Padrasto e mãe de menina que ficou em estado vegetativo por agressão são condenados em Senador Canedo (GO)
O padrasto de N.S.C.G., de 4 anos, acusado de agredir a criança junto com a…
O padrasto de N.S.C.G., de 4 anos, acusado de agredir a criança junto com a mãe dela até que a menina entrasse em coma e ficasse em estado vegetativo, foi preso em sua casa, em Senador Canedo, na quinta-feira (3), por decisão da Justiça. O mandado de prisão, requerido pelo assistente de acusação Cláudio Gastão da Rosa Filho, e a condenação foram do juiz Diego Custódio Borges.
Segundo o magistrado, “o somatório das penas perfaz a sanção penal de oito anos de reclusão e seis meses de detenção, totalizando”. Ela deverá ser cumprida, inicialmente, em regime fechado, sem chance de responder em liberdade, com prisão preventiva decretada.
Já a mãe da criança foi condenada a pena quatro anos e oito meses de reclusão. O juiz, contudo, permitiu a ela o regime semiaberto, com a possibilidade de responder em liberdade.
A avó paterna da criança, Rejane Couto Gouveia, disse que hoje o choro é de alegria, pois a justiça foi feita. “O sentimento não dá para descrever. Mas é um grande alívio o crime não ficar impune, mesmo que a sentença não seja muito satisfatória. Mas Deus honrou a N.S.C.G.”
O portal procurou a defesa da dupla, que informou ainda não ter sido notificada. O espaço segue aberto.
Caso
O caso aconteceu em 16 de fevereiro de 2020, em Senador Canedo. À época, a Polícia Civil ficou sabendo quase um mês depois. Primeiro, a mãe da menina negou que o marido tenha agredido a criança e disse que a filha apenas caiu durante o banho, mas depois confessou que foi ela a autora do crime. Hoje, N. vive em estado vegetativo, não anda e se alimenta por sonda.
Em entrevista ao Mais Goiás, Rejane contou que desconfiava que a menina era vítima de violência, já que ela já apareceu com roxos, com um furo na esclera (parte branca do olho) e dizia que o padrasto, que ela chamava de pai, a colocava de castigo virada para a parede. Rejane disse que tentou denunciar o caso, mas a avó materna da menina não concordou e ela acabou desistindo.
Rejane revelou, ainda, que ficou sabendo do caso apenas no dia 9 de março de 2020, quando a mãe da menina ligou para ela. “A mãe dela me ligou por volta de 17h, dizendo que a minha neta estava em coma. No outro dia pela manhã, eu e o meu filho, pai da N., fomos no hospital, ela estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Com a comoção do acontecimento, não tocamos no assunto. A avó materna apenas disse que nossa neta tinha caído no banheiro.”
Entretanto, no dia seguinte, Rejane foi ao hospital em que a menina estava internada. Lá, os médicos disseram que a situação era gravíssima e que a queda da própria altura não poderia deixar tantas fraturas na criança. Posteriormente, devido a suspeita de espancamento, o hospital enviou um e-mail ao Conselho Tutelar acerca do caso.
A avó, sem entender o que estava acontecendo, foi até o local. Lá, os conselheiros informaram que já tinham recebido denúncias anônimas de que o caso não se tratava de uma queda e sim de um espancamento. Rejane e o pai da menina foram até a Delegacia da Polícia Civil e registraram o boletim de ocorrência para que tudo fosse investigado.
Mais detalhes
Um exame de corpo de delito comprovou que a menina sofreu um traumatismo cranioencefálico incompatível com o a queda da própria altura. Segundo o delegado responsável pela investigação do caso, o casal foi indiciado por lesão corporal grave.
No decorrer do processo, a mãe de N. confessou que foi ela que agrediu a menina e que o marido não teve participação no crime. Entretanto, testemunhas disseram durante as audiências que foi o homem que espancou a criança. O Mais Goiás teve acesso a um áudio onde a mulher confessa que bateu na filha. Confira AQUI.
A avó da menina contou, inclusive, que, desde que ela realizou a denúncia, sofreu ameaças. “Eu sofri várias ameaças. Ano passado aconteciam via telefone. Agora, em março de 2021, eu estava no posto de saúde e sofri uma tentativa de atropelamento.” O advogado da avó de N., Gastão Filho, afirmou que as pessoas que testemunharam contra o padrasto da criança também receberam ameaças do denunciado.
Recuperação
Quando a vítima foi agredida, ela passou pela Unidade de Pronto Atendimento (Upa) de Senador Canedo, foi transferida para o Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (Hmap) e depois para o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), onde recebeu alta quase três meses depois, no dia 22 de maio de 2020.
Rejane conta que não tem condições de pagar médico particular e a neta faz acompanhamento apenas com fisioterapeuta e fonoaudióloga pelo programa Melhor em Casa, em Senador Canedo. “Pelos homens não há muito o que fazer, somente um milagre para ajudar na recuperação”, disse.
Hoje, N. tem guarda compartilhada com a avó materna, paterna e com o pai.