Lulu Santos faz show catártico para toda forma de amor em turnê
O álbum é o relato das fases de um relacionamento, "as estações da paixão", segundo ele. "Radar" é, portanto, a história de um apaixonar-se
Quando o último romântico decide assumir sua homossexualidade e faz um disco todo dedicado ao novo amor, nada mais justo do que esperar que seu show já com as portas do armário abertas seja emocionante. E foi o que Lulu Santos entregou no Espaço das Américas, em São Paulo, nesta sexta (31), para uma plateia dançante e pulante.
O show da nova turnê, que leva o nome do álbum, “Pra Sempre”, é repleto de hits para cantar junto, das baladas aos clássicos das aulas de aeróbica dos anos 1990, intercalados por quatro músicas do disco do ano passado, que tem 11. Como o músico disse em entrevistas, o álbum é o relato das fases de um relacionamento, “as estações da paixão”, segundo ele. “Radar” é, portanto, a história de um apaixonar-se.
Em 2018, Lulu tornou pública sua relação com Clebson Teixeira, hoje seu marido, no que ele diz ter sido seu ato mais político de vida e obra. “Pra Sempre” é o ato contínuo dessa ação, com letras como as de “Orgulho & Preconceito”, presente no show de sexta, sobre não se importar com o que os outros dizem e contra a intolerância.
Ter poucos momentos do novo disco garantiu ao show maior participação do público, que sabia cada verso de canções como “Já É”, música com vibe “disco” dos anos 1970 de “Bugalu”, de 2003, e a sensual “Adivinha o quê?”, de 1983.
Talvez graças ao reality “The Voice”, na Globo, no qual Lulu é um dos técnicos, ou porque o músico nunca deixou de tocar nas rádios suas letras extremamente populares, a plateia era muito heterogênea em questão de idade, ainda que majoritariamente composta por mulheres. Havia casais e grupos de amigos com mais de 60 anos dançando ao lado de adolescentes.
No show, Lulu faz como no álbum, e torna o fato de ter se assumido gay o mote da noite, além de propor a inclusão de todos os casais no clima de romance.
Em “Tão Bem”, balada do disco de 1984, “Tudo Azul”, ele insere um trecho em que avisa que vai mudar o pronome do refrão pois até então só homens héteros e mulheres lésbicas podiam se reconhecer na canção. Puxa então um “ele me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ele”.
Já na suingada “Aviso aos Navegantes”, de “Anti Ciclone Tropcial”, de 1996, após o verso “aqui sou eu sozinho” Lulu emenda um grito “é ruim, hein” e parodia o verso “do outro lado não sei não” com “do outro lado tem o Clebão”.
Isso numa noite em que, entre as primeiras músicas, o cantor falou ao microfone “sem censura nem ditadura, nunca”.
Ao cantar “Ovelha Negra”, clássico dos anos 1970 de Rita Lee, emendou um “foi o que eu fiz” após o verso “agora é hora de você assumir”.
A catarse coletiva foi de arrepiar os pelos até da jornalista cansada no coro bem composto com mãos para cima no refrão “Me dá um beijo então/ Aperta a minha mão/ Tolice é viver a vida assim/ Sem aventura”, de “O Último Romântico”, e nos pulos gerais em “Toda Forma de Amor”, já no bis de uma apresentação que durou um pouco mais de duas horas.