“Senti que ia me matar”, diz trans chamada de “traveco” e presa em carro de motorista de app
Rayanne Eduarda Brito dos Santos registrou caso na polícia. PC abriu inquérito e investigações estão em andamento
Uma estudante trans de 34 anos denuncia que foi chamada de “traveco”e “imunda”, além de ter sido mantida presa dentro do carro de um motorista de aplicativo, em Goiânia. Rayanne Eduarda Brito dos Santos contou ao Mais Goiás que se sentiu refém da violência e que só conseguiu escapar após gritar por socorro e colegas de faculdade aparecerem.
“Senti-me refém. Eu tentava sair do carro e não conseguia, as portas estavam travadas. Eu senti por algum momento que ele iria me matar tamanho ódio e violência que ele usou”, conta Rayanne.
A vítima é estagiária na Defensoria Pública do Estado (DPE-GO) e resolveu denunciar o caso para que outros como esse não fiquem sem punição e para encorajar outras vítimas a denunciar.
O fato
Rayanne saía de casa no último dia 27 de abril em direção à faculdade, onde cursa direito. Ela solicitou uma corrida pelo aplicativo inDriver. Durante o caminho, ela disse que sentiu que o motorista estava diferente, como se estivesse incomodado com algo.
Ela chegou a conversar com o motorista duas vezes durante o trajeto. Em uma delas, pediu para aumentar um pouco a música e ofereceu balinha a ele. A segunda foi já próximo à faculdade, em que ela indicou o ponto de parada correto. O homem, no entanto, ignorou a orientação se dirigiu ao ponto errado. Quando ela o orientou novamente sobre o local, as ofensas começaram.
“Primeiro ele puxou o freio de mão do carro no meio da avenida. Ele virou para mim e perguntou qual o meu problema. Depois falou: ‘Você é chata, imunda, fedida, traveco. Ninguém quer andar com vocês aqui em Goiânia, essa raça maldita. E sempre fazendo menção de pegar algo em baixo do banco do carro”, revelou Rayanne que estava no carro com as portas travadas – o que a impedia de fugir.
Segundo a estudante, em um certo momento, o homem saiu do carro e ameaçou ir em direção à passageira, mas acabou desistindo. Rayanne começou a gritar, o que chamou a atenção de alunos da universidade. Um grupo foi ajudá-la e ela conseguiu sair do carro.
“Eu gritei muito e alguns alunos da faculdade vieram me ajudar. Eu consegui sair do carro e ele fugiu em disparada”, disse.
O Mais Goiás solicitou nota ao aplicativo inDriver via e-mail, mas até o momento não houve retorno. Espaço segue aberto para manifestações.
Denúncia
Rayanne registrou o caso no aplicativo e também na Polícia Civil. Segundo a estudante, a plataforma de transporte informou a ela que não concordam com esse tipo de atitude e que iriam tomar as medidas cabíveis. “No outro dia recebi uma ligação informando que o motorista tinha sido banido da plataforma”, contou.
O delegado Joaquim Adorno, do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), disse que um inquérito já foi instaurado e as investigações estão em andamento. “No momento não iremos tecer detalhes. Acredito que até a próxima semana teremos maiores informações sobre o caso”, explicou.
De acordo com a PC, o motorista deve responder por injúria homofóbica e pela prática de preconceito de identidade de gênero.