Vontade louca de tomar uma vacina hoje
Início da vacinação no mundo embala sonhos de retorno a algum tipo de normalidade
Vou bater uma real para você: nunca quis tanto algo na minha vida na mesma intensidade que desejo essa vacina. Nada, em qualquer momento de meu passado, me fez ficar tão ansioso. Essa covid-19 está mexendo de verdade com as emoções da gente, né?
Nada que vivi chega perto do que sinto hoje. Nem o desespero pueril pelo primeiro beijo; nem a sede cheia de hormônios pela primeira relação sexual; nem a torcida suada na arquibancada do Serra Dourada pelo gol esmeraldino que classificaria o time para a próxima fase da Libertadores da América de 2006; nem o nervosismo ao ouvir a lista de aprovados do vestibular da UFG pela Rádio Universitária. Nada se compara ao meu furor pela vacina.
Eu estou igual ao Zeca Pagodinho: quero logo tomar injeção nos dois braços.
Quando vi aquela bela imagem da primeira idosa sendo imunizada no Reino Unido, uma chama de esperança se acendeu em meu peito. Mas me lembrei que moro no Brasil. E o fogo se apagou tão rápido quanto a combustão vagabunda de fósforo sem qualidade.
A luz vinda dos laboratórios mundo afora brilha no fim do túnel da pandemia para a humanidade. Menos para o Brasil. Aqui, nesse lugar longe demais de tudo, estamos afundados nas profundezas da caverna, dando porrada em quem fala da luz que vem de fora e gera alguma sombra disforme na parede. Uma lástima.
Enquanto o mundo já tem autorização científica para sonhar com cinema cheio, show muvucado, estádio de futebol apinhado de gente, bar lotado, aglomeração na feira, perdigotos ébrios trocados em abraços etílicos, nós continuamos atolados na mediocridade e no negacionismo.
E eu continuo no meu desejo por uma injeção no braço mais do que desejei qualquer outra coisa na minha vida.