Aniquilação: a beleza do estranho
Novo filme de Alex Garland é um espécime raro no oceano de mesmice da Netflix
Junte a isso que a Paramount, após sessões de teste extremamente negativas nos EUA, decidiu vender os direitos de distribuição internacional para a Netflix, sem investir me marketing nem em distribuição em salas de cinema fora dos EUA.
O principal motivo é que o filme seria “estranho” ou “cerebral” demais para a plateia comum, o que é um tanto condescendente. Azar o deles: Aniquilação é um filme excelente que traz um pouco de arte e de narrativa fora da caixa para o serviço de streaming.
A distribuição pela Netflix acaba sendo um acerto enorme, não apenas de alcance – porque honestamente, cerebral ou não, quantas pessoas realmente estavam dispostas a ver o longa na tela grande? – mas por dar uma injeção de criatividade e originalidade real no catálogo de produções da Netflix.
A trama acompanha um grupo de cinco cientistas enviadas para O Brilho, uma região que está se expandindo e modificando o ecossistema ao seu redor após a queda de um meteoro. Portman faz uma bióloga cujo marido é o primeiro a voltar vivo de uma expedição até o Brilho. Em busca de respostas, ela se voluntaria para descobrir o que tem na área sinistra. Naturalmente, coisas dão errado.
De cara podemos destacar o elenco. Não apenas Isaac e Portman, mas o elenco de apoio de apoio também, especialmente Jennifer Jason Lee, líder da expedição, e Tessa Thompson, uma das outras cientistas.
Baseado no romance de mesmo nome escrito pro Jeff Vandermeer, o filme consegue transmitir a mesma aura de terror lovecraftiano dos livros. O horror não está em cenas gráficas ou sustos repentinos, mas na construção do ambiente, na perturbação e desconforto do espectador e na sensação constante de que algo está errado.
O filme acerta isso em cheio com uma cena verdadeiramente icônica e que com certeza vai ficar na cabeça de todos. Outro ponto forte é o visual e a trilha sonora. Embora seus efeitos especiais não sejam dos melhores, o filme tem uma estética própria belíssima e uma trilha perturbadora e estranha que casa perfeitamente com o filme e sua temática.
Seu ponto mais forte está na originalidade. Garland adapta com tons autorais um livro que por si só não é fácil e mira alto, tentando colocar Aniquilação no patamar de 2001 – Uma Odisseia no Espaço e Duna. Se ele acertou, ainda é muito cedo para dizer.
Enfim, o filme é sim muito estranho, não perde muito tempo com exposição e bota quem assiste para interpretar e tirar suas próprias conclusões. Ser estranho é um enorme elogio.
Apesar do controle de Garland, ainda estamos falando de um filme de estúdio, então Aniquilação não pira o tanto que poderia pirar, ficando em uma zona cinzenta entre um longa comercial e um filme de arte, sem colocar os dois pés nesta última categoria. Essa situação de nem aqui nem lá pode ser uma faca de dois gumes: estranho demais para o público geral, genérico demais para o público alternativo.
Como mencionado antes, o CGI não é muito bom, então apesar da boa direção de arte, os efeitos visuais, por não serem fotorrealistas, sugam um pouco da imersão. Optar por filmar em uma selva real e com efeitos práticos teria sido muito melhor para envolver o público visualmente.
O final também não me agradou completamente. Ele toma grandes liberdades em relação ao material de origem para passar uma mensagem similar, porém não idêntica. O resultado é que para os fãs dos livros ele pode ser decepcionante e para quem não leu ele pode ser apenas estranho, apesar da intencionalidade criativa de Garland.
O veredito
Aniquilação é um filme estranho sim, mas é excelente. Original, envolvente, criativo, ele é uma boa pedida para quem não curte cinema de arte, mas que quer ver algo diferente do mais do mesmo presente nos cinemas e na Netflix. Fora da caixa, ele vai contar uma boa história e mexer com a cabeça de quem tiver coragem de encará-lo.