Surgem outras duas possíveis vítimas ligadas às fraudes da Operação Metástase
Segundo delegado, outras duas famílias procuraram a DIH; instituto investigado cria página para esclarecimentos sobre o tema
Desde 12 de dezembro, a Polícia Civil do Estado de Goiás realiza uma ação, a fim de investigar o caso de um ex-paciente do Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh), que teria morrido em função do suposto esquema de fraudes apurados pela Operação Metástase. Nesta segunda-feira (13), o delegado Rilmo Braga Cruz Júnior, da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), confirmou que as investigações avançam, mas que ainda é preciso aguardar alguns laudos. Segundo ele, porém, outras duas famílias de possíveis vítimas de casos similares foram ouvidas e mais dois inquéritos foram instaurados. São três de homicídios, no total.
Apesar de não poder adiantar mais detalhes das investigações, Rilmo afirmou que há indícios de crime. Segundo ele, existe, também, um inquérito no Grupo Especial de Combate à Corrupção (Geccor). Os nomes das supostas vítimas também não foram revelados.
O Mais Goiás entrou em contato o delegado Luiz Gonzaga, da Geccor. Foi dito, apenas, que a investigação prossegue e corre em sigilo. Segundo ele, as oitivas e análise de dados, que têm grande volume, continuam.
Caso
À época, a PC informou que foi apurado que o hospital utilizou medicamento falsificado no tratamento de Oséas da Silveira Camacho, que tratava um câncer de pulmão. O Ingoh, que negou o uso de remédios vencidos ou de baixa qualidade, criou uma página no site oficial para dar a própria versão. “Creditar ao Ingoh a morte de pacientes é uma grande desonestidade”, diz o texto.
De acordo com o que foi divulgado pela corporação em dezembro, um lote do medicamento Sutent, cuja venda foi vetada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2018, teria sido adquirido pelo Ingoh e usado no tratamento de Oséas cerca de oito meses após a proibição. À época, a agência detectou que 11 lotes do remédio haviam sido falsificados.
Vale lembrar que, à época, o Diretor Técnico do Ingoh, Yuri Vasconcelos Pinheiro, disse, por nota, que o tratamento realizado com o medicamento foi iniciado em setembro de 2015, por uma indicação de uma empresa concorrente. Ainda de acordo com o diretor, essa empresa é denunciante no inquérito da Polícia Civil e do Ministério Público.
Yuri ressaltou que o tratamento prosseguiu até meados de fevereiro de 2018, quando a medicação foi trocada – ou seja, não foi usado no tratamento de Oséas por mais oito meses. O texto ainda dizia que o Ingoh manteve-se como local de tratamento de Oséas até novembro de 2018, mais de oito meses após ter recebido a notificação da Vigilância Sanitária e um ano após a entrega pontual da medicação adulterada (mas não com a medicação vetada). Por fim, explica que o Sutent foi comprado por cotação eletrônica de uma distribuidora que apresentava regularidade de todas as certidões e alvarás de funcionamento.
E ainda: “Empenhamos nosso sistema de retrovigilância, e identificamos apenas uma caixa, do lote 189EE (e não o 191EE, mostrado em reportagem de outro veículo de comunicação, o qual nunca esteve no nosso estoque), que fora fornecida ao Sr Oséas em novembro de 2017, portanto, três meses antes da notificação recebida.”
Esclarecimentos do Ingoh
A fim de esclarecer as notícias veiculadas no âmbito da Operação Metástase, o site do instituto disponibilizou uma aba só para tratar sobre o assunto. “A Polícia Civil do Estado de Goiás iniciou no dia 12 de dezembro de 2019 uma ação visando buscar irregularidades junto ao Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh) referente ao Programa Ipasgo Melhor, firmado em 2013 com o Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado de Goiás (Ipasgo).”
No site, são apontados como suposição uma série de temas (Medicamentos Vencidos, Medicamentos de Baixa Qualidade, Morte de Paciente, Auditoria Ipasgo e Glosa Hospitalar) e abordado cada um individualmente.
“Em hipótese alguma, o Ingoh faz a administração de produtos fora da data de validade. No último dia útil do remédio, os medicamentos são etiquetados como vencidos e/ou separados do resto do estoque. Depois de identificados, são encaminhados para incineração e aterro sanitário específico ou de volta para Vigilância Sanitária, ou seja, sempre descartados da forma correta”, detalhou.
Além disso, o instituto afirma que “utiliza os melhores rótulos de medicamentos disponíveis no mercado. Além das melhores linhas de genéricos, trabalhamos com remédios patenteados de primeira linha. Não importamos com o preço dos remédios, para nós o que importa é que nossos pacientes recebam o que há de melhor e mais eficiente no mercado”.
Morte
Segundo o Ingoh, o instituto não possui responsabilidade sobre a morte de pacientes oncológicos. “Durante o tratamento do câncer, apenas aplicamos os medicamentos receitados pelos médicos dos pacientes, e nosso trabalho é de garantir que os fármacos aplicados sejam da mais alta qualidade possível.”
E informa, ainda, que “na luta contra o câncer, todos sabem que nem todos os tratamentos terminam com êxito” e que “creditar ao Ingoh a morte de pacientes é uma grande desonestidade”. Para o instituto, não existe nada comprovado nas denúncias.
O Mais Goiás tentou contato com o instituto por meio do telefone disponibilizado no site mas não houve retorno. O espaço permanece aberto caso haja interesse em se manifestar sobre o assunto.