INVESTIGAÇÃO

Terreiro de Candomblé denuncia vizinhos por intolerância religiosa em Goiânia

Além das ameaças, vizinhos colocam música em volume alto para atrapalhar os cultos. Comunidade denuncia intolerância religiosa

Iyalorisa Marileia Lasprilla é dirigente da casa de axé e afirma estar traumatizada com a situação (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma comunidade de um terreiro de Candomblé da Vila Itatiaia, em Goiânia, denuncia que sofre intolerância religiosa por parte dos vizinhos. A dirigente da casa afirma que a situação ficou ainda mais preocupante nesta segunda-feira (23) quando cinco homens armados abordaram membros do terreiro enquanto estavam a caminho de casa. Os suspeito fizeram ameaças e tentaram invadir o local sob a acusação de que os praticantes escondiam um carro roubado e realizam sacrifícios de animais no local.

“Estou sofrendo intolerância e racismo religioso. Todas as vezes que temos atividade, a polícia é chamada e vai à minha porta. Eu sempre tenho que atender e justificar, mais ontem, chegando no (nome do local), fomos abordados de forma brusca e violenta por cinco homens armados em punho, mandando descer do carro e deitar no chão. Nos coagiram e intimidaram, acusando a gente de matar animais e realizar sacrifícios”, descreve Iyalorisa Marileia Lasprilla.

Apesar das tentativas das vítimas em explicar as práticas da religião de matriz africana, os suspeitos insistiram nas acusações e ameaçaram invadir o terreiro para verificar se havia animais mortos. “Eu pedi a identificação e o mandado, falei que ia chamar a polícia e a DEACRI. E eles foram embora”, completou a dirigente que também é Presidenta do Movimento Agô que promove ações de combate a qualquer forma de preconceito, violência e a intolerância religiosa, cultural ou individual ao povo de Matriz Africana..

Antes de deixarem a casa, Iyalorisa conta que os suspeitos se identificaram como policiais civis, mas não apresentaram qualquer documentação que comprovasse a profissão.

Intolerância por parte de vizinhos

Esse episódio é apenas um reflexo das tensões que a comunidade enfrenta há tempos, especialmente devido ao comportamento hostil de alguns vizinhos. Em especial, uma vizinha tem sido apontada como responsável por atos de intolerância, como colocar música em volume alto durante os cultos.

“Faço um trabalho a 10 anos no combate da intolerância e racismo religioso. E estou chocada, traumatizada e indignada com o que aconteceu”, conclui Iyalorisa.

Um boletim de ocorrência foi registrado e o caso é investigado pela Delegacia Estadual de Atendimento à Vítima de Crimes Raciais e de Intolerância (DEACRI).