Quem roubou nossa coragem?
Enquanto o medo "move", a vida corre.
“Eu tento, oh, meu Deus, como eu tento
Eu tento o tempo todo
Nesta instituição
E eu rezo, oh, meu Deus, como eu rezo
Eu rezo todo santo dia
Por uma revolução”
What’s Up – 4 Non Blondes
Talvez more na falta de coragem de assumir as próprias vontades e os próprios traços, o cerne de todos nossos fracassos, frustrações e preconceito. Em um mundo de tantos subterfúgios, tanta festa bonita do melhor retrato de si mesmo, é quase uma desonra mostrar como somos maltrapilhos por dentro.
É tanto medo dos nossos medos serem descobertos, tanta regra pra ser poço profundo, tanta vasilha pra se caber, que a gente anda vestindo camisa de força pra dormir. “Preciso ser assim”, “preciso ser assado”. “Não posso demonstrar isso”, “pra entrar naquele espaço, vou estabelecer pedágio”. É tanta coragem pra estabelecer regras que escondam o medo, que estabelecer relações com “máquinas” – como no filme Her – parece uma ilusão mais viável, mas ainda assim, uma ilusão.
Nem sempre nossas trocas de energia serão boas. Algumas pessoas surgirão em nossas vidas apenas para nos mostrar o quanto precisamos melhorar. Outras, pra nos lembrar do quanto nossa visão de evolução pode ser falha se ela nos fizer não perceber que às vezes é preciso diminuir só um pouquinho o passo pra poder olhar nos olhos – e pegar nas mãos – de quem a vida nos colocou do lado. Tem gente que vai entrar em nossa vida só para nos mostrar o quanto precisamos nos desconstruir, desfazer velhos conceitos e repensarmos a forma como nos comportamos na vida.
Vemos, dia após dia, pessoas começando a semana reclamando porque já é segunda de novo – como se a felicidade morasse apenas nos finais de semana. Ouvimos, sábado após sábado, amigas chorando pelos mesmos problemas de seus relacionamentos abusivos, sem conseguirem se dar conta do quão são pássaros com capacidade pra voar. Vemos quem faz da reclamação uma rotina porque é mais simples que tomar uma atitude. Vemos pessoas incríveis, com sonhos incríveis, em vidas medíocres por medo de tentar.
Gosto de observar a perspicácia dos gatos. A capacidade de andar na corda bamba, de andar na cara do seu maior medo, olhar e correr quando preciso.
Gosto de observar as crianças, o ar de encantamento a cada descoberta. A coragem para o que não conhecem. A ânsia em descobrir cada vez mais e mais.
Olho e me lembro de Linda Perry, que um dia perguntou em sua popular canção “What’s Up: O que está acontecendo?
Medo, Linda. Aprendemos ter medo. Andamos com muito medo, Linda.