Goiânia Noise: último dia teve alguns problemas e Raimundos
A terceira e última noite do 23º Goiânia Noise Festival teve tudo o que poderia…
A terceira e última noite do 23º Goiânia Noise Festival teve tudo o que poderia consagrar um grande festival – atrasos, problemas técnicos e shows que levantaram a galera durante as 8 horas de música. O evento, que aconteceu no Jaó Music Hall, reuniu durante três dias amantes do rock, lojas personalizadas com artigos voltado para o estilo e uma variedade culinária em foods trucks.
A primeira banda, Acéfalos, subiu pontualmente às 17h no palco 1. Pela primeira vez no evento, a banda é formada por três irmãos – Jofer, Vanderlei e Lincon -, que moram no Bairro Feliz, na Capital. Lincon, o irmão mais velho, contou que a família sempre admirou o cenário do rock goiano e que participar pela primeira vez do festival foi a realização de um grande sonho. “Criamos a banda porque gostávamos de rock pesado. Em Goiânia, tem muitas bandas de amigos que a gente curte. Com o intuito de estar nos circuitos de rock, tocamos o nosso som, que fala sobre as dificuldades do ser humano de hoje, de países de terceiro mundo, sobre cultura e tecnologia. O Goiânia Noise era um dos nossos objetivos e esperamos voltar mais vezes.”, ressaltou.
Light River Company, que fez estreia no festival goiano, foi a segunda banda a animar a galera. Quando o grupo subiu no palco a quantidade de pessoas no local já havia aumentado. Enfrentando alguns problemas técnicos, a banda trouxe um repertório autoral em inglês e encerrou com solos de guitarra que levaram o público a “bater cabeça”. Lacerda, o guitarrista da banda, conta que há dois anos o grupo se apresenta em diversos festivais e que a participação no Goiânia Noise foi algo marcante na carreira deles.
“Foi uma experiência “inenarrável”- alusão a uma fala do vocalista da Dogman, amigo da banda-, apesar dos problemas técnicos, foi bacana.” , comenta. O guitarrista comenta que a banda começou fazendo covers, mas quando ele ficou desempregado, optou a levar a música a sério e passou a compor canções. “Eu estava desempregado e queria criar uma empresa. Escolhi a música como forma de trabalho. De início, nós fazíamos somente covers, mas depois de um entrosamento, o autoral foi surgindo. Como criamos uma companhia na música, o nome deriva daí: Companhia do Rio da Luz.” , brinca Lacerda.
Em seguida, os goianos da DogMan trouxeram um repertório carregado no estilo heavy metal. O público não parou durante a meia hora em que a banda esteve em cima do palco 1. Com performances únicas, todos os integrantes do grupo transitaram pelo palco em cenários que fizeram diferença no show. Em determinado momento, o vocalista Haig Berberian tirou a camisa para fazer tributo a banda britânica The Animals, com a música House of the Rising Sun.
“Nossa primeira vez neste festival foi em 2014. Nós estamos realizados de poder tocar aqui de novo, é sempre muito bom. É um festival muito importante, porque pessoas da imprensa especializada estão aqui e o público sempre comparece.” , afirma Berberian. O vocalista conta ainda que acredita no público goiano amante de rock, mas ele também acredita que a quantidade de pessoas interessadas diminuiu. “Acho que estamos conseguindo agradar o pessoal. Goiânia já teve melhor de público, isso é inegável. Mas sempre que tocamos recebemos muito carinho, então eu acho que estamos fazendo certo.”, frisa.
De fora
RedMess foi a primeira atração de fora do estado. A banda que é de Londrina, no Paraná, tem pouco tempo de estrada, mas chegou trazendo o que se tem mais de comum no rock, o metal. Com isso, o público estava totalmente animado com a entrada da banda, que fizeram cerca de dois minutos de introdução com apenas guitarra e bateria. O trabalho apresentado é autoral e inédito. O vocalista da banda, Thiago Franzim, ressaltou a importância do festival para a cultura rock. “É muito legal a oportunidade de participar de um dos maiores festivais de rock do Brasil. Nós já conhecíamos o evento e esse ano viemos tocar nele. Goiânia é uma cidade muito hospitaleira para o rock.”, diz.
Os mineiros da banda Os Gringos foram a quinta apresentação da noite e agitaram o público de um jeito diferente. O vocalista João Luís Castillhos trouxe um visual hippie que fez sucesso com as execuções das músicas. A banda é formada por quatro americanos e somente um brasileiro puro. O gerupo também sofreu com alguns problemas no equipamento de retorno.
João Luís, elogiou a estrutura do evento e contou um pouco sobre a formação da banda. “Foi ótimo tocar aqui. Ensaiamos bastante e percebi que o público estava balançando com a gente. A banda é formada por 4 americanos. Eu sou de Connecticut, Jimmy, que é o guitarrista, é de Ohio, Daniel, também guitarrista, é de Indiana e Justin, que é o baixista, é de Oregon. Daniel, o único brasileiro puro, é mineiro de Iatjubá. Nos conhecemos em Uberaba para dar aula de inglês e começamos a trabalhar na mesma escola. Daí, conversamos e decidimos tocar. Foi assim nasceu a banda”. João Luis destaca sobre o seu estilo. “Sou formado em Filosofia também e vendo ela. Penso muito no meu alter ego e realizo minhas fantasias. Nunca usaria essa calça no dia a dia, mas quando subo no palco, sinto algo diferente e gosto de passar isso para as pessoas”, explica.
Os portugueses da banda The Dirty Coal Train fizeram grande sucesso com o público. Única banda da noite que contava com uma integrante mulher, o trio tocou sucessos em inglês. O pessoal ficou impressionado com o domínio de Beatriz Rodrigues na guitarra que, em diversos momentos, levou o público ao delírio a cada solo que fazia. Sua voz grave também fez a diferença no decorrer do show.
Na última música, o guitarrista e vocalista, Ricardo Ramos, foi para a galera que interagia com a banda. Beatriz foi em seguida e fez uma performance com direito até de se jogar no chão. A banda estava em turnê e passou em diversas cidades antes de pousar aqui na Capital. Essa foi a segunda vez do grupo no festival. “Foi um imenso prazer, somos sempre muito bem recebidos. Nós tentamos dar o máximo em termo de energia e acho que passamos isso”, ressalta Ricardo e Beatriz completa. “É um grande festival. Essa foi a última data da turnê que passou por Ribeirão Preto, Porto Alegre, Argentina e outros lugares. Estamos bem cansados e nada como acabar aqui essa maratona”.
Para Ricardo a interatividade com o público ocorre de maneira natural e não há diferença entre a banda e a plateia. “Nós não temos essas coisas de ter fãs, pois banda e povo estão no mesmo nível. Somos pessoas normais que tocam um som que agradam o povo. E isso não ocorre de forma proposital, a gente não marca isso. Se ocorre é porque sentimos a energia”, comenta Ricardo.
Beatriz trouxe a seriedade e determinação quando questionada sobre o espaço da mulher no cenário do rock. “A mulher na música é como o homem na música, tem a força que quer ter, tem a presença que quer ter, faz o que quiser fazer. Basicamente, eu faço o que eu quero fazer. Trabalho para isso. Eu acho que estamos ao mesmo nível.”, finaliza.
A banda ucraniana Stoned Jesus foi a segunda atração internacional da noite e iniciou com um estilo de rock mais suave. A galera que curtiu o show vibrou bastante nos momentos de solos e pausas que o baterista e guitarristas propuseram, levando a galera sem perder o espírito metaleiro.
Rocca Vegas se apresentaram logo em seguida no palco 2. A banda cearense apresentou um repertório autoral e mostrou que o Ceará não é somente a terra do humor ou de belas praias, mas também lugar de rock. A banda fez sucesso ao apresentar a música inédita Antiheroi, que caiu na graça do público que estavam cantando os versos mais fácies.
A goiana Sheena Ye também animou a noite do festival. Com um estilo metaleiro, a banda iniciou seu show de uma forma diferente, o diálogo entre duas pessoas em inglês e logo em cima a batida do rock que a galera aguardava. A banda trouxe alguns sucessos que estavam na boca do povo, como Tudo volta para você. A banda foi mais uma das que sofreu com problemas técnicos, como o som que pipocava às vezes, mas nada que tirou a animação do público.
“Por isso que o rock nunca vai morrer”
A banda mais aguardada da noite foi os Raimundos. Digão, Canisso, Marquim e Caio subiram pontualmente no palco e apresentaram vários sucessos como Mulher de Fases, Be a Bá, Me lambe, O pão da minha prima e 20 e poucos anos.
A banda também fez covers de músicas do Queen, Nirvana e Metallica. Digão elogiou a cidade e disse que Goiânia é uma das capitais mais roqueiras do Brasil e ainda frisou. “Por isso que o rock nunca vai morrer. Isso é um movimento, não é uma modinha escrota que aparece todo dia”, disse Digão durante o show.
Digão ainda criticou o cenário da música atual que, segundo ele, é gerido por um cartel que compra rádios e o mercado fonográfico, com o objetivo de promover uma nova indústria musical, desfavorecendo os outros estilos, como o rock.
Como encerramento, a banda tocou Eu quero ver o Oco e criticou o atual cenário político do País. Digão ainda levantou a galera com um discurso de esperança por um mundo melhor. A banda foi aclamada pelo público, que recebeu as palhetas que foram utilizadas no show. Mesmo não estando mais no palco, o público ainda gritava do nome da banda.
O encontro do Relespública com Edgard Scandurra, guitarrista do Ira, ocorreu após o show dos Raimundos. A apresentação sofreu atraso porque o Relespública perdeu o voo. Às 23h45, duas horas e meia depois do previsto, o show começou. O grupo tocou sucessos do Ira e alguns sucessos autorais da Relespública. O evento terminou às 00h50.
Público e Serviço
Durante os três dias de eventos, o público pode conferir diversas opções de interatividade como o Estúdio Noise, que encerrou o evento com mais quatro bandas. Chef Wong’s, Rural Killers, Armum e Woolloongabbas, que apresentaram sucessos à galera de modo intimista no local.
O espaço para alimentação estava bastante variado. Porém, para alguns expositores, as vendas não foram como aguardavam. Segundo Vinícius Henrique, dono do Vira Lata Hot Dog, a média de venda não foi como a do ano passado, mas gostou de ter participado do evento. “Eu participo já faz 10 anos e sempre é assim, uns anos são bons, outros nem tanto. Mas o evento tá legal, tá bacana. Boa organização.”, frisa.
Além das opções de alimentação, o festival contou com o espaço Bazar Rock, que trouxe artigos decorativos, camisetas, CDs e DVDs das bandas que se apresentaram no local e de grandes nomes nacionais, durante os três dias de eventos. A expositora e comerciante Nihorainy Cardoso trouxe discos de vinis decorativos para vender no evento. Dona da “Disco Lado”, a comerciante gostou de participar do evento durante os três dias e que o movimento foi melhorando sucessivamente. “No primeiro dia, o movimento se deu mais para conhecer os produtos, juntamente com o segundo. Hoje para as vendas está sendo o melhor dia, pois o público espera as promoções e a gente acaba se alternado para estar atendendo as expectativas.”, ressalta.
Nihorainy também falou que preferiu o local onde o evento foi realizado no ano passado, o Centro Cultural Oscar Niemeyer. “Noo Oscar [Niemeyer] o espaço era maior, a nossa concepção foi de que as vendas foram melhores em vista deste ano. Além do espaço ser abrangente, a localização é mais acessível que aqui.”, detalha.
A mesma reclamação foi feira por Lander Franco. Fã dos Raimundos, ele elogiou a organização, mas também preferia a realização feita no Oscar Niemeyer. “Por causa do espaço que existe lá, eu acabei levando meus filhos que amam andar de skate. Nesse aspecto, no CCON é mais vantajoso.”, ressalta.
Outras pessoas curtiram tudo e já querem retornar de novo no evento, como é o caso das amigas Tatiana Chagas e Isabela Siqueira. As duas elogiaram por completo a organização. Pela apresentação do Pato Fu, sábado foi o dia mais aguardado por elas. “ O evento está bom, bem organizado. Escolheram muito bem as bandas e as opções de comidas atentem muito bem.”, diz Tatiana. Isabela ainda completou. “Ontem, Pato Fu foi perfeito, foi o que a gente mais estava esperando. Hoje viemos prestigiar DogMan e Raimundos. Nossa presença no ano que vem, está mais que garantida.”, termina.
*João Paulo Alexandre é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo