Pesquisa

Violência contra a mulher: denúncias diminuíram 11,3% em relação a 2018

Enquanto no ano passado 63,6% afirmaram denunciar seus agressores, este ano foi um total de 52,3%

Pesquisa realizada pelo Mais Goiás em parceria com o Goiás Pesquisas aponta que as denúncias realizadas por mulheres vítimas de violência diminuíram 11,3% em relação a 2018. Enquanto no ano passado 63,6% afirmaram denunciar seus agressores, este ano foi um total de 52,3%. 618 mulheres foram entrevistadas durante os meses de junho e julho. Todas as entrevistadas são maiores de 18 anos e moradoras das cidades de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade.

Quando indagadas o porquê de não efetuarem denúncia, 20,8% afirmaram temer as consequências. 18,4% disseram que não confiam na capacidade do poder público em resolver a situação. Já 8,5% das entrevistadas responderam que não denunciaram para preservar a imagem do agressor.

 

Por outro lado, quanto às vítimas que prestaram queixa, 22,5% delas contaram que receberam apoio do poder público, entretanto, não o suficiente para resolver a situação. Em 2018, esse número correspondia a 28,6%. Parte das mulheres (13,3%) relataram à pesquisa que após denunciarem ter sido vítimas de violência, receberam apoio dos familiares, contudo os mesmos manifestaram defesa ao agressor. 5,6% receberam apoio de amigos. Há ainda a estatística das figuras femininas que buscaram apoio em instituições religiosas (10,9%), mas sob condições de manter a família.

O que é violência?

Para 59,8% das entrevistadas, violência consiste em agressão física. 20,6% disseram que é ofensa verbal ou moral. 6,7% responderam que é manipulação psicológica. Há quem acredite (4,2%) que é extorsão financeira. 4,8% apontaram que se trata de obrigação sexual. Mulheres que declararam não saber designar violência correspondem a 3,9% das pesquisadas.

Apesar do levantamento a respeito do conceito, 83,3% das mulheres revelaram que já foram vítimas ou conhecem alguém que tenha sido violentada. A agressão física lidera o ranking, correspondendo a 40,2%. Em seguida vem a verbal ou moral (21,1%), que precede a sexual (8,1%).

 

Possíveis soluções

De acordo com 63,4% das entrevistadas o maior empenho do poder público pode ser a saída para diminuição de casos de violência contra a mulher. 19,6% acredita que o caminho é a mudança cultural.

A castração química ou pena de morte, nos casos de estupro, seria a solução sob o ponto de vista de 11,7% das mulheres. Contrapondo esse dado, 5,3% afirmam que as denúncias deveriam ser apuradas com cautela e profissionalismo para, assim, evitar que homens sejam marginalizados.

“Você é feia, gorda e pobre. Estou te fazendo um favor de viver com você”

A frase deste intertítulo foi proferida à algumas entrevistadas da pesquisa. Há também quem tenha ouvido “você é burra demais e ninguém gosta de você, senão fosse eu, seria sozinha no mundo”, de seus companheiros.

Ameaças e violência psicológica são a realidade para 9,7% das mulheres da capital e Região Metropolitana. Elas são das mais variadas formas: chantagem de perder a guarda dos filhos caso peçam para se separar, dependência financeira, e até ameaça de traição caso as vítimas não supram os desejos sexuais dos parceiros.

Sidiana Soares, presidente do Centro Popular da Mulher (CPM) em Goiânia e também do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, analisa que as vítimas podem estar desacreditadas e por isso diminuíram as denúncias. “Devido ao machismo enraizado”, define.

Para ela, a Lei Maria da Penha é um avanço, contudo precisa ser adaptada para proporcionar mais segurança às vítimas de violência. Outro ponto destacado por Sidiana é a necessidade de maior alcance da rede de proteção, principalmente para com as mulheres periféricas.