidentes em relação número de visitantes. E dentro desse cenário, os parques têm menos acidentes por volume de usuários que o setor de aviação.
MG: Na sua opinião, o acidente ocorrido na última quarta-feira no Mutirama poderia ter sido evitado?
Só depois de feita a determinação das causas, que tenho certeza não foi uma só, é que quem participou desses levantamentos poderá dizer se era possível ou não ter evitado.
MG: O que fica de lição após um acidente como o que aconteceu na quarta-feira passada no Mutirama?
Será necessário avaliar com frieza técnica os resultados das análises que serão feitas e, a partir disso, tomar as providencias necessárias. Tomar qualquer atitude agora é precipitado, assim como são precipitadas as dezenas de opiniões que têm sido externadas por pessoas que tem uma ideia pré-concebida sobre o assunto apenas com base em informações repassadas pela mídia.
MG: É possível mudar a imagem de um parque depois de um acidente tão grave?
Sim. Pode demorar, mas ações planejadas com cuidado, sem atropelos, podem render a tranquilidade que o parque precisa para afastar o estigma de um acidente.