Prefeitura é acusada de homenagear suspeito de assédio que morreu após prisão e ignorar vítima, em São Miguel do Araguaia
Prefeita informou que não teve detalhes sobre o caso e que não houve condenação
O comportamento da prefeitura diante de um caso de assédio revoltou uma servidora pública municipal em São Miguel do Araguaia.
Semanas atrás, uma amiga dessa servidora foi vítima de assédio. O homem foi preso, passou mal e morreu na cadeia. Essa servidora diz que, em vez de prestar auxílio à vítima, a prefeitura homenageou o falecido suspeito (que também era servidor municipal). Para ela, houve “inversão de valores”.
A prisão foi divulgada pela Polícia Civil e noticiada por veículos de comunicação, à época. “Os fatos ocorreram em fevereiro deste ano, durante o expediente de trabalho em órgão público. Segundo o apurado, o investigado teria importunado sexualmente a colega de trabalho e, após sua denúncia ao superior, descobriu que o indivíduo teria feito outras vítimas, silenciadas pelo medo de represálias. Os antecedentes criminais sinalizaram que o investigado já possuía condenação por estupro de vulnerável, fato que fundamentou ainda mais a necessidade da medida prisional”, revelou a corporação, em 20 de março deste ano.
O homem, que tem antecedentes criminais, era motorista em um posto de saúde da cidade, onde a mulher trabalhava. Durante uma visita, em fevereiro deste ano, ele teria a assediado, enviando áudios importunando a mulher, posteriormente – que o Mais Goiás teve acesso. “Ela já pegou ele se tocando no carro, vendo uma foto dela”, revela a fonte, que prefere não se identificar por medo de represálias.
A vítima fez a reclamação na prefeitura e a denúncia na Polícia Civil. O homem, então, foi transferido. Ela fez o boletim de ocorrência, que resultou, na última semana, na prisão do suspeito, que começou a passar mal e morreu, menos de um dia depois. “Depois que ele faleceu, tudo mudou. A vítima de assédio passou a ser culpada pela morte do homem. A prefeitura prestou homenagens, levou ambulâncias para o velório, e para ela não deu assistência nenhuma. Ela passou a ser julgada”, narra o ocorrido.
O Mais Goiás tentou contato pelos telefones disponíveis no site da prefeitura, mas não teve sucesso. Em seguida, enviou um e-mail, por volta das 15h de terça-feira (26), pelo administracao@saomigueldoaraguaia.go.gov.br, mas o mesmo voltou. Por fim, o portal procurou o município pelas redes sociais, mas sem sucesso.
Nesta quarta-feira (27), o veículo de comunicação conseguiu falar com a gestora. A prefeita Azaíde, de São Miguel do Araguaia, informou que sabia que o homem era um ex-presidiário, mas que já tinha pago e que era um bom funcionário. Ele diz que não acompanhou o caso, mas ao saber que existia uma denúncia, o mudou da pasta da Saúde para a garagem. Ela informou que esteve no funeral brevemente, mas não acompanhou o enterro, pois precisou sair da cidade.
Informou, ainda, não saber se houve cortejo com carros da prefeitura, mas que se tiver, era por ele ser funcionário do paço. “Não tive detalhes. Só ouvi o comentário e tomei a atitude de mudá-lo de pasta. Na garagem, ele trabalhava normalmente. Soube que, quando houve a prisão, ele ficou desesperado, pois não queria voltar à prisão, teve um AVC hemorrágico e não resistiu.”
Sobre as denúncias, ela afirma que não sabe quem fez e que ainda estava em investigação. “Nesse caso, não houve condenação. Se houve assédio, eu não tive a informação.”