Animais Fantásticos, Onde Habitam e um filme para Trouxas
A nova franquia tem potencial, mas não vai agradar aos fãs mais exigentes
Trajes da casa vestidos – Grifinória, mas aquele 1% é Corvinal -, fotos na montagem com os personagens ainda desconhecidos tiradas, balde de pipoca promocional gigante comprado, é hora de jogar mais dinheiro na franquia criada por J. K. Rowling. Recriar o mundo potteriano não seria um desafio, com tanto material disponível criado ao longo dos anos pela autora e com tanta avidez dos produtores em manter as moedas caindo.
O ganhador do Oscar Eddie Redmayne faz um bom trabalho como Newt Scamander, apesar de atestar sua fama como ator de um papel só. A vantagem é que ele encaixa perfeitamente neste universo, como um jovem tímido, curioso e apaixonado por animais que carrega um verdadeiro zoológico em sua mala.
Em uma viagem para Nova Iorque, ele conhece as bruxas Porpentina Goldstein (Katherine Waterston) e Queenie Goldstein (Alison Sudol) e o “não-mágico” (ah, americanos e suas gírias. O substantivo mais comum é trouxa) Jacob Kowalski, interpretado por Dan Fogler. Enquanto as personagens femininas se saem bem, Jacob foi escolhido para ser um alívio cômico do filme que parece ter buscado inspiração em O Gordo e o Magro.
Ezra Miller, o novo Flash, é tão sombrio, sinistro e melancólico que correm dúvidas se o certo seria oferecer um abraço ou um poço a que se atirar. Caricato ao extremo, seu papel como Credence é uma peça de quebra cabeça que não encaixa em um cenário do filme que lembra A Bruxa, de Robert Eggers.
Os efeitos especiais têm seus momentos, como os bichos impecáveis e inacreditáveis que surgem a cada dois minutos na tela. Por outro lado, como nenhum longa tem mais permissão para ser lançado sem cenas de batalha, aparentemente, é difícil considerar a destruição de NY um primor da computação gráfica três semanas após a estreia de Doutor Estranho – esse, sim, de cair o queixo.
Feitas essas considerações – e sem entrar no assunto Johnny Depp, o maior erro de escalação da história do cinema -, a aventura entretém o espectador o suficiente para esquecer que se passa 2h13 sentado na poltrona. A magia pode confundir, mas essa não é uma história para crianças: a classificação indicativa é de 12 anos, e não é por menos. Se desde a Ordem da Fênix descobrimos o lado mais nebuloso do mundo bruxo, Animais Fantásticos apresenta uma face ainda mais sisuda. A mensagem contra o preconceito permanece a mesma, e talvez seja mais importante do que nunca.
A sensação final é de que o longa-metragem é capaz de se sustentar sem o menino do raio, mas é apenas um prelúdio para sua própria série. Sozinho, é cansativo e tem pouca desenvoltura. Talvez devêssemos mesmo ter deixado Harry Potter descansar em paz.