Trabalhadores da Ceasa lutam para manter atividade durante a pandemia
Produtores relatam que não há luz ou materiais de higiene entre as 3h e 5h da manhã
Funcionando com cerca de 70% do volume de pessoas considerado normal, a Central Estadual de Abastecimento de Goiás (Ceasa) é ponto comum para a compra e venda de produtos de hortifruti em Goiânia. Diante disso, produtos, trabalhadores e comerciantes lutam para manter a atividade enquanto tentam escapar da contaminação por covid-19 em um ambiente que recebe, segundo os próprios, cerca de 15 mil pessoas diariamente.
Comerciante que pediu para ter o nome preservado por temer represálias relata que casos confirmados da doença são cada vez mais comuns no entreposto, embora não haja estatística formal sobre o assunto. “Aqui tem gente demais e posso afirmar que pelo menos oito pessoas foram infectadas pela covid-19. Alguns, mesmo doentes, continuaram a frequentar os estabelecimentos. Algo tem que ser feito”, reforça.
Enquanto isso, trabalhadores de bancas na chamada Pedra do Produtor, galpão onde há intensa circulação de pessoas, ressaltam que não tem acesso à medidas protetivas de higienização ofertadas pela administração, como álcool gel ou sabonetes. A vendedora Adriana Pires relata que, ao chegar, por volta das 3h da madrugada, precisa trabalhar no escuro, pois as luzes ainda não estão ligadas e o acesso ao álcool gel e sabonetes ainda não é possível.
“Até ligar a luz já sujamos a mão. Não tem sabão para limpar as mãos. Só água pura”, sublinha. O posicionamento é compartilhado pelo produtor Wesley Ferreira. Ele salienta que ao chegar, às 4h da manhã, não tem o material para limpeza, porém, considera que as responsabilidades precisam ser compartilhadas. “Acho que todo mundo poderia ajudar trazendo o seu. Não é tão caro e é fácil de carregar”, afirma.
Ponto de vista
O comerciante Luiz Henrique, no entanto, tem uma opinião diferente dos demais. Ele enfatiza que a administração tem feito o necessário para que a pandemia tenha menor impacto possível no Ceasa. Ele lembra que há medição de temperatura na entrada, disponibilidade de álcool gel e monitoramento de oxigenação entre os trabalhadores.
Ele diz que houve queda de pelo menos 30% vendas no comércio local, mas que vem tentando segurar o quadro de funcionários diminuindo a margem de lucros. “Tenho funcionários que estão comigo há 15, 20 anos. Não posso deixá-los desamparados. Então a gente faz a nossa parte”, afirma.
Apesar da discordância inicial sobre a efetividade da contenção da crise pela administração, Adriana, Wesley e Luiz concordam que o trabalho precisa continuar.
Administração
Para manter o Ceasa em funcionamento durante a pandemia, a administração afirma ter instado 15 pias e oito torneiras para a higienização das mãos dos trabalhadores em pontos estratégicos. Além disso, faz a medição de temperatura de quem entra no local, disponibiliza álcool gel na portaria para todos que entram e, seguindo decreto estadual, monitora o uso de máscaras por todos que estão na central.
Ainda alega ter distribuído 3 mil sabonetes individuais, sempre orientando o público para a necessidade de higienizar bem as mãos. Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, vacinou contra a gripe influenza grupos prioritários que frequentam o entreposto.
Resposta
Sobre o acesso dos trabalhadores que chegam de madrugada aos produtos de higiene, a administração, por meio da assessoria de comunicação, explicou que o funcionamento Ceasa começa a partir das 5h da manhã, quando as luzes são acesas. Os produtores no local comercializando antes desse horário estão fora do horário normal.
A administração também disse que a medição da temperatura começa a partir das 4 horas da manhã, quando é liberado o acesso ao entreposto. Durante toda a manhã, os profissionais de enfermagem continuam o trabalho na portaria e, quando solicitados, vão até boxes para atendimento.