Festival Vaca Amarela se desculpa por arte com imagem de santa
Caracterização de Maria como vaca gerou polêmica nas redes sociais
A organização do Vaca Amarela voltou atrás e decidiu retirar a arte que estava sendo usada no cartaz de divulgação do festival. A imagem escolhida era uma reprodução de uma obra da artista Ana Smile, com estatueta de santa pintada em amarelo, com chifres e manchas pretas. Desde o último dia 24 de agosto, a página no Facebook recebia milhares de comentários criticando a escolha.
Ana Smile foi processada pela Arquidiocese de Goiânia e teve seu acervo apreendido no dia 28 de junho deste ano por reproduzir personagens de cultura pop como Batman, Mulher Maravilha, Malévola, Galinha Pintadinha e Frida Kahlo sob estátuas de gesso que representam santos da Igreja Católica. O Ministério Público (MP) determinou que ela interrompesse a comercialização e exposição dos itens sob pena de multa no valor de R$50 mil, além de retirar do ar as páginas do Instagram e Facebook de sua marca, Santa Blasfêmia.
Segundo João Lucas Ribeiro, organizador do festival, a peça foi criada pela própria artesã em 2015 e adquirida por ele com o propósito de estampar o Vaca Amarela do ano passado, mas devido às discussões que estavam ocorrendo na época, a decisão foi adiada. No Facebook, ele publicou um comunicado pedindo perdão diretamente à Igreja Católica. Novos eventos, sem a imagem, foram criados para o festival.
Leia a nota na íntegra:
“Ao Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Dom Washington Cruz
Sabemos da importância da fé católica na vida de grande parte das pessoas. Reconhecemos os trabalhos sociais e de caridade da Igreja, e no poder do perdão e da paz para solução de conflitos. Também temos consciência que é papel nosso como produtores culturais debater e questionar a sociedade a qual estamos inseridos.
Nunca imaginamos que o material que lançamos fosse causar tamanho desconforto a população católica. Nosso interesse com a identidade visual do evento foi apenas de levantar o debate sobre a liberdade de expressão e o direito artístico de uma artista da cidade. Em 15 anos de Festival Vaca Amarela, sempre convidamos um artista expoente da cena artística de Goiânia para fazer a nossa identidade visual. Nesse período temos um histórico de ações sociais, de respeito e de um diálogo interessante com os mais diversos setores da sociedade, e nesse ano não seria diferente. Reiteramos sempre a luta pela arte e a democratização e acesso aos bens culturais.
Já havia retirado do nosso material a imagem, antes mesmo dela ir pra gráfica, apenas pelo desconforto que a arte causou na população católica. Não é nossa intensão que o conflito continue, até porque temos um festival à cumprir, com mais de 60 bandas, entre regionais e nacionais de todos os gêneros e estilos para um público que nos acompanha nestes 15 anos de projeto já consolidado na programação de festivais de música e artes integradas do Brasil.
A partir do momento que percebemos a indignação de várias pessoas, tivemos a consciência de voltar atrás e trocar nosso material de divulgação. A ilustração, inclusive, estava tirando a atenção principal de nossa ação – a programação musical”.
A Arquidiocese de Goiânia respondeu que “cumprindo seu papel de salvaguardar a fé e os símbolos católicos, acompanhou desde o início as publicações de divulgação do Festival Vaca Amarela, em que uma imagem de Nossa Senhora das Graças foi profanada. Desejosa de testemunhar a pratica do perdão, a Arquidiocese aceita o pedido de desculpas formulados pela produção do Festival Vaca Amarela”.
O Vaca Amarela será realizado entre os dias 23 e 25 de setembro, no Centro Cultural Martim Cererê.