Carnaval/RJ

Beija-Flor é campeã do Carnaval do Rio com desfile politizado

Com o título, a Beija-Flor repete feito de 2003, quando fez um Carnaval em homenagem ao então presidente Lula, que acabara de assumir. Foi o último desfile de tom político no Rio de Janeiro.

A Beija-Flor veio para chocar com um desfile de tom político e conquistou o título deste ano do Grupo Especial do Carnaval do Rio nesta quarta-feira (14).

A agremiação de Nilópolis fez sucesso com o público, que seguiu cantando o samba após o fim do desfile e chegou a receber até aplausos de um grupo de jurados, com um enredo que teceu críticas à corrupção no Brasil.

Com o título, a Beija-Flor repete feito de 2003, quando fez um Carnaval em homenagem ao então presidente Lula, que acabara de assumir. Foi o último desfile de tom político no Rio de Janeiro. A passagem da escola pela Marquês de Sapucaí foi um desfile-manifesto. Um dos carros, que teve como tema o “caos social” no Brasil, apresentou a estátua de um pedinte bêbado e presidiários com telefones celulares.

O que mais chamou a atenção no Carnaval deste ano na Sapucaí foi a quantidade e a veemência de críticas sociais apresentadas pela escola.

A começar pela Beija-Flor, que, nas palavras do pesquisador de Carnaval Fabio Fabato, colocou na avenida um desfile na linha “contra tudo o que está aí”. Havia fantasias criticando impostos altos, uma alegoria representando a Petrobras, ratos em referência a políticos e encenações da rotina de violência no Rio, com representações de crianças em caixões e mães chorando por seus filhos policiais mortos.

DESFILE-PROTESTO

Com o enredo com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco, todo o desfile Mangueira da Mangueira foi uma resposta ao Prefeito Marcelo Crivella, tido como inimigo do Carnaval. A escola usou uma imagem forte, do Prefeito Marcelo Crivella (PRB), como Judas, enforcado.

O desfile confirma que o carnavalesco Leandro Vieira é, hoje, o principal personagem do Carnaval do Rio.

A Mangueira foi a única escola a assumir frontalmente uma oposição à gestão municipal.

Diante do que vê como um distanciamento do público dos desfiles, Vieira acredita que a saída seja falar de cultura popular. No ano passado, falou de fé; neste ano, falou do próprio Carnaval, mas o de rua, com blocos em carros alegóricos e referências a tradições como os bate-bola, nome pelo qual são conhecidos os foliões que tomam os subúrbios do Rio com uma algazarra de gritos, fogos de artifício e o som de bolas se chocando contra o asfalto.

A pequena escola Paraíso do Tuiuti, que só entrou para o Grupo Especial em 2017, lembrou os 130 anos da Lei Áurea (1888), questionando se a escravidão foi, de fato, extinta no Brasil.

A comissão de frente, talvez a mais marcante do Carnaval, trazia uma coreografia de escravos amordaçados trazidos da África se transformando em pretos-velhos.

O último carro do desfile trouxe um destaque fantasiado do presidente Michel Temer (MDB) como “vampiro neoliberalista”.

A ala Manifestoches tinha componentes fantasiados de patos, sugerindo que manifestantes foram fantoches em protestos políticos.

Outra ala lembrava do trabalho informal, numa referência explícita à reforma trabalhista.