Estamos precisando aprender ouvir para então, juntos podermos caminhar, e lutar.

Não queremos diálogo, queremos ter razão

Precisamos aprender dialogar

Há dois anos, a Pixar lançou um filme sensacional sobre inteligência emocional: Divertida Mente. E uma das abordagens do filme me veio muito à mente essa semana: a resistência da Alegria em dar espaço à Tristeza. Lembro-me que em uma das cenas, Bing Bong (amigo imaginário da protagonista) está muito triste e começa chorar. A personagem Tristeza, sob protestos da Alegria, senta-se ao seu lado e dá espaço para que ele fale do seu sentimento, e por dar espaço ao que sente e chorar, o personagem recobra as forças e volta para a aventura em que estavam dedicados.

Observo um movimento muito parecido com o da “Alegria” do filme em nossos debates nas redes sociais: não estamos preocupados em ouvir o outro, e sim, em forçá-lo a entrar em nossa frequência. A forçá-lo a nos dar razão. E é assim sempre, independente de qual lado estejamos, dificilmente estamos abertos para dar razão ao outro para que ele fale com toda a propriedade de seus sentimentos, como ele realmente se sente.

Me lembro que até pouco tempo, estávamos na era do felizão. Não se podia reclamar, era preciso estar feliz o tempo todo e escancarar isso em nossas postagens por perfis afora. Hoje em dia, estamos na sintonia da treta. Quanto mais treteiros e descontruidões, mais holofotes. É como se enfim, tivéssemos recebido coragem para soltar nossos demônios – e isso é maravilhoso! Mas será que não está na hora de sentarmos do lado de quem nos fala e entendermos porque dele se sentir como se sente, pensar como pensa e se expressar da forma agressiva como às vezes se expressa?

Temos transformado militâncias em guerras, com cercas de separação que nos segrega por cor, raça, sexo e afinidades. E entendo que é importante introduzirmos nos debates os contextos que nos cabem, para que os interlocutores sintam nossas dores e vice e versa. Mas, será que não há uma abordagem que não nos faça repetir os erros de outrora? Será que não há uma abordagem menos segregacionista e mais convergente?

Se eu apanhei quando era criança, me dá o direito automático de bater em meu filho quando eu o tiver? Se eu sofro discriminação, é o melhor caminho segregar para receber respeito?

Entendo que precisamos aprofundar a reflexão sobre nossa história vergonhosa para com os negros para que haja mudança efetiva, bem como sobre vários outros assuntos, como feminismo, homofobia e afins. E eu entendo que quanto mais machucada uma classe é, mais agressiva ela pode se tornar ao debater.

Então, será que após expurgar através do debate, da fala agressiva, todas as injustiças sofridas, será que podemos encontrar algum caminho que nos leve para a união, fim que deveria ser ambição de todos?

Às vezes, o que estamos precisando é aprender ouvir para então, juntos podermos caminhar, e lutar.