Crise

Transição entre OSs na gestão do Hugo provoca “caos” com sujeira e falta de medicamentos

Relatos partem de enfermeiras e sindicato ouvidos pelo Mais Goiás. Unidade carece de maqueiros, anestesistas, auxiliares de limpeza e materiais cirúrgicos. Trabalhadores temem ficar sem salários e benefícios

Falta de medicamentos, sujeira, lixo acumulado, roupas de cama há uma semana sem trocar, ambiente propício à proliferação de infecções hospitalares, além de funcionários inseguros e insatisfeitos. Esta é a situação em que o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) se encontra no período de transição de Organizações Sociais (OSs). Enquanto o Instituto Gerir se afastará da administração na segunda-feira (26), a empresa Haver assumirá a gestão no dia seguinte. Porém, até que a troca se concretize, trabalhadores e sindicato apontam a Secretaria de Estado da Saúde (SES) como corresponsável pelos problemas.

De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde), Flaviana Alves, “está tudo super complicado” porque, mesmo antes do encerramento do contrato, “a gerir já parou com tudo”. “A Haver não pode tomar conta porque ainda não assumiu. A SES diz que está fazendo de tudo, mas pelo caos no qual a unidade se encontra, é lógico que falta coisa. Enquanto isso, a Gerir não fala nada além de que tem dinheiro a receber do Estado”.

Sem reposição de roupas de cama, pacientes precisam levar lençóis e cobertores de casa, aumentando riscos de infecção (Foto: Leitor/Mais Goiás)

Alves também critica a falta de diálogo do governo com entidades e funcionários para tratar de salários e benefícios ainda não pagos e também sobre o futuro dos trabalhadores com a troca de gestão. “Muitos, como anestesistas e maqueiros, estão paralisados, sem receber. Quem saiu de férias em novembro ainda não recebeu bônus e quem rescindiu contrato com a Gerir, não teve seu acerto depositado. O Estado não nos chama para dialogar, não toma iniciativa para fazer um plano emergencial. Age por conta própria, de forma muito radical. Está todo mundo inseguro em relação aos empregos. É um desrespeito”.

“No escuro”

Técnica de enfermagem da unidade – a qual pediu para não ter o nome divulgado – revela preocupação com salários e benefícios atrasados. “Ninguém nos diz nada, estamos no escuro. Não sabemos se precisamos procurar emprego, se seremos admitidos pela próxima OS ou se receberemos vencimentos e bônus em atraso”.

Ela ressalta ainda que lixeiras estão transbordando por falta de pessoal da limpeza e que a sujeira, causada pela parca manutenção, tem oferecido riscos de infecção. “Há muito lixo, roupas de cama sem lavar há uma semana, pacientes tem que trazer de casa. Falta antibióticos e anti-inflamatórios e risco de infecção é eminente”.

Com funcionários da limpeza cumprindo aviso, lixeiras transbordam no Hugo (Foto: leitor/Mais Goiás)

Ainda, falta papel toalha, higiênico entre outros materiais. “Ninguém recolhe nada porque muitos funcionários da limpeza estão cumprindo aviso. Essa situação gerou um caso de infecção na mão de um paciente que teve que ir para um hospital particular, com medo de ter a mão amputada. Estava desesperado”.

(Foto: leitor/Mais Goiás)

Centro Cirúrgico

Enfermeira do Centro Cirúrgico do Hugo, que também pediu para ter a identidade preservada, sublinha que a situação do departamento não está tão caótica, apesar da paralisação de anestesistas, maqueiros e falta de materiais cirúrgicos. “Aqui não está sujo e não falta remédios, mas não há lençol e cobrimos a mesa de cirurgia com sacos plásticos”.

Como não há lençóis, mesa cirúrgica é coberta com saco plástico (Foto: leitor/Mais Goiás)

Por falta de pagamento, empresas que fornecem materiais para procedimentos deixaram o Hugo sem estoque. “Estamos sem perfurador, fios, placas, pinos e parafusos para cirurgias ortopédicas, sem falar que todas as cirurgias eletivas foram canceladas. Só estamos fazendo as de urgência”.

SES

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) afirma que vem tomando “todas as medidas necessárias para manter a normalidade do atendimento” no Hugo, que nos últimos dias tem registrado “problemas pontuais”, com paralisações de alguns serviços. “A SES garante, no entanto, que nenhum atendimento de urgência e emergência deixou – nem deixará – de ser prestado, em virtude de ser esse o perfil do hospital. A paralisação de maqueiros do Hugo é parcial, como forma de pressão para repasse de recursos, que seguirão conforme os cronogramas da SES, em conjunto com a Sefaz. A lavanderia funciona normalmente”.

Ainda de acordo com o documento, a SES “tem repassado à Gerir os recursos necessários para a manutenção da unidade. E acrescenta que mantém o diálogo contínuo com a OS para que esses recursos sejam repassados com agilidade ao hospital, garantindo a continuidade dos serviços até o momento em que ocorrer a passagem da gestão para a nova OS – o Instituto Haver, que assumirá a unidade na próxima terça-feira, 27, a partir da zero hora, para dar continuidade à normalidade do serviço prestado no Hugo”.

Gerir

Também por meio de nota, o Instituto Gerir, afirma informa que a SES lhe deve R$ 54.183.831,85, “Sendo que, desde total, o Estado já informou que não pagará R$ 21 milhões, alegando suposto descumprimento de metas por parte da OS. A própria justiça federal, em reiteradas decisões, já reconheceu que é impossível manter as metas pactuadas entre o Gerir e a SES para as duas unidades, diante dos constantes atrasos de repasses do governo à OS – e que motivaram esta última a solicitar, no dia 26 de outubro, a rescisão do contrato de gestão”.

No mês de novembro, o Instituto Gerir revela ter recebido da SES somente R$ 5 milhões para o Hugo. “Os valores são insuficientes para o custeio de todas as despesas das duas unidades e esta informação foi levada por diversas vezes ao conhecimento dos gestores da pasta e à comissão por ela criada, para acompanhar os pagamentos a fornecedores, terceirizados e colaboradores”.

Assessoria de Comunicação – Instituto Gerir

Goiânia, 23 de novembro de 2018