Pessoas certas não existem
Tudo nesse mundo está em mutação. E esse é um dos nossos maiores presentes.
Igual a muita gente, já acreditei em pessoas certas. Pessoas certas não, “pessoas prontas”. O cara “pronto”, o emprego “pronto”, a situação “pronta”.
É, aquele/aquilo que já chega do jeitinho que você quer. Com a tatuagem na pele, o All Star no pé e a barba no tamanho certo, por fazer. É, o emprego com o salário certo, daquele jeito recheado, com o horário flexível sonhado e todas as dores de cabeça indesejadas fora da reta. É. A vida pronta. Mas como somos bobos ao querermos isso. Nada na vida está pronto. Tudo é construído, formado dia a dia, como feto no ventre, mas a nossa paciência raramente nos permite vivenciarmos o processo da transformação.
Porque ficar com o cara até ele se formar pode ser tempo demais. Porque aceitar o emprego que você vai começar de “baixo” é inadmissível demais. Porque arriscar já ciente que haverá um preço é incômodo demais. Então, preferimos os fast-foods da vida. O rápido, o pronto, o pra agora. E embarcamos em empregos de promessas mirabolantes, climas de trabalho odiosos, mas um salário gorducho e uma função que sequer estamos preparados para assumir. Embarcamos em relações com pessoas prontas, do jeitinho que queremos e depois não entendemos o porque do nosso interesse ou o da pessoa acaba. Claro, pensar que sequer um gosto musical foi construído juntos é óbvio demais, é melhor pensar que é falta de sorte mesmo, hora errada e blá,blá,blá.
A gente tem preguiça de gente que curte outro estilo que nós, e mal nos lembramos, porém, que a maioria das pessoas desconhecem muita coisa. Temos preguiça se o cara usa aquele sapato redondo escroto que o faz parecer um pirralho da oitava série. Claro, dane-se se ele é bacana, carinhoso e inteligente, aquele sapato não nos desce. Claro, não podemos ver além, ou quem sabe dar um “guarda-pé” bacaninha ou um all star como uma surpresinha besta. É mais fácil dispensar porque o “cara não faz nosso estilo”.
A garota pode ser linda, mas não conhece aqueles cantores e escritores fodásticos que você adora, então, já perde com isso meio crédito. Quem sabe sirva, sei lá, de cobertor de orelha da noite e só. Não passa pela sua cabeça que ela pode simplesmente nunca ter ouvido falar dos tais fodões. As pessoas podem ser ótimas, mas não basta serem ótimas, precisam ser prontas.
Eu já tentei muito encaixar as pessoas e coisas na minha forminha de perfeição, até enfim entender que de fato, pessoas prontas não existem. Haverá sempre aquele pormenor pra nos fazer desistir de tentarmos, gostando cada vez mais da ideia de esperar o próximo, quem sabe menos complicado. Haverá sempre aquele sapo pra se engolir no trampo pra nos fazer ter uma vontade danada de chutar o pau da barraca. Mas, se a vida está em constante construção diária, que egoísmo é o nosso querer que as pessoas, essas, tão aprendizes e incorrigivelmente humanos como nós, venham “prontas”.
Nada está pronto, e por assim o ser podemos criar um futuro de acordo com o que quisermos, e que é bem aí que está a beleza da vida: se permitir construir.
Esse é um dos textos do meu livro “Enquanto você não vem”. Para conhecê-lo, clique aqui.