VIOLÊNCIA

Reunião virtual dos Jogos Goianos da Saúde Mental é invadida e participantes são ofendidos

Uma reunião virtual dos Jogos Goianos da Saúde Mental (JGSMental) foi invadida, na tarde de…

Uma reunião virtual dos Jogos Goianos da Saúde Mental (JGSMental) foi invadida, na tarde de terça-feira (31), e os participantes foram ofendidos com xingamentos e agressões. Por meio de nota a organização do evento, que ocorre oficialmente de 3 a 12 de novembro [também remotamente, neste ano], informou que a violência foi “manicomial, porque mobiliza o que há de mais desumano na atualidade: a autoridade de dizer quem pode ou não existir”.

Destaca-se, os JGSMental têm como proposta ir contra projetos proibicionistas e manicomiais. A proposta é vinculada aos Centros de Convivência e Cultura “Cuca Fresca”, além da Faculdade de Educação Física e Dança, da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Segundo o “Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial”, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), trata-se de “um evento esportivo e cultural autogestionado. A exclusão vivida por usuários e familiares ligados aos serviços de saúde mental de Goiás ainda é um desafio que exige superações coletivas no cotidiano. Para lidarmos com esses obstáculos são necessários parceiros que acreditem na possibilidade de responder às restrições e constrangimentos sociais, integrando uma rede articulada e efetiva de cuidado. Nesse sentido, os verdadeiros autores dos Jogos são os usuários da rede de atenção psicossocial e os parceiros que acreditam que outro mundo é possível e necessário”.

Outro intuito é promover espaço de integração e ressocialização, bem como estimular o protagonismo dos usuários da saúde mental.

Nota dos Jogos Goianos da Saúde Mental sobre a invasão (Foto: Reprodução)

Idealizador, professor Heitor Pasquim fala da reunião e do evento

O professor Heitor Pasquim, que faz parte da faculdade de Educação Física e Dança da UFG, é um dos idealizadores do projeto, que começou em 2018 de forma presencial e foi adaptado em 2020 para a versão remota – por causa da pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, no ano passado uma reunião também foi invadida.

“É o momento que vivemos. Com uma presença mediada por tecnologia estamos sujeitos a isso”, explica. Para ele, contudo, esse tipo de agressão é mais dramática para usuários dos serviços de saúde mental. “Têm um nível de sofrimento maior.”

Ao todo, cerca de 60 pessoas participavam da reunião – que ocorre de 15 em 15 dias. Professores, trabalhadores da saúde mental, estudantes da UFG, além de, claro, usuários da saúde mental.

Os Jogos

Heitor também explicou como funcionavam e funcionam os jogos. Antes da pandemia, em 2018 e 2019, as duas edições foram presenciais. Segundo ele, havia a divisão em três eixos que rendiam pontos para os participantes: jogos e esporte (diversas modalidades); arte e cultura (peças, músicas, pinturas, etc.); e economia solidária (algumas produções para venda). “Tinham regramento e os que ganhassem mais pontos levavam o troféu”, explica.

As primeiras edições tiveram a participação, respectivamente, de 500 e 1.000 pessoas. Em 2020, já na modalidade remota, foram cerca de 400 desafios – o novo eixo, como explica o professor.

Fizemos uma brincadeira com desafios e respostas. Cada usuário poderia criar um desafio. Podia ser fazer um vídeo com embaixadinhas, por exemplo. Era uma pontuação para o desafio e uma maior para quem respondesse. Foi muito bom”, relembra.

Em andamento

Apesar dos jogos estarem marcados para 3 a 12 de novembro, Heitor diz que, na prática, eles já estão acontecendo. “Não é só a semana. Os encontros, a discussão das regras e organização também produzem saúde mental”, revela a importância das reuniões quinzenais.

Questionado sobre as expectativas, ele afirma que formalmente espera envolver a universidade como um todo, a comunidade e a rede de atenção psicossocial. “Um dos princípios deste projeto de extensão é a integração”, reforça.

Indo além, contudo, Heitor espera que os jogos criem um espaço de confiança para essas pessoas. “Hoje não temos mais os muros do manicômio, mas ainda existem existem portas fechadas em espaços de lazer, mercado de trabalho e, às vezes, até na saúde. Queremos criar um ‘orgulho louco’ e curar o preconceito”, conclui.

Em maior parte, segundo o docente, participam dos JGSMental moradores da região metropolitana de Goiânia, mas também alguns do interior do Estado.