Valério Filho relembra dor de perder o pai há 10 anos: “não tenho mais aquele ombro amigo”
Advogado e filho de Valério Luiz afirma que família não viveu o luto da forma devida em razão da violência do crime e da demora pela justiça
A morte do radialista Valério Luiz completou 10 anos na última terça-feira (5). O profissional foi assassinado quando saía do trabalho no Setor Bueno, em julho de 2012. Ao Mais Goiás, o advogado Valério Filho relembrou a dor de perder o pai tão precocemente e de uma maneira violenta. “Sempre foi meu conselheiro e não tenho mais esse ombro amigo”, lamentou.
De acordo com Valério Filho, a vida da família foi completamente mudada depois do assassinato. Ele lembra que a irmã mais velha estava grávida e deu à luz um mês após o crime. “Meu pai não pôde ver seu primeiro neto. Hoje tenho um filho e minha irmã mais nova também. Meu pai tem três netos e não viu nenhum”, disse.
O advogado diz que o radialista não viu progressos acadêmicos e profissionais dos filhos. “Quando meu pai faleceu, eu tinha acabado de formar e pegar a OAB. Gostaria de ter tido o acompanhamento dele na minha vida adulta e como profissional. Não foi possível”.
Família não vive o luto
Valério Filho classificou como “muito pesado” a violência do crime e fato de o assassinato ter completado 10 anos sem o julgamento dos acusados. Segundo ele, tais fatos impedem a família de viver o luto.
“A gente tem lembranças positivas com relação ao meu pai, mas isso é de certa forma ofuscado pela revolta pelo modo como foi tirado de nós. De forma violenta, humilhante. Da forma que mata a outra daquele jeito, na porta de seu trabalho, está mandando uma mensagem de que a pessoa que exterminada não vale nada. Faz aquilo achando que vai se livrar. É como se dissesse: ‘olha o que eu faço e vocês não vão conseguir fazer nada comigo’”.
Busca por justiça continua
À reportagem, Valério Filho também lamentou os sucessivos adiamentos do julgamento do caso. Ao todo, o Júri já foi adiado por quatro vezes. Na última vez, em junho de 2022, houve quebra de isolamento por parte de um jurado, que afirmou ter passado mal. A sessão de julgamento já havia começado. Uma nova sessão foi marcada para novembro deste ano.
De acordo com o advogado, tais adiamentos são cansativos e revoltantes. “Cria em nós um sentimento ruim, de que as coisas podem sair do controle. Temos medo de que os advogados dos réus consigam manipular alguma coisa para que os jurados não vejam a verdade”, disse.
Apesar da demora, Valério Filho afirma que a família segue firme e com esperança na luta por justiça. “Temos certeza de que, se a lei for cumprida e as provas mostradas de forma transparente, não vai ter outro caminho se não a justiça e condenação de todos. É algo que precisa acontecer em respeito à memória do meu pai; do meu avô, que se foi sem ver a justiça sendo feita, e em respeito a todos os goianos que viram a trajetória do meu pai ser interrompida com aquela violência infinita”.
Relembre o crime cometido contra Valério Luiz
O assassinato foi cometido por volta das 14 horas do dia 5 de julho de 2012, na Rua T-38, no Setor Bueno, a poucos metros da emissora em que Valério Luiz trabalhava.
Os denunciados pelo Ministério Público são: Ademá Figuerêdo Aguiar Filho, Djalma Gomes da Silva, Marcus Vinícius Pereira Xavier, Maurício Borges Sampaio e Urbano de Carvalho Malta.
Segundo o MP, o inquérito policial apurou que Ademá Figuerêdo Aguiar Filho, em “conluio, repartição de tarefas e contando com a participação dos demais denunciados, efetuou vários tiros em Valério Luiz de Oliveira, causando-lhe a morte imediata”.
Críticas feitas pelo radialista teriam motivado o crime
De acordo com o Ministério Público, foi apurado que as constantes e enfáticas críticas que Valério Luiz de Oliveira fazia à diretoria do Atlético Clube Goianiense, no exercício da profissão de jornalista e radialista esportivo, nos programas Jornal de Debates, da Rádio Jornal 820 AM, e Mais Esporte, da PUC-TV, teriam desagradado o empresário Maurício Sampaio, que era dirigente do clube de futebol.
Os comentários da vítima geraram acirrada animosidade e desentendimentos, segundo a denúncia apresentada.
Segundo a investigação, no dia 17 de junho de 2012, em meio aos comentários que a vítima fazia no programa Mais Esporte, ao falar a respeito de possível desligamento de Maurício Sampaio do Atlético, a diretoria do clube proibiu a entrada das equipes jornalísticas nas dependências do estádio.
Conforme narra a denúncia, Maurício Sampaio teria se ofendido e passou a almejar a morte da vítima. A denúncia aponta que o empresário fez o planejamento do crime em conjunto com Ademá Figuerêdo e Djalma da Silva, que contou com o auxílio de Urbano Malta.
Este último mantinha vínculo de amizade, profissional e de trabalho com Sampaio, e, inclusive morava sem pagar aluguel em uma casa do empresário, localizada em frente ao local onde ocorreu o homicídio.