Política

Sinto muito

Sai Dilma, entra Temer, e a esperança, você viu por aí?

Eu sinto muito que a primeira mulher presidente do Brasil, seja a segunda em nossa história a sofrer um processo de Impeachment.

Sinto por alguém que mesmo tendo uma história de coragem e resistência, tenha sido escolhida para concorrer ao Governo do país – e ganhado – sem ter um pingo de aptidão para gestão ou discursar, raramente conseguindo concluir uma frase com coesão e coerência.

Sinto por terem feito isso com você, Dilma. Por terem te levantado como peão para manter um partido no Governo, mesmo você não tendo nem um pouco de carisma para liderar – e sim, política é isso também. Sinto muito pelas piadas infames, pelas brincadeiras desrespeitosas e machistas que você, uma senhora de 68 anos, quase da idade da minha avó, vem sofrendo. Sinto por zombarem da sua história e da sua dor até mesmo no plenário. Sinto muito e torço para que você use da compaixão ao olhar para essa população que já cansada do descaso, acaba não respeitando o ser humano nessa busca feroz por mudança.

Eu sinto muito que o partido que mais trabalha com a conveniência, e se daria até mesmo ao diabo, se assim fizesse necessário, seja o que chega mais uma vez ao poder, sem ser com voto direto da população. Sinto muito pelas amizades que foram para o esgoto graças a tanta revolta represada.

Eu sinto muito pelos que dão carteirada de conhecimento e acreditam que somente os letrados em política podem opinar, e esquecem que mesmo muitos absurdos saindo da “boca” dos leigos, são esses mesmos “leigos” que elegem todos que aí estão, e que é sempre em um bom diálogo saudável, que o conhecimento é repassado.

Sinto muito pelos que zombam do interlocutor sem perceber que isso não o faz nem um pouco melhor ou maior.

Sinto muito pela ausência de mulheres nos Ministérios do Temer, sinto muito por todo esse processo tão violento e traumatizante. Estávamos na lama antes, fomos para o lodo agora.

Eu sinto muito por nosso país, que ainda vai rastejar um bom tempo até voltar andar.

Só não sinto muito pelo Cunha, que antes tarde, que nunca, deixou a cadeira que nunca deveria ter ocupado. Não sinto muito também pela justiça, que mesmo várias vezes tendenciosa, tem representado bem seu papel, ainda que as vezes seja unicamente ato ensaiado para que a plateia não atire tomates no palco. Só não sinto muito também pela esperança, que mesmo na lama, ainda se mantém viva.

Mas por nós todos, que tanto temos debatido, e continuaremos a nos “debater”, eu sinto. Muito.