Setor cultural em Goiânia sofre para se reerguer, apesar da flexibilização de regras
Novo decreto libera shows e amplia lotação em espetáculos, mas profissionais do setor cultural ainda têm dificuldades para trabalhar
Após um ano e meio de suspensão em razão da pandemia do coronavírus, a realização de shows em Goiânia voltou a ser permitida. Além disso, o novo decreto municipal publicado nesta semana ampliou a capacidade de lotação liberada em espaços para espetáculos, eventos artísticos e afins. Mas, apesar de terem ganhado mais flexibilizações para trabalhar, profissionais do setor cultural ainda se mostram temerosos pelo atual momento – tanto do ponto de vista econômico, quanto o de saúde.
No ramo da produção cultural há duas décadas, Fernandes Fernandes afirma que sua área de trabalho “parou totalmente e ficou sem perspectiva” com o início da pandemia, em março do ano passado. Ao Mais Goiás, a proprietária da F2 Produções revela que viu sua renda e a de amigos zerar após a suspensão das atividades culturais, o que fez com que muitos migrassem de profissão e até de país. “Sou produtora há 20 anos e eu não tinha um plano B. Não tinha pra onde correr”, diz.
Para Fernanda, o decreto que determinou o retorno dos shows e ampliação da lotação em espaços culturais representou um certo alívio para os profissionais da área. No entanto, chegou cercado também de preocupação em decorrência do grande número de casos de Covid-19 que ainda é registrado diariamente na capital.
“Precisa funcionar, mas com muita cautela. A gente, por exemplo, fez a opção de trabalhar só com 50% da capacidade de lotação nos espaços, teatros [hoje, a prefeitura libera 60% da capacidade]. A gente tem muito medo de trabalhar ainda, mas a questão é de sobrevivência”, pontua.
Setor cultural se reergue com dificuldades
Depois de ficar tanto tempo parada, Fernanda Fernandes está com um novo projeto. Trata-se do ciclo de conferências de escritores incluindo Fabrício Carpinejar, Ignácio de Loyola Brandão e Xico Sá, denominado “Diálogos Contemporâneos”, no Teatro Goiânia com entrada gratuita. Contudo, a realização de eventos culturais pós-lockdown se mostra mais difícil do que se pensa.
“Como só podemos lotar metade dos espaços, o que gente arrecada acaba indo para as próprias despesas. Acaba que fica elas por elas”, comenta. Para a produtora, além dos recursos federais por leis como a Aldir Blanc, que contam com longos prazos de avaliação e deferimento de projetos, o Estado e o município deveriam ter se atentado às necessidades de profissionais que tiveram sua renda zerada durante a pandemia, como os da cultura.
A falta de incentivos e recursos, segundo Fernanda, pode resultar numa debandada de artistas e produtores. “É uma preocupação que a gente tem: saber quais produtores e artistas ainda vamos ter quando isso tudo passar”, arremata.