Violência obstétrica em Goiás é tema do Mais Goiás.doc
Mulheres relatam suas experiências e traumas
O Mais Goiás.doc especial do Dia da Mulher traz relatos de mães que foram vítimas de violência obstétrica em Goiás. A violência obstétrica pode ser caracterizada por abusos verbais, físicos ou psicológicos a gestantes, mulheres em trabalho de parto ou durante o puerpério (pós-parto). Esse tipo de situação pode ser desencadeada por profissionais da saúde ou por qualquer pessoa que acompanhe a futura mãe durante esses três períodos. Assista ao documentário no final da matéria e veja os relatos emocionantes de mulheres que foram vítimas de violência obstétrica e como evitar esse tipo de situação.
A ginecologista e obstetra Dra. Annita Moraes acompanha as grávidas desde os primeiros meses de gestação, durante o nascimento do bebê e no pós-parto. Ela ressalta que esse tipo de violência pode ser cometido por qualquer pessoa que acompanhe a grávida durante estes períodos. Para ela, a melhor forma de evitar esses abusos é a gestante sempre procurar por informações. “A orientação é sempre bem-vinda”, disse. “Se a paciente acha que realmente viveu alguma violência, o melhor jeito de mudar tudo isso é denunciando”.
Diego Vieira de Mattos, enfermeiro obstetra, explica que em muitos casos, além da violência obstétrica, pode ocorrer também a violência neonatal. “A violência obstétrica pode ser direcionada propriamente à pessoa que é genitora. A violência neonatal é gerada diretamente com feto ou recém-nascido neste processo de assistência”.
Outro modo de evitar a violência obstétrica é a presença de doulas, segundo a médica. Em setembro de 2021, o Governo de Goiás sancionou uma lei que permite a presença dessas profissionais durante o parto vaginal ou cirurgia cesariana, desde o acolhimento e admissão da paciente até o pós-parto imediato.
O trabalho destas profissionais começa com encontros desde o pré-natal (para preparar a mãe e a pessoa que irá acompanhá-la para o trabalho de parto), acontece durante o parto e vai até o puerpério, é o que explica a doula Juliana Silva Rodrigues. Ela ressalta que as doulas não podem intervir ou repreender os médicos durante o processo de parto, mas ela pode alertar ao companheiro ou companheira da mulher para que ele ou ela faça algo.
Gabriela Cavalcanti Marques, conselheira diretiva da Associação de Doulas do Estado de Goiás, lembra que o papel da doula é muito importante já que as profissionais não estão ligadas à instituição ou à equipe técnica do hospital em que a mulher dará à luz. “Ela vai trazer informações de qualidade, baseadas em evidências científicas para essa mulher ter o conhecimento e saber escolher o que ela irá querer”, sublinha.
Violência obstétrica: dores, traumas e luto
Ayah Akili denuncia ter sido vítima de violência obstétrica e racismo em um hospital público de Aparecida de Goiânia, na região Metropolitana de Goiânia. O caso levou a morte da sua filha, Assata.
Ela conta que se sentiu mal durante toda sua gestação, mas que os dias que antecederam a morte da sua filha (33 semanas e 4 dias de gestação) foram os piores. A estudante de Direito disse que se sentia extremamente inchada e tinha dores de cabeça que não cessavam. Sempre que ia ao hospital, narra ela, era tratada com apatia pelos profissionais da unidade, que sempre alegavam que estava tudo bem com ela.
Durante um ultrassom de rotina, o médico afirmou não ter identificado os batimentos cardíacos da bebê. Ayah dirigiu-se até a maternidade de Aparecida, onde, relembra ela à equipe do Mais Goiás, viveu momentos de violência e descaso.
Assata veio a óbito e o caso segue em investigação para que as autoridades descubram qual foi a causa da morte da bebê.
A estudante diz que nunca imaginou tirar sua filha do seu ventre e ter que colocá-la dentro de um caixão. “Eu acho muito injusto ter enterrado uma criança tão pequenininha”, conta com os olhos cheios de lágrimas.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Aparecida informou que a paciente fazia pré-natal regularmente, mas que no dia 20 de outubro de 2021 deu entrada na Maternidade Marlene Teixeira após sentir fortes dores abdominais. Ela foi atendida e passou por exame de ultrassom por meio do qual recebeu o diagnóstico de óbito fetal. (Leia a nota completa na final da matéria).
Outro caso
A empresária Thaís Vieira de Sousa também denuncia ter sido vítima de violência obstétrica. O caso vivido por ela, porém, aconteceu em um hospital particular de Goiânia. Segundo ela, o médico que a atendeu a coagia para que fizesse uma cesariana, e não um parto normal, como ela havia planejado. Ela retrucou a fala do médico por diversas vezes e seu marido, vendo a situação, teve de intervir e pedir que o profissional atendesse o desejo da mulher.
Logo após a bebê nascer, Thaís sentiu fortes dores na vagina. Ela relata que reclamava para o médico das dores e do inchaço, mas ele sempre dizia que estava tudo normal. “Em parto normal, as pessoas saem de lá andando, eu saí de cadeiras de rodas. Não conseguia me movimentar de tão inchada que a minha vagina estava”.
Ela foi pra casa, mas, mesmo assim, continuou com fortes dores. Em outra maternidade indicada pela sua doula, a médica que atendeu ela disse que a sua sutura não havia sido bem feita. Segundo a profissional, a parede interna do útero e os lábios superiores de Thaís não haviam sido costurados. A empresária conta que sofreu risco de infecção generalizada e precisou refazer a sutura.
“O parto foi natural. Era para ter uma recuperação saudável do meu corpo”, relara com olhos cheios de lágrimas.
Assista ao documentário completo:
Nota da Prefeitura de Aparecida:
[olho author=””] “A Secretaria de Saúde de Aparecida esclarece que a paciente fazia pré-natal regularmente, mas que no dia 20 de outubro de 2021 deu entrada na Maternidade Marlene Teixeira após sentir fortes dores abdominais. Ela foi atendida e passou por exame de ultrassom por meio do qual recebeu o diagnóstico de óbito fetal.
A paciente então foi internada, às 17h52, para indução do trabalho de parto. Ela recebeu assistência multiprofissional conforme os protocolos da unidade e às 16h20 do dia 21 de outubro ocorreu o parto. O feto foi encaminhado para o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) para identificação da causa da morte.
A Secretaria informa que todo o atendimento prestado foi registrado em prontuário médico e que a paciente teve total acesso ao documento.
A Secretaria informa, por fim, que realizou sindicância para avaliar condutas técnicas e as denúncias apresentadas pela paciente de falta de humanização no atendimento. A investigação concluiu que não houve falhas na condução do caso.” [/olho]