Em BH, musical sobre Chico Buarque é cancelado após ator protestar contra Dilma e Lula
A cena narrava a história de uma cidade pequena em que ninguém havia ido ao teatro em uma noite.
A sessão do musical “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos” na noite de sábado, em Belo Horizonte, terminou em confusão. O público que lotava o teatro Sesc Palladium, no centro da capital mineira, não gostou de um improviso feito pelo ator e diretor Cláudio Botelho (que divide a direção com Charles Möeller) em cena, e o espetáculo foi interrompido e cancelado.
De acordo com a reportagem do jornal “Estado de Minas”, aproximadamente na metade do espetáculo, o personagem de Botelho diz “era a noite do último capítulo da novela das oito”, como parte do roteiro. E acrescentou, como um “caco”: “Era também a noite em que um ex-presidente ladrão foi preso”. Botelho citou ainda “uma presidente ladra”.
Parte do público reagiu com vaias e gritos de “não vai ter golpe!” e “Viva, Chico!”. Chico Buarque, inspirador do musical, como se sabe, é apoiador do governo do PT. Botelho, nascido em Minas Gerais, então teria respondido: “Ah, não vai ter golpe, então vamos continuar o espetáculo e depois vamos ver se vai ou não ter golpe”.
O diretor chamou o grupo de censor, lembrando a invasão de agentes da ditadura militar a um teatro em que a peça “Roda Viva”, de Chico, era encenada pelo Teatro Oficina, em 1968. Depois, Botelho tentou duas vezes retomar o espetáculo, sem sucesso – os gritos continuavam. As cortinas se fecharam e, pelo alto-falante, o teatro informou que os ingressos seriam reembolsados.
De acordo com o ator, a reação das pessoas foi “agressiva”. “Comecei a ficar com medo. Tive que sair escoltado pela polícia. Eu corria o risco de linchamento.”
Em sua conta no Facebook, o Sesc Palladium afirma que a apresentação de sábado “foi interrompida devido às reações motivadas pela manifestação política de um ator do espetáculo”. A sessão deste domingo (20) também foi cancelada.
Repercussão
O Sesc e a Pólobh, produtora responsável pelo evento, divulgaram hoje (20) nota conjunta de esclarecimento. Eles reiteraram que são “instituições apartidárias” e pediram desculpas pelos transtornos gerados. A sessão de hoje (20) está suspensa. “Compreendendo o momento pelo qual o país passa e primando pela segurança de todos, optamos pelo cancelamento da sessão prevista para este domingo”, registra o texto.
A postura do ator foi novamente criticada após o vazamento de um áudio do camarim, em que ele discute com outros integrantes do elenco. “O artista no palco é um rei! Não pode ser peitado. Não pode ser interrompido por um negro, por um f.d.p.”, diz ele, dizendo-se censurado por petistas. Uma atriz discorda de Cláudio Botelho e diz que a plateia tem direito de vaiar uma provocação.
Ouça:
Para Rosemary de Souza Silva, que estava na plateia, o ator não tem o direito de provocar pessoas que estavam em busca de lazer e de “um parêntese nessa vida tumultuada”. Ela também disse que a fala de improviso contradiz o pensamento do próprio Chico Buarque. “Sabemos bem quem é Chico Buarque de Holanda, o que ele representou na história do país e o que ele pensa do contexto político atual.”
Também presente à peça, Adriana Batista saiu em defesa do ator: “A turma do PT encerrou o musical. Parabéns petistas, vocês foram mais eficientes que a censura do AI5”.