‘Levei um fora por ser geminiano’: as pessoas que baseiam relacionamentos em signos
O químico Taciano Santos, de 27 anos, conta que ficou surpreso com o rumo da…
O químico Taciano Santos, de 27 anos, conta que ficou surpreso com o rumo da conversa com uma pessoa que havia conhecido em um aplicativo de relacionamentos. Eles mantiveram contato durante algumas semanas e Taciano comenta que estavam se dando bem, até que falaram sobre signos.
“Quando eu disse que sou geminiano, a pessoa me deletou do WhatsApp”, diz o químico à BBC News Brasil. A pessoa argumentou, conforme Taciano, que alguém do signo de gêmeos poderia causar confusão em sua vida.
Taciano conta que, a princípio, riu da situação porque pensou que fosse brincadeira. Mas diz que se assustou quando percebeu que era algo sério e que a pessoa não queria mais manter contato.
Segundo Taciano, o episódio ocorreu há mais de dois anos e foi uma situação marcante porque ele nunca havia se sentido rejeitado por causa de seu signo. “Já ouvi coisas boas sobre gêmeos, mas na maioria das vezes o retorno é negativo e ouço piadinhas. Porém, não havia vivenciado algo nessa intensidade”, comenta.
Não é difícil achar quem diga que o signo é critério para um relacionamento. Em uma busca nas redes sociais, é possível encontrar inúmeros comentários de pessoas que dizem evitar parceiros de determinados signos.
Seja aquário, gêmeos, capricórnio, ariano ou qualquer outro, nenhum signo escapa nas redes: todos são alvos de algum tipo de crítica sobre relacionamentos.
Nesses comentários, muitos consideram experiências ruins que tiveram com pessoas de determinados signos como o principal critério para definir com quais não devem se envolver.
Em uma pesquisa feita pelo aplicativo de relacionamentos Badoo, na qual foram ouvidos 1.248 usuários da plataforma no Brasil em setembro de 2020, 44% dos entrevistados afirmaram que a compatibilidade do signo é um fator importante para definir com quem namorar.
Ainda conforme essa pesquisa do Badoo, 20% dos entrevistados admitiram que se corresponderam com outras pessoas por causa do signo.
Mas especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que usar o signo como critério para um relacionamento pode ser um impeditivo.
“É preciso tomar cuidado se essa busca de critérios excessivos, como o de signos, não é um movimento de se autosabotar porque passou por relacionamentos ruins antes”, aponta o psicólogo Fellipe Augusto de Lima, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
Até aqueles que estudam sobre a astrologia destacam que o signo não deve ser adotado como critério fundamental para definir uma relação (leia mais abaixo).
Signos e relacionamentos
Definida por estudiosos da área como um conhecimento milenar, a astrologia surgiu a partir da análise dos ciclos dos astros e das fases da lua, que foram divididos em 12 unidades, hoje conhecidas como os signos do zodíaco.
Enquanto é relegada por alguns ou até classificada como “pseudociência”, outros consideram que a astrologia é um conhecimento fundamental e a utilizam para atribuir características às pessoas ou até definir aspectos da vida.
A jornalista Juliana Fernandes, de 30 anos, é um exemplo de quem considera o signo como essencial em sua vida. “Eu uso para me relacionar com todas as pessoas, seja no trabalho, nas amizades, na família ou relacionamentos amorosos”, afirma à BBC News Brasil.
Ela diz que passou a levar isso em consideração após um “pé na bunda bem dolorido”, que demorou anos para superar. “Eu buscava motivos para entender o porquê de ele ter terminado comigo. Ele é de peixes. Um dia vi que libra (meu signo) e peixes não combinam muito amorosamente. Daí em diante comecei a ficar curiosa e ler mais sobre astrologia”, comenta.
Juliana considera que a astrologia é uma forma de apoio para entender as pessoas. “Me ajuda a lidar melhor com as diferenças”, diz.
Ela afirma que nunca deixou de se relacionar por causa do signo de alguém. Porém, admite que tem preferências. “Os meus favoritos são touro e sagitário. Sempre dou certo com pessoas de touro, me dou bem com o jeito deles. E adoro a alegria e espontaneidade de sagitário, sempre para cima, alegre, topa tudo. Mas, em geral, gosto de quase todos”, declara.
O comportamento daqueles que consideram o signo como fator importante em um relacionamento pode causar estranheza em quem não dá a mesma importância ao tema.
Ao contar que foi rejeitado por ser de gêmeos, o químico Taciano diz ter ficado preocupado com a forma como a astrologia pode ser encarada em um relacionamento. “Estão levando o signo muito a sério, como se definisse tudo. Reduzem as experiências e a personalidade de alguém a isso”, afirma.
“Eu gosto de conversar sobre signos, mas na mesa de bar, por exemplo, não como algo sério”, acrescenta Taciano.
‘Só vai saber quem é o companheiro ao ser conectar’
O psicólogo Fellipe Augusto de Lima já atendeu pacientes que tinham a astrologia como item fundamental em um relacionamento. Ele aponta que isso ocorre porque essas pessoas querem segurança na relação e acreditam que o signo pode descrever a personalidade de alguém ou até mesmo o futuro de um relacionamento.
“São pessoas que não querem mais determinado signo porque tiveram uma experiência negativa. É como se a pessoa tivesse vivido um relacionamento com um virginiano, que pode ter sido alguém controlador e um pouco mais rígido. Por isso, vai querer, de certa forma, não se relacionar com mais ninguém do signo como uma tentativa de fazer dar certo”, comenta.
Segundo ele, essa postura pode causar problemas. “Isso pode levar a pessoa à evitação social, ela começa a ficar hipervigilante em relação ao signo. E quando ela está conhecendo alguém e esse indivíduo apresenta uma característica atribuída a um signo que possa desagradá-la, ela pode perder o interesse”, explica o psicólogo. “E essa pessoa que considera o signo como fundamental pode se sentir deprimida e achar que nada vai dar certo pra ela”, acrescenta.
O especialista ressalta que somente é possível conhecer uma pessoa ao conversar com ela e sem presumir as suas características em razão do signo. “O signo fica no campo hipotético. A pessoa só vai saber, de fato, quem é o possível companheiro ao se conectar com ele. Só assim vai saber se é alguém pra sua vida ou não”, afirma.
Lima pontua que os signos não são ferramentas adotadas na psicologia. “Pode ser indicador de características para a população em geral, mas nós não usamos”, diz. “Na psicologia há, por exemplo, a avaliação da personalidade, por meio de aplicação de entrevistas clínicas, conhecimento sobre o histórico de vida e conhecendo melhor a família”, detalha.
Mesmo considerando que é uma postura equivocada, o psicólogo afirma que é pouco provável que aqueles que usam o signo como critério fundamental para um relacionamento deixem de fazer isso. “Hoje, os aplicativos e as redes sociais disseminam muito essa ideia e faz com que as pessoas se sintam seguras nessa linha”, declara.
‘Não precisam levar muito a sério’
A atendente de telemarketing Jhuany Monique, de 20 anos, considerava o signo como uma informação importante para um relacionamento. Há anos, ela ouve diariamente as atualizações sobre horóscopo no rádio. “Quando falam as cores indicadas para o dia, sempre procuro ter algo dessa cor. Melhor prevenir do que remediar”, comenta, aos risos.
Ela, que é de áries, afirma que tinha receio de se relacionar com pessoas de alguns signos, entre eles o de gêmeos, por acreditar que não seriam confiáveis.
Quando conheceu Ruan César, em 2019, Jhuany diz que logo ficou com “um pé atrás”, pois descobriu que ele é geminiano. “Mas continuamos juntos”, conta.
Eles começaram a namorar e a jovem engravidou pouco depois. A data do nascimento do filho trouxe mais uma surpresa para ela: o garoto também é geminiano. “Ele estava previsto para 11 de maio, no caso seria taurino. Mas ele “esperou” até o dia 21 de maio pra nascer, justamente no primeiro dia de gêmeos”, diz Jhuany, aos risos.
A jovem continua acompanhando sobre os signos diariamente, mas afirma que mudou a forma como enxerga o tema em um relacionamento. “Não precisam levar isso muito a sério. Cada pessoa tem a sua própria personalidade e caráter”, observa Jhuany.