Ser grato e perdoar pode reduzir hipertensão, sugere estudo feito na UFG
Sociedade Brasileira de Cardiologia mantém departamento de espiritualidade
Cultivar sentimentos como gratidão, perdão e otimismo pode ser mais do que um simples exercício emocional; segundo um estudo apresentado no Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado em Brasília, essas práticas podem contribuir para a redução da hipertensão.
Pesquisadores da Unidade de Hipertensão da UFG (Universidade Federal de Goiás) avaliaram 100 pacientes hipertensos, dividindo-os aleatoriamente em dois grupos: experimental e controle. Inicialmente, todos os participantes passaram por consultas médicas que incluíram avaliação de hábitos de vida, uso de medicamentos e monitoramento da pressão arterial.
Durante 12 semanas, o grupo experimental recebeu mensagens diárias e vídeos via WhatsApp para estimular a reflexão sobre gratidão e os sentimentos de perdão e propósito. De acordo com a cardiologista Maria Emília Figueiredo Teixeira, autora do estudo, os resultados foram promissores: houve uma redução média de 7,6 mmHg na pressão arterial sistólica, além de melhorias na dilatação fluxo-mediada da artéria braquial, um indicador importante da saúde vascular.
“A queda na pressão arterial é significativa e, se mantida a longo prazo, pode prevenir doenças cardiovasculares graves, como infartos e derrames”, afirma Teixeira. Embora a metodologia tenha sido publicada nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, os resultados ainda não foram divulgados.
O estudo, considerado um piloto, abre portas para novas pesquisas sobre a relação entre saúde mental e física. Para Álvaro Avezum, professor do Programa de Doutorado da USP/Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, os dados são encorajadores. Ele sugere que, embora a espiritualidade não deva substituir tratamentos médicos tradicionais, pode ser uma abordagem complementar valiosa na prática clínica.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também tem explorado o tema, promovendo discussões sobre a importância da espiritualidade na medicina cardiovascular. Para Avezum, essa espiritualidade deve ser entendida como um conjunto de valores que influenciam nosso comportamento e estado emocional, não necessariamente ligado a religião ou misticismo.
Estudo sobre hipertensão em outros países já mostraram a correlação entre espiritualidade e saúde cardiovascular. Estudos realizados no Japão e na Colômbia, por exemplo, indicaram que práticas espirituais estão associadas a melhores hábitos de saúde e redução de sintomas de ansiedade e depressão.
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*COM INFORMAÇÕES DA FOLHA DE SÃO PAULO