Anitta revela que metade da rentabilidade da carreira já não é mais em real
Funkeira lançou nesta quinta-feira seu novo single, 'Girl from Rio'
Investindo cada vez mais no mercado internacional, Anitta lança o principal single do seu novo trabalho: “Girl from Rio”. No clipe da música, com lançamento previsto para esta sexta, dia 30, a Poderosa de Honório Gurgel lembra da época em que frequentava o Piscinão de Ramos, ao mesmo tempo em que brinca em outras cenas com o visual do período da Bossa Nova, no início da década de 1960, quando o mundo era apresentado à “Garota de Ipanema”.
— Quero trazer a cultura do Brasil, fazer as pessoas se interessarem. Só faz sentido para mim seguir uma carreira internacional se for assim. Por isso, para esta música, fiz postagens mostrando o Rio, mulheres importantes, um aquecimento de curiosidades. Hoje, mais de 30% dos meus seguidores não são brasileiros. Eu tenho 53 milhões de seguidores no Instagram, se você tira 30%, vê que é muita gente que precisa ser introduzido ao Brasil e conhecer do que eu estou falando. É uma forma de se conectarem com a música que está por vir — diz Anitta, durante a coletiva de imprensa de lançamento da canção.
E estes seguidores gringos conquistados também já impactam na renda final da carioca. O consumo de músicas em streaming, visualização de clipes e compra de músicas, por exemplo, são pagos em outra moeda, que não o real, que anda desvalorizado.
— Todos os planos que tive para a carreira internacional mudaram muito desde “Paradinha”, por exemplo. Nessa música, quando vim para os Estados Unidos, achei que seria um investimento, mas tive outro. Precisei improvisar e me reinventar. E acabou dando mais certo que imaginava. Por isso é que estou na fase de não me preocupar tanto, deixar nas mãos de outras pessoas. Foi assim que as coisas começaram a acontecer, a conquistar os prêmios, as parcerias e ate a rentabilizar o meu trabalho. Infelizmente, para nós brasileiros, o dólar está a quase R$ 6, mas isso faz com que a rentabilidade do meu trabalho aumente, com essa alta da moeda norte-americana. Hoje consegui que metade da minha renda já seja proveniente de outras moedas que não o real — explica.
Anitta ganha elogios de Helô Pinheiro, a ‘Garota de Ipanema’
A melodia é aquela que já encantou o mundo todo, criada por Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Mas agora a garota já não vem de Ipanema. No single “Girl from Rio’’, o grande clássico da MPB ganhou releitura de Anitta. A Poderosa de Honório Gurgel dá destaque à cidade carioca que não é vista nos cartões postais, mas nem por isso é menos vibrante. Quem faz o doce balanço, por exemplo, são as musas da vida real, com corpos belos e curvilíneos que nada se parecem com as modelos de passarela. E o mar e o sol brilhantes da Zona Sul foram substituídos pelo festivo Piscinão de Ramos.
— Hoje temos mais empoderamento de todos os tipos de corpos, todas as belezas são valorizadas. A gata, gostosa, não se resume a uma modelo. A mulher tem curvas. E uma energia. A vibe brasileira, carioca, é algo que transcende tudo. O fim de um estereótipo é uma grande conquista — valoriza Anitta, ao comparar a música da década de 1960 e com a atual.
A análise de Anitta está longe de incomodar Helô Pinheiro, a grande inspiração do hit da Bossa Nova. Com 75 anos, a eterna musa é só elogios à funkeira como uma legítima representante das garotas cariocas mundo afora.
— Eu sou a garota daquele velho tempo, mas não é que eu seja velha (risos). A garota de Ipanema era mais centrada, calma, andava no trilho de uma obediência rígida. Éramos mais medrosas, eu me sentia até enclausurada. Ainda bem que o tempo evoluiu, as pessoas abriram a cabeça. E a Anitta é a garota de agora. Conquistou muita coisa cedo, tem personalidade, bate de frente, não se importa com as críticas, é autossuficiente. Eu queria um pouco disso dela em mim — derrete-se Helô, de 75 anos.
Mesmo tantos anos depois, a loura não se cansa de relembrar as histórias da época que a lançou ao estrelato. Também nunca enjoou da música, que é toque da caixa postal de seu celular. E ficou curiosa com a versão de Anitta.
— Eu ouço funk e de tudo um pouco. Não tenho preconceito com estilo de música. Acho que cada um é para um momento. Lembra quando a Tici fez quadradinho de oito na TV e deu a maior repercussão? Se estivesse lá, faria junto com ela. Eu danço aerojazz e uma amiga até perguntou se eu dançaria com a Anitta. Se ela me convidasse, claro. Não é porque estou com certa idade, que não tenho vitalidade — diverte-se: — “Garota de Ipanema” é a segunda música mais tocada no mundo, fez sucesso primeiro lá fora para o país reconhecer. Pode ter sido esse o pensamento de Anitta para fazer como porta de entrada lá, né?
A tese tem fundamento.
— Quero levar a cultura do Brasil. Só faz sentido para mim seguir uma carreira internacional assim. Além disso, claro que um dos motivos para querer o reconhecimento do exterior é também para diminuir o preconceito. Foi assim mesmo com a Bossa Nova. É o que existe com o funk, com a mulher que também fala com o corpo, que é verdadeira com suas escolhas.
Escolhas que também viram notícia quando se fala da vida pessoal. Anitta explora a sensualidade na letra da promessa de hit. Brinca com a troca constante de namorados e fala da personalidade que é “quente como o verão e fria como o inverno”.
— Está vendo? Ela tem personalidade. Se fosse analisar a música com os olhos da época em que tinha a idade dela, a classificariam como algo erótico. A mulher tinha que casar virgem. Eu casei assim. A minha avó falava para eu não entregar meu tesouro, senão eu nunca teria uma família feliz. Acho que hoje em dia as pessoas têm mais é que experimentar mesmo, conhecer a pessoa não só na índole, mas também na cama. Porque depois, se não gostar, o casamento pode falhar. Graças a Deus, a minha relação deu muito certo, mas poderia não ter sido assim — diz Helô, que é casada desde 1966 com Fernando Abel Pinheiro.
Gravar no Piscinão de Ramos transporta Anitta aos tempos de infância, quando ia com toda a família no fim de semana. Também a fez lembrar do show de réveillon que comandou no local há dez anos. Saber que agora o mundo todo pode assistir o lugar de onde vem a deixa eufórica.
— É totalmente diferente o motivo pelo qual voltei para gravar o clipe. E agora todo mundo vai assistir. Caramba, é muita loucura. É o Piscinão de Ramos no mundo — diz a cantora, aos risos.
Dessa mesma época, a funkeira não ia para a Zona Sul com a mesma frequência. Costuma dizer que só foi conhecer a parte nobre da capital fluminense quando já era famosa. Do outro lado, Helô nunca frequentou a praia artificial da Zona Norte. Mas já teve seus tempos de passar por Honório Gurgel no início da vida adulta.
— O Piscinão eu só conheço de nome, nunca fui. Mas quando inaugurou eu achei uma boa iniciativa para quem está tão afastado da praia e não pode ir sempre, é uma forma de entretenimento, de se refrescar e de aliviar o calor do Rio, que é intenso. Já Honório Gurgel eu conheço. Comecei minha carreira de professora primária do Estado dando aulas. Passei por Padre Miguel, Realengo, Penha, depois fui para o Centro, quando comecei a trabalhar em escritório de assistência ao menor, na secretaria de serviços sociais. Foi então que a música estourou, não tive mais tempo para nada, casei e a vida foi tomando outro caminho.