Uma das áreas embargadas em ação em Cavalcante foi a do prefeito
Josemar Saraiva Freira afirma que só soube que a licença ambiental não valia no momento da autuação; foi multado em R$ 184 mil
O desmatamento ilegal do cerrado segue como problema em Cavalcante. No começo do mês foram 530 hectares em áreas do território do quilombo Kalunga. Desde segunda-feira (22), o governo de Goiás, por meio de equipes da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), com apoio das forças policiais, atua para conter a destruição de áreas nativas e de atividades de mineração sem licença em 24 alvos. A área total é de 2.500 hectares.
Um dessas áreas é do prefeito Josemar Saraiva Freire (PSD), que diz ter sido pego de surpresa, uma vez que tinha licença. “O trator não era meu, mas a área sim”, revelou ao Mais Goiás. O gestor que possui uma fazenda com 480 hectares na região. Segundo ele, os funcionários estavam na posse de uma licença ambiental do município, tirada em 2019, mas foram informados que ela não valia. A limpeza seria feita em 40 hectares. “Em área de cerrado, mas fora de território Kalunga e sem nascentes próximas”, garantiu. “Só soube que não podia depois que fui autuado.”
Josemar foi multado em R$ 184 mil e teve a área embargada. Ele diz que, quando notificado, irá recorrer. Mas por enquanto, esta desolado. “Nem sei o que posso fazer. Hoje nem tenho coragem de ir lá. Meu funcionário até pediu conta.”
Território Kalunga
No começo do mês, a Semad realizou uma operação no território Kalunga. O dano ambiental de 530 hectares foi constatado na Fazenda Alagoas e foram responsabilizados a mineradora Apoena Mineração e Comércio e, ainda, a produtora rural Maria de Lourdes Hlebanja. As multas foram superiores a R$ 5 milhões.
Sobre as ações do começo do mês, Josemar afirma que o território só é dos Kalungas quando indenizar. “Enquanto não indeniza, é do proprietário.” Ele cita que o município é um dos mais preservados do Estado, com inúmeras reservas permanentes, dada a sua área acidentada sem possibilidade de exploração. “Então, em algumas poucas veias é possível mexer, mas isso é totalmente engessado”, minimiza alguns desmates.
Segundo ele, os alvos da operação são terras que não são utilizadas nem pelos próprios quilombolas. Além disso, ele afirma que membros de algumas comunidades veem as fazendas, inclusive, como fonte de trabalho. “Precisamos das águas, do cerrado, mas também precisamos tirar o sustento da terra. Tudo que consumimos na cidade vem de fora. Temos condições de fazer aqui com sustentabilidade”, avalia.
Semad
“Estamos preparando as autuações para todos os ilícitos”, afirma o coordenador das atividades Robson Disarz, superintendente de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, ao ressaltar que a “pronta ação conteve danos maiores”. Já a secretária de Meio Ambiente, Andréa Vulcanis, reforçou a tolerância zero do governo em relação aos desmatamento.
“Vamos acabar com essa cultura da impunidade. O cerrado goiano e sua biodiversidade não podem mais ficar à mercê de atividades ilícitas. Essa situação, além de constituir em danos ambientais sem precedentes, também compromete a economia de Goiás, baseada em atividades sustentáveis que tem suas licenças e autorizações ambientais para funcionar adequadamente.”
A ação teve início após alertas de imagens processadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e também por denúncias.