Umbandista denuncia que sofreu intolerância religiosa dentro de delegacia, em Goiânia
O religioso tentou prestar queixa de intolerância religiosa na 9ºDP e sofreu o mesmo crime no local
Um umbandista denuncia que sofreu intolerância religiosa dentro da 9º Delegacia de Polícia Civil, no Setor Universitário, em Goiânia. Ele narra que foi ao local para prestar queixa de um caso de intolerância sofrido na rua e foi vítima do mesmo crime, por parte do delegado. Segundo o homem, o registro da ocorrência foi negado e ele só conseguiu fazê-lo após comparecer ao Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância da Polícia Civil (Geacri).
O homem, que não quis se identificar por temer represálias, afirma que sofreu intolerância religiosa na última quarta-feira (9), a caminho de um Centro Espírita que frequenta, no Setor Universitário. Um dia após o crime, ele foi até a 9º Delegacia de Polícia para prestar queixa, mas teve o registro de ocorrência negado.
Vítima sofreu intolerância religiosa em delegacia após mostrar colares usados na Umbanda
Ao chegar na 9ª DP, o religioso relatou que foi vítima de perseguição. Segundo ele, agressores o chamaram de ‘macumbeiro’ e disseram que suas guias – longos colares com contas usados na religião – eram coisa do demônio. “Falei do ocorrido para um agente da Polícia e ele disse que chamaria o delegado”, declarou.
Ao delegado, o religioso mostrou as guias e disse que foi perseguido apenas porque utilizava os objetos no pescoço. “No momento em que mostrei as guias, o delegado começou a se alterar e gritar comigo. Dizia que aqueles colares eram usados por “adoradores do Satanás”, relata o homem.
Delegado sugeriu à vítima que ela tinha sido atacada por “espíritos”
Segundo o relato do religioso, o delegado chegou a perguntar se ele havia fotografado os agressores e sugeriu que o homem havia sido perseguido por espíritos.
“Ele [delegado] perguntou se eu tinha tirado foto dos caras que me perseguiam e se eu tinha certeza de que eram mesmo pessoas ou se eram os ‘espíritos do cão’, que estavam vindo para me buscar”, disse a vítima.
Em vez de registrar a ocorrência, o delegado teria dito que o homem deveria “ajoelhar e orar” para que “Deus o salvasse” de práticas religiosas ‘erradas’ e poderiam prejudicá-lo. Além disso, segundo o religioso, a fala do delegado revelou que não é a primeira vez que o crime de intolerância religiosa foi cometido dentro da delegacia.
“Ele me disse que algumas pessoas chegam até lá com relatos parecidos, e que, na verdade, são só ‘vultos e espíritos que ficam perturbando a cabeça dessas pessoas porque elas mexem com o diabo’”, contou a vítima.
Na ocasião, o homem questionou se o delegado não estava sendo rude. Segundo o religioso, neste momento, o responsável pela delegacia começou a gritar novamente, deu as costas e foi embora.
Vítima teve registro de ocorrência negado dentro da 9ºDP
Ao questionar o agente de Polícia sobre a possibilidade de registrar o crime de intolerância sofrido na rua, o religioso foi informado de que o delegado não permitiria o registro da ocorrência por falta de provas.
Ao Mais Goiás, a Polícia Civil alegou que o delegado da 9° DP não vislumbrou elementos suficientes para configuração do crime narrado pela vítima. O delegado refuta a informação do homem e alega que o religioso foi devidamente atendido.
Em nota de repúdio, a Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de Goiás (FUCEG) prestou solidariedade aos crimes de intolerância religiosa denunciados pelo homem. Afirmou que o incidente que ocorreu fora da delegacia tem fortes indícios de natureza criminosa e que o homem sofreu o mesmo crime pelo delegado da 9º DP. A federação diz ainda que tomará as providências cabíveis ao caso.