Carnaval/SP

SP: 2º dia de desfiles tem tecnologia, exuberância e favoritas do público na avenida

A Gaviões da Fiel, embalada pela estreia do carnavalesco Paulo Barros e pelo aniversário de 50 anos da escola, a escultura da ave-símbolo da agremiação emitia um ruído de arrepiar.

Fantasia de LED. Alegorias compostas por telões e QR Code. Passistas com batimento cardíaco monitorado na avenida. E até robô que cai no samba. Se no primeiro dia dos desfiles das escolas de samba de São Paulo as agremiações apostaram em mensagens políticas para conquistar o público, na segunda noite no Sambódromo do Anhembi a plateia testemunhou um verdadeiro carnaval high tech.

Responsável por abrir a noite, a Pérola Negra coroou sua rainha de bateria, Samara Carneiro, com lâmpadas de LED. As luzinhas acendiam na medida em que ela sambava, levantando a plateia apesar do frio e da garoa fininha que caía àquela hora.

Já na Gaviões da Fiel, embalada pela estreia do carnavalesco Paulo Barros e pelo aniversário de 50 anos da escola, a escultura da ave-símbolo da agremiação emitia um ruído de arrepiar. Em outra alegoria, foi escondida uma piscina com uma bomba forte o suficiente para empurrar água barrenta sobre os destaques do carro.

Com o enredo “Tempos Modernos”, foi a Rosas de Ouro quem levou o mundo digital ao limite do carnaval. Em parceria com empresas de tecnologia e universidade, a escola da zona norte trouxe para o Sambódromo referências à criação das locomotivas e do automóvel e até um robô no meio da bateria distribuindo baquetas aos ritmistas.

Impressionantes, os recursos tecnológicos se misturaram às tradicionais lantejoulas, plumas e paetês. “O carnaval de São Paulo realmente cresce a cada ano. Isso é incrível. Não tenho os olhos fechados para a minha escola”, comentou Solange Cruz, presidente da Mocidade Alegre. Na escola, havia várias alegorias mecanizadas e até um chafariz.

Unidos de Vila Maria

Com todos os carros equipados com telões para contar a história da China, o presidente da Unidos de Vila Maria, Adilson José de Souza, jura de pés juntos que a tecnologia não é uma tendência do carnaval. “Fizemos dentro do contexto do enredo sobre um país capaz de construir uma cidade em poucos dias”, disse. “No que depender da Vila Maria, o carnaval continua raiz, que valoriza as expressões faciais e a alegria na avenida.”

Pela reação da plateia, as inovações foram aprovadas. Com ingressos esgotados, o Anhembi recebeu público ainda maior do que no primeiro dia e, em diversos momentos, cantaram os sambas-enredos e acenderam iluminadores.

Embora a Gaviões tenha sido a favorita da arquibancada, os desfiles da segunda noite indicam uma disputa acirrada. Mocidade, Vila Maria e Rosas de Ouro também devem entrar forte na briga pelo título.

Pérola Negra

O desfile da Pérola Negra estava envolto em expectativa. Menos de duas semanas antes do carnaval, a tradicional escola de samba da Vila Madalena havia perdido 40% das suas fantasias durante o temporal que atingiu São Paulo. Contrariando as previsões pessimistas, a escola se destacou pela apresentação enxuta, mas luxuosa, com passistas de saias longas e muito colorido na avenida.

“Queremos vitória”, incentivou a presidente da escola, Sheila Mônaco, ainda antes de seus 2,1 mil integrantes ganharem o sambódromo. Foi sob garoa fina e piso molhado que a Pérola entrou na passarela. De volta à elite de São Paulo, após faturar o título do grupo de acesso em 2019, a escola prestou tributo aos povos ciganos.

A narrativa proposta ia desde a Índia hinduísta, passava pelo Egito e citava até Sandra Rosa Madalena, do cantor Sidney Magal Um dos carros trazia integrantes tocando castanholas de verdade A rainha Samara Carneiro e a musa trans Mariah Fernandes se destacaram. A Pérola encerrou o desfile aos 64 minutos sob aplausos das arquibancadas.

Colorado do Brás

Para contar a história de Dom Sebastião, rei de Portugal morto na batalha de Alcácer-Quibir, a Colorado do Brás fez um desfile “analógico”. A escola esbanjou cores e alas coreografadas, mas – ao contrário de boa parte das concorrentes – apostou em alegorias estáticas (a exceção foi um carro encimado por uma coroa giratória).

Pequena, a escola de 2,2 mil componentes, levou os espectadores para o Maranhão e explorou lendas que envolvem o sumiço do rei. A Colorado investiu em carros imensos e passistas com corpos à mostra. Nos destaques e no chão, componentes trajavam roupas mínimas, quando não era só pintura corporal. A agremiação trouxe, ainda, a primeira madrinha de bateria trans do grupo especial, Camila Prins.

Embora o desfile tenha transcorrido com tranquilidade, alguns componentes pareciam não dominar o samba-enredo e, nas arquibancadas, chegaram a comentar que um casal de mestre-sala e porta-bandeira estava desanimado. Ao encerrar o desfile com 64 minutos, muitos integrantes, emocionados, comemoraram o que consideraram ser uma apresentação de alto nível: “Ahá, uhu, o Anhembi é nosso!”

Gaviões da Fiel

Na estreia do carnavalesco Paulo Barros em São Paulo, a Gaviões da Fiel literalmente incendiou a avenida. Para celebrar o amor, o tema do seu cinquentenário, a escola preparou uma série de surpresas. A mais quente, já na comissão de frente: Romeus e Julietas pegavam fogo (de verdade!) ao se beijar.

Vestidos de borboleta, destaques “desapareciam” camuflados no carro alegórico. Em outra alegoria, gorilas alpinistas também sumiam. Entre as inovações, a Gaviões apostou, ainda, em usar suportes elevados para destacar personagens ou fantasias no meio das alas. A exuberância chamava atenção. Haviam carros com cascatas de água e gangorras. Outro destaque foi o verdadeiro coral formado por todos os integrantes cantanto a plenos pulmões por 64 minutos.

A torcida fez uma festa à parte e recepcionou a escola com fogos de artifício. Para saudar os 3 mil componentes no Sambódromo, também cobriram a arquibancada com um bandeirão durante o recuo da bateria e aplaudiram a rainha, Sabrina Sato, de pé. Um problema enfrentado pela Gaviões foi quando um integrante da comissão de frente perdeu a capa, o que pode fazer a escola perder ponto.

Mocidade Alegre

Um desfile para renascer. Foi assim que a Mocidade Alegre encarou o sambódromo após amargar a 8ª posição no ano passado. Na avenida, uma exaltação às mulheres. “Foi maravilhoso! Ficamos super felizes e tenho certeza que conseguimos representar nossa comunidade”, comentou a presidente Solange Cruz que, como sempre faz, entrou e saiu do desfile pisando com o pé direito.

Com maquiagens fortes, carros com flores que desabrochavam, fantasias bem acabadas e muito misticismo, a Mocidade desfilou por 62 minutos e arrancou aplausos com suas referências às raízes femininas. Cerca de 70% dos passistas eram mulheres. No solo, só mães foram destaque. A rainha de bateria, Aline de Oliveira, brilhou.

Assim como em edições anteriores, a Mocidade ficou marcada pelo poder da bateria, que abusou da animação e das “paradinhas”. À plateia, integrantes da escola distribuiram folhas de arruda e alecrim. Em contrapartida, a escola enfrentou dificuldade com um carro gigante que exalava cheiro de borracha queimada e cruzou quase todo o sambódromo esfumaçando. “Vai ter de empurrar”, gritou um diretor de alegoria.

Águia de Ouro

A mesma humanidade que inventa o avião e aprende a voar é a que desenvolve a bomba responsável por dizimar cidades inteiras. Para falar sobre “o poder do saber”, a Águia de Ouro abordou benefícios e problemas do conhecimento em 26 alas, cinco carros alegóricos e 2,5 mil integrantes. O desfile durou 64 minutos.

Embora abordasse o tema da tecnologia, a escola trouxe algumas alegorias tradicionais, mas muito alegres. Logo no começo, quatro dinossauros mecânicos eram operados manualmente. Também houve carros mais modernos e com telões, em menor número. Destaque para o retrato da bomba de Hiroshima (com cogumelo atômico feito de lã de aço). Em outro carro, a velha guarda e as crianças da Águia frequentavam uma escola. Nele, foi escrita uma frase de Paulo Freire: “Não se pode falar de educação sem amor”

A Águia de Ouro encerrou o desfile com 64 minutos de pista, mas não sem um susto. Uma integrante precisou ser retirada da avenida pelos bombeiros após desmaiar. “Isso não deve atrapalhar a evolução da escola”, disse o presidente Sidnei Carrioullo. “Agora é aguardar a apuração.”

Unidos de Vila Maria

Em todas as alegorias, faixas de LED. Na pista, fantasias com muitos leques, bordados e chapéus triangulares. Com enredo sobre a China e Zeca Pagodinho entre os puxadores, a Unidos de Vila Maria uniu elementos digitais a adereços clássicos e conseguiu realizar um desfile aplaudido.

Dragões tomaram a pista. Nas alegorias, referências que iam desde a medicina chinesa aos cuidados que o país passou a tomar para preservar sua biodiversidade. No quesito fofura, o destaque foi o carro das crianças fantasiadas de urso panda.

Para o Anhembi, a escola chegou a planejar trazer 600 chineses para participar da festa, mas acabou mudando de ideia após a epidemia de coronavirus. O resultado empolgou os componentes. “Por que não pensar em título”, disse o presidente Adilson José de Souza.

Rosas de Ouro

A Rosas de Ouro encerrou com muita energia os desfiles do Grupo Especial. Uma das favoritas, a escola segurou as arquibancadas cheias até de manhã. Com muito brilho e tecnologia, a Rosas monitorou os batimentos cardíacos de componentes de várias alas, bem como a evolução, que foi medida por sensores levados à avenida pela escola.

Com o enredo “Tempos Modernos”, a escola trouxe alas montadas em monociclos elétricos e até os componentes de apoio usavam óculos escuros com LEDs. No meio da bateria, coreografada, o robô YuMi, distribuindo baquetas para os ritmistas. A bateria, aliás, veio fantasiada de robô.

Também passaram temas retrofuturistas, carros com referências aos Jetsons, filmes como “De Volta Para o Futuro” e alas com “mulheres intergaláticas”. No carro em homenagem à televisão, fotos do homem chegando à Lua. Sem correria, a Rosas de Ouro fechou o desfile aos 63 minutos.