Tratamento precoce contra covid-19 pode lesionar fígado, diz médico goiano
Ao longo desta pandemia, muito tem se dito sobre o “tratamento precoce” da Covid-19. Tratam-se…
Ao longo desta pandemia, muito tem se dito sobre o “tratamento precoce” da Covid-19. Tratam-se de remédios que, se tomados durante o começo da doença, teriam a capacidade de reduzir os sintomas ou até mesmo evitar que a doença evolua para um quadro mais grave. O próprio governo federal tem apostado nessa tese e, até janeiro de 2021, gastou quase R$ 90 milhões com a compra desses remédios, de acordo com levantamento da BBC Brasil.
Apesar disso, não há comprovação científica de que medicamentos como a cloroquina, hidroxicloroquina, azitomicina ou ivermectina tem eficácia contra a Covid-19. Além disso, elas tem efeitos colaterais e contraindicações, podendo causar lesões no fígado.
Em entrevista ao Mais Goiás, o médico Rafael Oliveira Ximenes, especialista em hepatologia, explicou que os medicamentos utilizados para o chamado tratamento precoce não só não resolvem o problema, como podem causar doenças hepáticas.
“No caso da ivermectina, não existem estudos que comprovem a eficácia no tratamento de Covid-19”, disse Rafael. “Já a azitromecina e a cloroquina são comprovadamente ineficazes. Dessas três drogas, a azitromicina é a que mais causa lesões hepáticas. Nos casos da cloroquina e da hidroxicloroquina existem casos relacionados”.
Quanto à ivermectina, o médico ressaltou que pode haver lesões, especialmente da forma como está sendo usada. “Normalmente essa droga é ministrada em dose única, e não em uso prolongado, como tem sido tomado. Além disso, nos casos em que ela causa lesões no fígado, isso costuma acontecer depois de um tempo. O uso continuado realmente preocupa e pode agravar esse caso”, pontuou.
O médico ressaltou ainda que a principal medida em casos de sintomas de Covid-19 é seguir as orientações das autoridades de saúde. “Entendo que todo mundo gostaria que houvesse um remédio que pudesse curar essa doença, mas não existe. Talvez nunca exista. Os tratamentos para casos graves da doença são feitos em regime hospitalar. Por isso, o mais importante é evitar a automedicação”.
Covid-19 e doenças hepáticas
O coronavírus é conhecido por atacar e causar problemas nas vias respiratórias dos pacientes. Mas ele pode danificar outros órgãos e o fígado é um deles. “Existem alguns casos tanto de problemas hepáticos causados pela própria doença quanto em problemas indiretos, como uma infecção grave ou problemas respiratórios”, disse o médico.
Além disso, doenças hepáticas podem ser um fator de risco. Casos como cirrose ou esteatose (gordura no fígado) podem causar problemas, principalmente porque vem acompanhados de outras doenças como excesso de peso e diabetes.
Vacinação
Apesar de sérias, as doenças hepáticas não são um problema ara quem for se vacinar contra Covid-19. “É até recomendado, dado os problemas de saúde que a pessoa já tem. A única observação são as pessoas que passaram por transplantes de fígado. Nos três primeiros meses após o procedimento, são prescritos uma série de remédios que abaixam a imunidade e isso pode ser um problema. Mas depois desse período não há problema nenhum em se vacinar”, concluiu Rafael.