Artistas cobram medidas emergenciais ao secretário de Cultura
Depois de artistas cobrarem de Regina Duarte, secretária especial da Cultura, ações para o setor…
Depois de artistas cobrarem de Regina Duarte, secretária especial da Cultura, ações para o setor enfrentar a pandemia do novo coronavírus, foi a vez da trupe goiana demandar ao secretário de Estado de Cultura, Adriano Baldy. No vídeo divulgado nas redes sociais, uma série de profissionais na área questiona: “Cadê o Baldy?” – confira no fim da matéria.
Em entrevista ao Mais Goiás, o produtor cultural Márcio Júnior diz que em vários Estados têm sido criados editais e linhas de crédito para aguentar a pandemia do novo coronavírus, mas o mesmo não ocorre em Goiás. “O secretário sumiu.” De acordo com ele, a resposta que a pasta de Cultura tem dado não é verdadeira. “Dizem que pagaram os recursos do fundo de cultura de 2018, mas não verdade. Tem cerca de 30 projetos que ainda não receberam. E são recursos empenhados na época do outro secretário”, aponta.
Além disso, Márcio afirma que pagar a dívida de dois anos não é política de quarentena, “fora os vários de 2015 a 2017. Lei Goyazes parada, FAC (Fundo de Arte e Cultura) paralisado. Nada foi criado.” Ele cita, também, que foi dito que havia R$ 25 milhões disponíveis para projetos virtuais. “Mas a maioria não tem como ser virtual. Não tem proposta de projeto emergencial”, critica.
Edital
O produtor aproveita o momento para desmistificar a questão do edital. “Não é mamata”, esclarece. “O edital é importante para os artistas do mesmo jeito que um incentivo é para o agricultor, para a indústria e serviço. Faz parte de uma política de fomento do Estado que gera muita receita. Para cada real investido, voltam R$ 3 para o Estado. É investir num setor da economia”, resume.
Ele cita que o cinema, no Estado, também está parado. “Estávamos com vinte e poucos filmes e vinte e poucas séries em produção. Os trabalhadores pararam”, expõe e complementa: “Geramos mais receita só no audiovisual que no turismo. O edital não existe paro produtor, existe pra fomentar uma área da economia. Não ter, é matar uma área que gera grana.”
Para Márcio, neste momento de crise é possível perceber a importância desta área. Ele aponta que as pessoas só são capazes de tolerar o isolamento porque veem filmes, ouvem música, leem livros e histórias em quadrinhos. “A arte nunca esteve tão presente e o nosso Estado nunca esteve tão distante.”
Cadeia
O sofrimento e as dificuldades são gerais. De acordo com o produtor cultural, todos fazem parte da mesma cadeia, de quem organiza ao responsável por montar um palco. “A pessoa que monta um palco precisa que alguém ganhe um edital para ele ir trabalhar. Todo mundo nessa área, praticamente, é profissional liberal.”
Também produtor cultural, Deryk Santana participou da produção do vídeo que cobrava a presença do secretário Adriano Baldy. Ele também aponta que a cadeia da cultura é diversa e altamente informal. “É toda uma rede de trabalhadores que depende e que está fragilizada. Pessoas que vivem na informalidade, impactados nesse momento”, lamenta.
Acerca do vídeo, ele aponta que nada é cobrado, somente que a lei seja cumprida. “Não lançou edital de 2019. Tem dívidas atrasadas”, reforça. “Não temos visto ação da pasta.” Deryk aponta, ainda, que há pontos de cultura fechando por falta de verba para pagar contas de água e luz.
“E mesmo o dinheiro que é repassado, no caso do FAC de 2018, tem que seguir um cronograma. Eu, por exemplo, recebi para fazer um festival de música em terminais de ônibus e está parado. Eu não posso mexer no dinheiro, é para o projeto, para pagar os profissionais e prestar conta. Então, precisamos de ações emergenciais para mitigar essa situação”, clama.
Aconteceu
Fernanda Fernandes é produtora cultural. Ela iniciava uma temporada do espetáculo O Grande Circo Mágico, em Salvador (BA), quando soube da pandemia. A turnê foi cancelada naquele momento.
“Vendi meu carro para arcar com grande parte desse valor, que ainda não foi quitado. Não existe perspectiva nenhuma de trabalho por enquanto. Vamos nos segurando da forma que é possível, estendendo a mão uns aos outros, doando e recebendo o que é possível”, revela.
Segundo ela, os artistas e produtores estão completamente abandonados pelo Estado e pelo Governo Federal, no que diz respeito à apoio, suporte ou qualquer outro tipo de fomento para ter algum recurso durante a pandemia. “Que para o nosso desespero maior, não tem dia para acabar”, pontua. “E mesmo assim, nossa área continuará sendo afetada, pois será difícil retomar shows, espetáculos ou qualquer outro evento cultural. Fomos a primeira área a ser atingida.”
Como este é um segmento que trabalha, naturalmente, com aglomerações, Fernanda afirma que as atividades culturais foram impactadas em 100%. “É muito difícil achar uma luz no fim do túnel e se reinventar. Independente se for evento de pequeno, médio ou grande porte. Tudo parou.”
Adriano Baldy
A pasta de Cultura foi procurada e enviou um vídeo do secretário Adriano Baldy e um texto. “Eu sou o Adriando Baldy, encontrado”, começa em tom leve. Segundo ele, a secretaria tem, sim, tomando medidas emergenciais em meio à pandemia de Covid-19 para ajudar a classe artística. O titular do órgão menciona o pagamento do Fundo de Arte e Cultura (FAC 2018) e a permissão para que trabalhos do mesmo FAC sejam realizados de forma on-line.
“Estamos atentos e agindo. Pagamos no dia 27 de março o saldo remanescente do FAC de 2018, 1,5 milhões, possibilitando que os projetos sejam realizados virtualmente.” Ele diz, ainda, que R$ 25 milhões serão colocados para projetos virtuais. “No mais, é dificuldade e contingenciamento de todos os lados. Trabalhamos com as condições que temos no momento.”