Veterinária afirma que vida mudou após a agressão cometida por personal trainer
A médica veterinária agredida pelo personal trainer e ex-namorado, Murilo de Morais Segurado, afirmou, em audiência…
A médica veterinária agredida pelo personal trainer e ex-namorado, Murilo de Morais Segurado, afirmou, em audiência de instrução realizada na manhã desta quinta-feira (21), que sua vida mudou após o caso de violência, o qual foi registrado por câmera de segurança. A oitiva ocorre na 3ª Vara dos Crimes Dolosos Contra a Vida, presidida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara.
A vítima falou por cerca de meia hora e alegou que, em razão do espancamento, precisou fechar um laboratório veterinário montado por ela há cerca de dois anos e meio. “Foi necessária uma cirurgia no meu braço esquerdo e a colocação de platina com mais sete parafusos. Ao chegar no hospital, fui informada que a lesão afetou um nervo periférico, o que me fez perder a sensibilidade e força motora no meu braço”.
A mulher destacou ainda que o tratamento, que consiste em 40 sessões de fisioterapia, levará de oito meses a um ano. Ela, que tomou socos e ponta-pés, revelou ainda que passou cinco dias internada. Ela se emocionou ao relembrar o dia das agressões. “Ele me batia na cabeça. Parece que eu não estava ali. Só minha alma. Ele não parava. Ouvi um senhor gritando: ‘Você vai matar ela! O senhor vai matar ela!’. Então ouvi um tiro e as agressões pararam”, ressalta.
Um dos laudos apresentados pela defesa da vítima destaca que a necessidade dos procedimentos cirúrgicos e do tempo de fisioterapia. O documento é assinado por um traumato-ortopedista, no último dia 10 de setembro.
“Declaro que os devidos finais e efeitos que a paciente acima encontra-se em tratamento após a fratura dos ossos no antebraço […] após agressão física. Passou o tratamento cirúrgico da lesão sendo necessária a osteossíntese com placas e parafusos. Incapaz para suas atividades no momento e permanecerá assim por tempo indeterminado”, atesta o documento.
Outro laudo, assinado pelo mesmo médico e datado no último dia 19 de novembro, destaca que o braço da mulher apresentou algumas melhoras, mas que ainda é acompanhada pelos médicos. “Declaro para os devidos fins e efeitos que a paciente acima encontra-se sob os nossos cuidados médicos por fratura dos ossos do antebraço esquerdo […] associado a lesão neurológica […] após ser vítima de agressão física. Paciente em reabilitação funcional, porém ainda com alteração de força no membro acometido”, observa o médico.
Surpresa
A vítima alegou em depoimento contou que conheceu Murilo em uma academia na qual ele trabalhava, situada nas proximidades do local das agressões, Setor Eldorado. Isso, segundo a veterinária, há quatro anos e meio.
Apesar do longo relacionamento, ela disse ter recebido com surpresa a informação de que Murillo já tinha registro criminal por injúria cometida contra outra mulher. Mas afirmou que, em outras ocasiões, o personal teria esboçado outros comportamentos agressivos. “Nem eu e nem a minha família sabíamos dessas passagens. Isso me fez ficar ainda com mais medo. Ele iria me matar e fiquei muito revoltada quando soube da liberdade dele, que ocorreu sem nenhum tipo de monitoramento”, pontou.
Antes do ato de violência, a veterinária afirmou que tinha “um sentimento por ele” e que desde o caso, ele nunca mais a procurou. Durante a audiência, o personal trainer confessou as agressões, mas negou que teve a intenção de matar a médica veterinária. Em uma rápida entrevista com a imprensa, ele disse que está arrependido e que reconhece o erro. “Isso não é da minha índole. Eu tive uma boa criação e sinto vergonha de ver aquelas imagens [do sistema de monitoramento que flagraram as agressões]. Naquele momento, eu estava completamente fora de mim”, afirmou.
Testemunhas de acusação
Três testemunhas de acusação foram ouvidas. O marceneiro Seleon Messias e uma moradora da região foram tidas como testemunhas oculares do fato. Ambos destacaram que viram o momento em que a vítima foi atingida por socos e chutes.
“Eu vi o momento em que ele deu um tapa nela. Antes disse, eu ainda comentei com a minha esposa que o casal iria brigar. Eu levei um susto porque ele era enorme. Eu comecei a gritar e socorri ela. Nesse momento, chegou o policial, se identificou e pediu para ele parar. Como não obedeceu, o policial efetuou o disparo para cima”, ressalta.
Já o policial militar que atendeu a ocorrência disse que encontrou a médica veterinária gritando e em prantos. Alegou também que a mesma reclamava de muita dor no braço. Ele também pontuou que uma das pessoas se identificou como policial civil e que o mesmo tinha dado o tiro com o intuito de advertência.
“Ele [PC] contou que pediu para que ele cessasse com as agressões, mas não foi obedecido. Com isso, ele alegou que sacou a arma e atirou para cima. Ele voltou ao local e a fizemos a prisão em flagrante. Ele não resistiu à prisão e foi levado à Central de Flagrantes”, pontua.
Policial Civil
O Policial civil Aurélio Augusto de Sousa Dias contou que a cena que ficou mais marcada naquela noite foi ver a vítima sendo atingida por chutes no rosto. Ele disse em depoimento que aguardava a filha descer quando viu um senhor do carro da frente pedir por ajuda. Ele destaca que desceu do veículo com arma e em punho e pediu para que Murilo parasse as agressões.
“Eu me identifiquei como policial, falei para ele para com as agressões, mas acho que ele não ouviu e eu fiz o disparo como forma de advertência. Eu fiz esse disparo pois em vários momentos ele ia para cima da vítima e voltava para o meu rumo. Eu tive receio dele pegar a minha arma pela forma que como ele estava”, ressalta.
Próximos passos
A audiência de instrução serve para a colheita de provas, segundo explica o juiz Jesseir Coelho de Alcântara. Os próximos passos serão abrir o tempo para o Ministério Público e a defesa apresentem memoriais. “Essas são as alegações finais no processo. Vindas essas alegações, eu vou decidir se ele vai ou não a júri popular”, ressalta.
O juiz destaca ainda que o acusado, que foi solto no último dia 22 de outubro após habeas corpus deferido pelo juiz José Paganucci Júnior, permanece em liberdade até a tramitação do processo. “Não há um novo motivo para pedir a prisão dele. A não ser que surja um fato novo que venha mudar o curso do processo”, finaliza.
*Matéria atualizada às 16h52 para inserção dos laudos.