MISTERIOSA

Tratamento de hepatite desconhecida é “de suporte”, diz médico. “Corrigir o que não está bem”

Em Goiás, existe um caso suspeito de hepatite grave de causa desconhecida. No Brasil, ao…

Em Goiás, existe um caso suspeito de hepatite grave de causa desconhecida. No Brasil, ao todo, são 46, segundo Ministério da Saúde, e no mundo, 350, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o médico hepatologista Rafael Ximenes, essa “hepatite misteriosa” não tem tratamento específico, apenas suporte para combater os problemas específicos.

“Ver o que não está bem tentar corrigir.” De acordo com ele, casos mais graves têm alterações renais e de coagulação. “Então, suporte aos órgãos que não estão bem. Para o momento, as medidas de prevenção são importantes, como higienizar as mãos e ter cuidados com os alimentos”, destacou.

Além disso, ele afirma que o diferencial dela em relação as conhecidas (A, B, C, D e E) é a gravidade aparente. “Aparente”, pois dos mais de 300 casos já foram registradas seis mortes, o que seria uma porcentagem alta. Ele, contudo, acredita que o número de contaminados seja subnotificados, uma vez que as pessoas só buscam ajuda médica nos casos são mais graves.

Esta hepatite misteriosa tem afetado, em sua maioria, crianças e adolescentes até 16 anos, ele revela. A hepatite infantil, como normalmente é chamada a A, é a que mais se assemelha com esta. Ela é a mais branda e pode se curar sem tratamento, destaca o médico. Por isso, Rafael acredita que haja subnotificação de casos e que somente os mais graves apareçam. “A maioria teve A e nem sabe”, argumenta com base no cotidiano.

Hepatite

Rafael explica que hepatite é qualquer inflamação ou lesão no fígado. Elas são geralmente causadas por vírus ou doenças autoimunes. Os sintomas são, geralmente, vômito, diarreia e dor abdominal. Mas coriza e tosse também são possíveis.

E ele destaca os tipos. “A hepatite A é causada por água ou alimento contaminado. A B por relação sexual ou mesmo questão parental. A C, parental. A D vem junto com D e a E é a parecida com a A, mas é rara no Brasil”, resume.

Segundo ele, as hepatites B e C são controladas por antivirais. As A e E, resolução espontânea. Ainda de acordo com o médico, a cura da C ocorre em mais de 90% dos casos tratados. No caso da B, é possível controlar mais de 90%, mas é preciso tomar remédio para sempre. “A e B têm vacinação. A primeira dose da B na maternidade e a A tem recomendação no primeiro ano. Adultos que não se vacinaram podem ter casos graves da A.”

Teorias

Mas de volta a hepatite desconhecida, existe a probabilidade dela ter relação ao adenovírus – que também transmite por água e alimentos. “Este causa infecção intestinal e respiratória, que a hepatite também pode causar. Mas vimos em pessoas com imunidade baixa, o que não é o caso.”

Ele ressalta, então, que a teoria seria a participação do vírus da Covid. “Ou infecção conjunta (com o adenovírus), ou depois da Covid, quando o adenovírus levaria à hepatite”, diz uma das teses. “É menos provável, mas no Reino Unido, onde houve o alerta inicial, verificam a chance de associação de outro vírus ou medicamento”, complementa.

Sobre esta doença se tornar uma pandemia, ele não acredita. Segundo Rafael, nos Estados Unidos descobriram que os primeiros casos são de outubro do ano passado. Até o momento, conforme observa, os casos graves são relativamente poucos.

Caso em Goiás

A Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) monitora um caso suspeito de hepatite grave de causa desconhecida em uma menina de 2 anos. A criança é moradora de Aparecida de Goiânia e está internada na capital. A pasta recebeu a notificação no último sábado (14) e detalhou que a garota apresenta, até o momento, estado de saúde regular.

A pasta goiana explica que, para classificar um caso como suspeito ou provável da doença de causa desconhecida, é preciso, antes, descartar outros tipos de hepatites e doenças de base. O que ainda não se aplica ao caso em investigação da menina de 2 anos, que ainda vai realizar exames para os tipos conhecidos de hepatite.

Caso apresente sintomas como dor abdominal intensa, diarréia, vômitos e icterícia, a Secretaria de Saúde Goiás pede para que procure um hospital para realizar testes e descartar ou não o caso de hepatite aguda.

Hepatite grave de causa desconhecida pelo mundo

Nesta semana, a OMS informou que existem aproximadamente 350 casos prováveis de hepatite de origem misteriosa. Foram notificados casos em 20 países, com 70 casos adicionais de outros 13 países que estão pendentes de classificação, à espera da conclusão dos testes.

Alguns países, entre eles o Reino Unido, por exemplo, acharam o adenovírus e o sars-cov como agentes causadores deste tipo de hepatite. Porém, “a vacinação contra a Covid-19 não é a causa” da doença, segundo Jay Butler, subdiretor do departamento de doenças infecciosas dos Centros para Prevenção e Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês).

No entanto, não foi descartada como possível causa a infecção por Covid-19.