O que há em comum entre Carlos e você?
Carlos era um menino leve, de peso e de alma. Tinha um ar avoado e…
Carlos era um menino leve, de peso e de alma. Tinha um ar avoado e quatro graus de miopia. O avoado era porque vivia tentando pegar seu sonhos.
Quando criança almejava salvar o mundo. Queria ser cientista.
Com 17 anos, arrumou seu primeiro emprego. Sofreu bullying por causa do cabelo. Gostava por demais das madeixas até os ombros, mas por querer ainda mais fazer parte daquela tribo, cortou-as.
Sem condições de se mudar para a cidade onde havia seu curso universitário sonhado, prestou vestibular para administração. Aos 19, passou. Assim que ingressou na universidade, era constantemente vítima de chacota por conta da maneira que se vestia. Sempre avesso à tendências, tinha seu próprio jeito largado de trajar. jeito esse que até se tornaria tendência nos dias atuais, mas como hoje não é ontem, nem mesmo era a realidade daquele presente no qual vivia Carlos, mais uma vez ele abandonou algo que amava para se sentir incluso.
Antes mesmo de sair da Universidade, aplicado como era, já estava empregado em sua área.
Em seu novo trabalho, dois anos e duas festas depois, após repetidas brincadeiras pela sua risada estranha que lembrava um ronco de porco, tanto treinou que conseguiu aprender rir diferente, ou ao menos disfarçar quando o riso vinha frouxo demais na boca.
Na vida amorosa não colecionava nem tantos sucessos ou fracassos. Não tentava muito.
Se apaixonou uma, duas, três, quatro vezes. Era declarado e pouco dado a jogos. Foi traído pela primeira, desencontrou-se da segunda, a terceira, nunca chegaram sequer a namorar. ela fugiu quando ele se declarou. A quarta não chegou a ser paixão. Quando a conheceu, ja ria baixo, tinha o cabelo curto, se declarava menos e usava as roupas dentro dos padrões aceitáveis da sociedade. Ela se apaixonou pelo que ele lhe parecia. Ele aceitou o que nele ela encontrava. Sem muita cerimônia e ou a presença da instabilidade avassaladora comum da paixão, casaram-se dois anos após o primeiro olhar.
Hoje Carlos já nem se lembra mais que um dia quis ser cientista e salvar o mundo. Tem um bom carro, uma boa casa, dois filhos bonitos e é respeitado no trabalho e na vizinhança.
Carlos vive bem, embora tenha morrido 32 anos atrás.