Varíola dos macacos: o que se sabe sobre transmissão, sintomas e tratamento
Presidente da Sociedade Goiana de Infectologia, Christiane Kobal, esclarece dúvidas
Goiás tem, até o momento, cinco casos suspeitos da doença popularmente conhecida como varíola dos macacos. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), ainda não há confirmações da doença no território goiano. No entanto, ainda há muita desinformação e confusão acerca da transmissão do vírus, os sintomas e formas de tratamento. Prova disso, é que em Senador Canedo pessoas estão atacando macacos por medo de se contaminarem pela doença.
Pensando nisso, o Mais Goiás conversou com a presidente da Sociedade Goiana de Infectologia, Christiane Kobal, afim de esclarecer as principais dúvidas sobre a varíola dos macacos.
Varíola dos macacos: o que é?
A infectologista Christiane Kobal explica que a varíola dos macacos é transmitida pelo vírus monkeypox, que pertence ao gênero orthopoxvirus. Inicialmente, ela era considerada uma zoonose viral, ou seja, um vírus que é transmitido aos seres humanos a partir de animais, entre eles, roedores selvagens. Porém, os casos da doença conhecidos atualmente foram, majoritariamente, transmitidos de pessoa para pessoa.
“A partir do momento que a pessoa começou a sentir os sintomas ela já está transmitindo a doença. É fundamental explicar isso! Se o paciente estiver com aquelas vesículas, que podemos chamar de bolhas de águas, espalhadas pela pele, ele está transmitindo. Quando essas bolhas estão secas, o paciente continua transmitindo a doença. Só para de transmitir a doença quando não houver mais sinais da doença no corpo da pessoa”, afirma.
Outro fator importante, segundo a infectologista, é que assim que o paciente começar a sentir os sintomas e for diagnosticado com a doença ele deve ficar isolado, em quarententa. O tempo de isolamento vai depender da recuperação do paciente. “Pode ser que dure 14 dias ou 30 dias, depende de cada pessoa”, afirma Christiane.
É também uma doença de letalidade baixa, ou seja, não costuma matar. O maior risco de agravamento acontece, em geral, para pessoas imunossuprimidas com HIV/AIDS, leucemia, linfoma, metástase, transplantados, pessoas com doenças autoimunes, gestantes, lactantes e crianças com menos de 8 anos de idade.
Varíola dos Macacos não é varíola
De acordo com a Christiane Kobal, também é importante esclarecer que a doença chamada hoje de varíola dos macacos não tem qualquer ligação com a varíola que o mundo já conheceu. Isso porque, elas possuem vírus diferentes. Além disso, a varíola é uma doença considerada erradicada em todo mundo. A OMS afirma que o último caso conhecido de varíola foi registrado na Somália, em 1977.
“A tal ‘varíola dos macacos’ não é varíola. São vírus diferentes. Esse nome é super errado! Nós não temos varíola no mundo, ela foi erradicada. Era uma doença gravíssima, que matou pessoas no mundo inteiro. Essa doença que o mundo está conhecendo agora tem letalidade super baixa. Elas não tem nada a ver uma com a outra“, explica a especialista.
O nome
Segundo a infectologista, o nome varíola dos macacos surgiu em 1958, quando o vírus foi isolado pela primeira vez. Na época, os pesquisadores utilizaram um macaco cinomolgo (Macaca fascicularis), espécie natural da Ásia. Por esse motivo, o patógeno acabou levando o nome de monkeypox – já que monkey no inglês quer dizer macaco – e, na língua inglesa, a doença foi batizada com o mesmo título. Em português, foi feita a tradução, e o diagnóstico recebeu o nome utilizado hoje de varíola dos macacos.
Entretanto, a maioria dos animais suscetíveis a este tipo de varíola são roedores, como ratos e cão-da-pradaria. Os macacos não transmitem a doença e, inclusive, também são vítimas dela.
Justamente por conta dessa confusão e de uma série de problemas discriminatórios que ocorreram por ele, a OMS anunciou que vai mudar os nomes do vírus causadores da varíola dos macacos, de suas variantes e até mesmo da própria doença.
Transmissão
A especialista explica que a varíola dos macacos é transmitida pelo contato próximo com uma pessoa infectada e com lesões de pele.
O contato pode ser por abraço, beijo, massagens ou relações sexuais. A doença também é transmitida por secreções respiratórias e pelo contato com objetos, tecidos (roupas, roupas de cama ou toalhas) e superfícies utilizadas pelo doente.
Depois da infecção, leva-se geralmente de 5 a 21 dias para os primeiros sintomas surgirem.
Sintomas
De acordo com Christiane, os principais sintomas da varíola dos macacos são:
- Febre;
- Dor de cabeça;
- Dores musculares;
- Dor nas costas;
- Gânglios (linfonodos) inchados (íngua);
- Calafrios;
- Exaustão;
- Surgimento de vesículas na pele;
Tratamento
A infectologista explica que, de modo geral, nos casos leves, a infecção passa por conta própria. Em casos mais graves, geralmente ocorridos em crianças ou em paciente imunosuprimidos, drogas antivirais também podem ajudar.
Porém, vale dizer que esse medicamentos e a vacina específicos contra a doença não estão no Brasil e, caso necessário, serão importados para cá.
“Acho que essa doença provavelmente não terá a dimensão de COVID -19 visto transmissão ser um pouco mais difícil. Hoje, os casos estão extremante relacionados ao contato íntimo, especialmente o sexual, e também mantendo transmissão respiratória e por contato com as lesões de pele. Mas temos vacina e antivirais fora do país se precisarmos emergencialmente”, afirma a especialista.