Sensibilização

Setembro Amarelo busca conscientizar sobre um assunto que ainda é tabu: o suicídio

Pouco se fala sobre o assunto, mas a cada dia cerca de 32 brasileiros morrem…

Pouco se fala sobre o assunto, mas a cada dia cerca de 32 brasileiros morrem em decorrência do suicídio. O mal silencioso, muitas vezes relacionado a casos de problemas psiquiátricos, já tira mais vidas que a Aids e que a maioria dos tipos de câncer.

Parte do problema poderia ser enfrentado com o combate à desinformação. Os transtornos que muitos veem como “frescura”, para outros podem ser os motivos do sofrimento que os levará a pensar em tirar a própria vida. Essa dissonância que acontece entre pessoas com tendências suicidas e seus núcleos familiar e social tende a agravar o problema e faz com que grande parte dos afetados evite buscar ajuda. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 9 em cada 10 casos de pessoas que se matam poderiam ser prevenidos se as vítimas procurassem o apoio de quem está à sua volta.

Justamente para trazer mais luz sobre o assunto, CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) se unem desde 2015 para desenvolver no Brasil a campanha do Setembro Amarelo, visando a quebrar tabus e promover esclarecimentos. No período em que são realizadas as atividades, monumentos são iluminados de amarelo para chamar atenção sobre o assunto e eventos, como caminhadas, passeios ciclísticos e motociclísticos, palestras e abordagens em locais públicos acontecem em todo o País.

Para o especialista em saúde mental e dependência química Mayk da Glória Machado, a campanha demonstra sua relevância ao fomentar a discussão sobre o suicídio, trazendo uma oportunidade de sensibilização. “A morte ainda é tabu nas sociedades ocidentais, principalmente quando a morte é provocada pelo próprio indivíduo. A gente ainda tem uma carga cultural que está abalizada por valores morais, muito corroborados por nossas influências religiosas, que vão dificultar a discussão do suicídio em nossa sociedade”, afirma.

Segundo ele, desde que o Setembro Amarelo foi instituído no Brasil, o mês serve para que os profissionais ligados ao campo da saúde façam um debate sobre o suicídio e para que os serviços de saúde, principalmente de saúde mental, dediquem uma programação exclusiva para discutir as questões relacionadas o tema. Nesse período, psicólogos e psiquiatras estão mais próximos da sociedade para discutir o assunto e tratar das abordagens preventiva e interventiva, nos casos em que há a tentativa de suicídio.

Suporte

O poder público também tem aderido ao Setembro Amarelo na tentativa de enfrentar o problema, buscando sobretudo a sensibilização da população. “Existe um trabalho de capacitação com os funcionários dos campos da saúde, educação e assistência social para poder fazer essa sensibilização. Os serviços de urgência e emergência são preparados para lidar com essa questão da tentativa do suicídio, fazendo o encaminhamento para outros serviços especializados de saúde mental quando necessário”, relata Mayk.

O especialista atesta que, a curto prazo, as medidas de prevenção ao suicídio adotadas no Brasil têm surtido efeito. No entanto, ainda não é possível fazer uma análise mais ampla sobre assunto, já que a campanha está em vigor há apenas dois anos. Apesar disso, Mayk salienta que o Setembro Amarelo conseguiu fomentar ações que não eram feitas até então, inclusive levando as discussões junto às famílias que sofrem com o problema.

Pesquisas recentes indicam que mais de 90% dos casos de comportamento suicida estão associados a algum transtorno psiquiátrico. Os maiores vilões identificados são a depressão, o transtorno de ansiedade, a esquizofrenia e o alcoolismo.

Em casos assim, o psicólogo destaca que é fundamental que as pessoas que convivem com a pessoa afetada evitem julgamentos prévios sobre o problema. “A primeira coisa que tem que discutir é a questão de compreensão e empatia. Não menosprezar os sentimentos que essa pessoa tem. Não subestimar isso como uma crise de ‘piti’, como é muito comum na nossa sociedade. É preciso reconhecer que pode de fato estar havendo sofrimento”, ressalta Mayk. Oferecer suporte emocional e informar sobre a ajuda profissional, bem como se mostrar à disposição, caso ela queira conversar, são pontos destacados por especialistas.

Já para as próprias pessoas em sofrimento psíquico, a dica é buscar ajuda médica especializada. Alguns serviços oferecem suporte e orientação, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza atendimentos por telefone (pelo número 141) e fornece o apoio emocional que muitos buscam por meio de voluntários trainados para isso.

Como frisa Mayk, seja para as famílias ou para as próprias pessoas que consideram tirar a própria vida como uma saída para seu sofrimento, a comunicação é, efetivamente, a melhor solução. “Falar sobre o assunto é o melhor ato de prevenção”, destaca o psicólogo. “Quando se abre espaço para dialogo, abre-se também espaço para sensibilização e questionamentos, e a partir disso a gente tem uma abertura para falar sobre algo que ainda é problemático em nossa sociedade”, pontua.