Oito curiosidades e fatos sobre o pequi que você precisa saber
Fruto típico do cerrado, o pequi é um dos maiores símbolos da culinária goiana, consumido na companhia de um bom arroz ou como ingrediente de receitas variadas
Ah, o pequi… Para quem mal o conhece, sua casca verde pode até enganar, mas os goianos sabem muito bem sobre a potência do sabor e de sua força como símbolo de nossa culinária. Recentemente fomos surpreendidos com a proposta do deputado federal Marcelo Freitas (PLS-MG), que apresentou um projeto de lei propondo que o município de Montes Claros, em Minas Gerais, fosse transformado na capital do pequi.
É claro que a proposta ganhou repercussão, principalmente em Goiás. Mas vamos lá… o fato é que goiano já nasce sabendo roer pequi! É algo nosso! Claro que o fruto não agrada todo mundo, já que seu sabor forte e exótico pode ser demais para o paladar de alguns.
No entanto, representa um dos maiores símbolos da culinária goiana, e com orgulho! Mesmo apresentando diversas influências, a comida regional é imponente, forte e super saborosa, carregando traços que dizem muito sobre o povo que por aqui vive.
E convenhamos, o pequi sofre com diversos estereótipos pelo Brasil afora, seja por seu sabor ou por seus espinhos, que já provocaram alguns acidentes por aí. Mas o que poucos sabem é que além do nosso delicioso arroz com pequi, a iguaria também tem várias outras funcionalidades.
Sabia, por exemplo, que o pequi faz bem para o coração e que pode retardar o envelhecimento precoce? Isso mesmo! Se você não dispensa a fruta, seu consumo regular pode trazer estes e outros benefícios. Mas não para por aí! O fruto típico do cerrado ainda conta com outras curiosidades bem interessantes que você verá ao longo da matéria!
A introdução dos frutos do Cerrado na culinária goiana
O Cerrado Brasileiro é um dos biomas com a maior biodiversidade do mundo, passando por Goiás e representando parcela significativa do território nacional. É abrigo para incontáveis espécies de fauna e flora, sendo o pequi, um de seus frutos mais conhecidos.
De acordo com Márcio Zago (@marcio.zago), professor de gastronomia e Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, os frutos típicos da região já eram consumidos antes do processo de colonização, pelos índios que aqui viviam.
Uma prova disso é que no norte do país, por onde também se concentram áreas do Cerrado, ainda é muito comum o consumo do pequi em sua forma in natura. “O pequi quando madura e é retirado da casca, ainda hoje é consumido da forma como era antes, ou seja, comia-se a polpa do pequi maduro sem cozinhar“, afirma o professor.
E continua: “No Norte por exemplo, esse é um costume que até hoje existe. Comer o fruto pequi maduro, como um fruto qualquer mesmo, que você pega do pé, abre, come junto com farinha de mandioca. É muito comum“, finaliza.
Por aqui, com a influência portuguesa, começamos a cozinhar o fruto e misturá-lo com outros ingredientes, formando receitas conhecidas pelo país todo, como a tradicional galinhada goiana ou o famoso arroz com pequi.
Características do pequizeiro
O pequizeiro (Caryocar brasiliense) é uma planta nativa do cerrado brasileiro, com incidência em toda a região Centro-Oeste, também encontrado com menor frequência em outros locais. Os estados de Goiás, Rondônia, Minas Gerais, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e Ceará também abrigam pequizeiros, no entanto, somente em Goiás é possível encontrar todas as espécies.
Seu nome vem do Tupi e significa “pele espinhenta” – pele (py) e espinho (qui). Normalmente, as árvores têm entre 6 a 10 metros de altura, com troncos tortuosos que podem ter até 40 centímetros de diâmetro. Para se ter ideia, sua vida útil é de aproximadamente 50 anos, apresentando folhas recobertas de pelos e flores amarelas, que são de uma beleza incrível.
Sua longevidade também diz um pouco sobre sua fase reprodutiva, que tem início somente ao atingir os 8 anos de idade. Após essa fase, os frutos do pequizeiro começam a madurar por volta do mês de novembro, com frutos bem grandes e de casca verde.
Em seu interior, é possível encontrar de 1 a 4 caroços. Neles, há bastante polpa amarela, que é a parte que consumimos e utilizamos nos pratos.
Por baixo da polpa ficam os espinhos, por isso é tão importante o cuidado na hora de roer o pequi. E não pense que acabou por aí. Bem no centro do caroço, por baixo de toda a camada de espinhos, ainda é possível encontrar uma castanha, também consumível. No entanto, por ser de difícil acesso e representar um risco por conta dos espinhos, não é todo mundo que se arrisca.
O fruto que é símbolo goiano
Muitos até tentam, mas ninguém consegue tirar o pequi dos goianos. Embora seja consumido também em outras regiões do país, conforme mencionado no tópico acima, foi a multivariedade de técnicas utilizadas no preparo do pequi, que acabou levando Goiás para o cenário gastronômico brasileiro.
Para o professor Márcio Zago, foi essa série de utilizações vindas da cozinha goiana, que levaram o fruto ao conhecimento popular. O simples ato de cocção da iguaria fez com que ganhasse força.
“Com a chegada dos portugueses em nossa região, ainda tivemos a inserção de vários ingredientes dentro dessa cozinha de origem, entre eles, o arroz“, comenta o professor de culinária brasileira.
Seja cozido, na galinhada ou em conserva, estamos sempre inventando novas receitas e é justamente por isso, que o produto ficou tão conhecido como símbolo da nossa gastronomia.
Curiosidades que ninguém te contou sobre o pequi
Não é só de arroz que se faz o pequi! Embora represente o acompanhamento perfeito na hora do consumo, é sempre importante lembrar que o pequi tem outras funções e utilidades, sem contar que ainda garante alguns benefícios para a saúde. Não é à toa que a culinária goiana usa e abusa da iguaria! Confira abaixo algumas curiosidades bem interessantes sobre o fruto.
1 – Não há nada no mundo parecido com o pequi
Se vamos falar de curiosidades, é importante começar dizendo que o pequi é algo único no mundo. Não existe nenhum outro fruto, vegetal, verdura, enfim, nada que sequer lembre o cheiro ou o sabor do nosso pequi. O professor Márcio Zago ainda acrescenta: “É realmente um fruto único! É nosso, tá no nosso estado e ninguém toma da gente!“. Privilégio nosso!
2 – A castanha do pequi pode ser usada na confeitaria
Já deu pra ver que o pequi é bem completo e muito utilizado na culinária goiana, não é mesmo? Quando o caroço está sem a poupa, você pode colocá-lo ao sol ou na brasa para secar. Feito isso, é possível cortar o caroço com mais facilidade e menos riscos, já que os espinhos exigem sempre muita atenção. Ali dentro há uma castanha super saborosa, que pode ser consumida in natura, mas que também pode ser utilizada em várias outras receitas.
Existem vários chefs de culinária regional que usam essa castanha na confeitaria, fazendo tortas doces ou recheios de bolo, por exemplo. Mas é claro, por ser um produto muito forte, bem aromático e com sabor acentuado, é preciso saber trabalhar com ele. Mas fica uma delícia!
3 – Dá para fazer farinha com a casca
Muita gente se pergunta o que fazer com as cascas do pequi, afinal, elas são descartadas de nosso consumo consumo. Apesar disso, há quem as utilize na produção de farinha, já que o ingrediente é bastante funcional e ainda demonstra componentes com capacidade antioxidante.
Normalmente, a farinha de casca de pequi é utilizada na produção de pães, sempre misturada à farinha de trigo na execução das receitas. Já que a casca é rica em micronutrientes, faz com que os pães sejam mais nutritivos sem alterações no sabor e composição.
Apesar disso, a fabricação desse tipo de farinha conta com processos bem complexos e, em alguns casos, industrializados. Portanto, se você pretende experimentar, o ideal é procurar pela farinha pronta em mercados especializados.
4 – Também é possível extrair tinta da casca
Ao cozinhar a casca do pequi, ela solta uma tinta que pode ir do cinza claro ao preto, normalmente utilizada por artesãos para tingir lã e algodão.
5 – Dá para produzir biodiesel com óleo de pequi
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo, do campus de Ribeirão Preto, constatou que o óleo de pequi pode ser utilizado na produção de biodiesel. Embora seja viável, o uso da iguaria ainda representa uma questão complicada, já que seria preciso tempo e investimento para a plantação de mudas destinadas para este fim. Em todo caso, é algo a ser considerado.
Extraído a partir do caroço da fruta, o óleo do pequi possui composição química adequada para contribuir na produção de biodiesel, já que sua reação química com o álcool de cana resulta em um diesel cerca de 4% mais econômico no consumo, além de ser cerca de 30% menos poluente, contribuindo ainda como lubrificante e deixando o veículo mais potente.
6 – Tem mais vitamina C que a laranja
Precisando repor a vitamina C no organismo? Que tal comer pequi? Quando falamos sobre a vitamina, logo vem em mente a laranja, mas o que poucos sabem é que a poupa do pequi possui o dobro de vitamina C em relação à fruta. Além disso, também é rico em vitaminas A e E, representando um excelente aliado para retardar o envelhecimento.
7 – Faz bem para o coração
O pequi também é rico em ácidos graxos monoinsaturados, que contribuem para a redução dos níveis de colesterol LDL (colesterol ruim) do sangue.
Com isso é possível obter vários benefícios para a saúde do coração, já que evita o acúmulo de placas de gordura nos vasos sanguíneos, contribuindo para a prevenção de doenças cardiovasculares.
8 – Ajuda a prevenir o envelhecimento precoce
Conforme já mencionamos anteriormente, o pequi é rico em vitaminas e minerais que contribuem para e redução e eliminação de radicais livres, que são grandes responsáveis pelo processo de envelhecimento precoce da pele. Além disso, também contribui para manter a elasticidade da pele. Sem dúvida, a culinária goiana é privilegiada!
Relembre o caso: senador se machuca comendo pequi
Quando se come pequi, pode ter certeza que ele será a estrela da refeição, fazendo com que o paladar desfrute de uma experiência única e inconfundível. Mas para os menos experientes, pode ser uma boa e amarga surpresa comer a iguaria. Quando servida ao molho, ou no meio do arroz por exemplo, a dica é nunca morder o caroço, mas sim roê-lo.
Por dentro, há inúmeros e minúsculos espinhos que podem provocar acidentes bem sérios. No ano de 2001, em um episódio que ganhou repercussão nacional, o então senador Saturnino Braga decidiu se aventurar e experimentar o fruto.
Tudo parecia normal, mas o que ele não sabia era que a experiência o marcaria por uma vida toda. Desavisado, o senador cometeu um erro grave e acabou mordendo o caroço. Imediatamente os espinhos tomaram sua boca. Em entrevista concedida na época, ele disse que sentiu a dor e foi ao banheiro para ver o estrago.
Não demorou muito para que sua foto, com a boca aberta na sessão para retirada dos espinhos, fosse parar nas capas de jornais por todo o país. O caso acabou trazendo uma repercussão negativa para o pequi, que já não era tão conhecido e acabou fazendo com que as pessoas quisessem ainda mais distância.
Mas convenhamos, casos isolados não tiram o mérito do queridinho da culinária goiana. De fato, é preciso ter bastante atenção e cuidado na hora de comer, principalmente aqueles que não são acostumados. Talvez o ideal seja preparar pratos que levem somente a polpa, sem o caroço.
Diferente dos goianos, que praticamente nascem sabendo sobre a arte de comer pequi, pessoas que não conhecem o fruto estão sempre em zona de risco e precisam ser alertadas. Em todo caso, fica a dica para deixar o medo de lado e se permitir experimentar. Pode ser um susto para o paladar na primeira vez, mas depois, você acaba se acostumando! Vale a pena experimentar essa delícia da culinária goiana!