Autora de ‘Crepúsculo’ fala sobre ‘Sol da meia-noite’, novo livro da saga
Obra conta a história do ponto de vista de Edward e revela alguns segredos sobre as origens do vampiro
Poucas horas após o seu lançamento mundial, “Sol da meia-noite” já chegava ao topo da lista da Amazon. Dá para entender a ansiedade dos fãs: a autora Stephenie Meyer demorou 12 anos para revelar esse novo ópus da saga “Crepúsculo”, fenômeno cultural que aqueceu corações juvenis na útima metade dos anos 2000.
Até aqui, a história de amor entre a introvertida Bella Swan e o vampiro Edward Cullen havia rendido quatro livros, publicados entre 2005 e 2008 e adaptados em cinco filmes de sucesso. Mais de 160 milhões de exemplares vendidos (em 40 idiomas) e US$ 3,3 bilhões de bilheteria depois, quando o ciclo já parecia definitivamente encerrado, eis que Meyer tira da gaveta um velho manuscrito.
A americana iniciou a escrita de “Sol da meia-noite” em 2008, prometendo uma virada na saga. Pela primeira vez, ela mudou o ângulo da narrativa, contando a história a partir do ponto de vista de Edward e revelando, assim, alguns segredos sobre as origens do vampiro.
Só que, na época, Meyer optou por interromper a escrita depois de um vazamento ilegal do primeiro capítulo do livro na internet. Agora, a obra volta do limbo para reacender o motor da máquina “Crepúsculo” de fazer dinheiro.
— Nesse meio-tempo, continuei trabalhando aos poucos no livro — diz a autora, de 46 anos, em entrevista ao GLOBO. — Muitas coisas me levaram a seguir em frente: os fãs e minha mãe, que sempre pediram mais um volume.
Houve, ainda, mais um empurrão para retomar “Sol da meia-noite”. Foi em 2015, com o lançamento de “Vida e morte: Crepúsculo reimaginado” — uma releitura da saga, em que Meyer invertia os gêneros do casal original. A partir daí, novas ideias vieram:
— Fazer “Vida e morte” me fez relembrar a essência dos personagens, o que me ajudou a seguir em frente com a versão de Edward.
“Sol da meia-noite” veio embalado em mistérios. Para evitar spoilers, a editora Intrínseca, que lança toda a obra de Meyer no Brasil, escondeu o enredo até ontem. O livro nos traz novamente à pequena cidade de Forks, no interior do Estado de Washington, que virou até roteiro turístico para os fãs. Também nos traz o mesmo caso de amor sobrenatural e perigoso.
Com a diferença de que, agora pela perspectiva de Edward, descobrimos mais detalhes sobre o vampiro e as razões que o fazem se apaixonar por uma humana. Os outros volumes, “Crepúsculo”, “Lua nova”, “Eclipse” e “Amanhecer”, foram narrados por Bella.
Para quem não era adolescente nos anos 2000, um resumo da premissa da saga: ao se relacionar com um vampiro virgem de 119 anos (e aparência humana de 17), a tímida garota coloca toda a sua família em risco. Trata-se de uma trama sobre desejos proibidos, já que, se levar suas paixões a cabo, Edward pode perder o controle dos próprios instintos e morder a amada. As consequências do ato carnal são imprevisíveis.
O mundo de hoje é um lugar muito diferente daquele em que o primeiro volume de “Crepúsculo” veio a luz, em outubro de 2005. Quase 15 anos depois, os jovens que cresceram lendo a saga aprenderam a problematizar. Em maio, logo após o anúncio de que “Sol da meia-noite” seria lançado, a internet entrou em frenesi e os antigos fãs decidiram reler os livros.
Se o sucesso de vendas logo primeiro dia mostra que o interesse continua intacto, certas reações nas redes sociais dão a entender que a inocência se perdeu nas releituras. Teve gente que tirou sarro dos personagens e os transformaram em memes.
Outros acusaram a autora de romantizar o relacionamento supostamente abusivo dos protagonistas. Até os dons literários de Meyer viraram motivo de chacota: um vídeo no Tik Tok viralizou listando todas as vezes que a autora repetiu a palavra “chuckled” (gargalhar) para descrever as ações de Edward nas páginas de “Crepúsculo” (foram 12 no total).
Da mesma forma, os próprios protagonistas da adaptação para o cinema, Kristen Stewart e Robert Pattinson, afastaram-se completamente da imagem de ídolos teen, atuando em filmes autorais e desafiadores com grandes cineastas como David Cronenberg e Olivier Assayas.
Ao contrário de J. K. Rowling, que foi cancelada pelos antigos fãs por suas opiniões sobre mulheres trans, Meyer é apolítica. É uma entrevistada que sempre se esquiva educadamente de assuntos controversos. Tanto que não respondeu às perguntas da reportagem sobre as polêmicas envolvendo a autora de Harry Potter e sobre a cultura do cancelamento de forma geral. Quando questionada sobre a “revisão” crítica de suas obras, desviou mais uma vez:
— Eu certamente iria achar divertido (os memes), mas não tenho redes sociais, então perco as brincadeiras — diz ela. — Espero que os leitores gostem de suas releituras!
Não há, também, como ignorar o momento único em que o novo romance chega às livrarias. Em meio a uma pandemia, a história de um vampiro que teme transformar e até matar a sua amada humana ganha uma outra dimensão. Na trama, o sexo pode — literalmente — matar. Na época, os críticos chamaram a atenção para um suposto moralismo religioso da autora, que é mormon.
Feministas, por sua vez, viram uma dinâmica machista no relacionamento. Hoje, porém, imersos em um cotidiano de máscaras, distanciamento social e medo de contaminar os que amamos, fica muito mais fácil de se identificar com os dilemas de Bella e Edward.
— É uma questão muito interessante e nunca havia considerado este ponto de vista até aqui — diz Meyer. — Talvez a pandemia deixe os leitores mais simpáticos em relação a Edward.
A autora, aliás, conta que não mudou sua opinião sobre o vampiro com a escrita do novo livro. Mas espera que a troca de narrador faça os leitores repensarem sua imagem.
— Minha percepção sobre Edward não mudou porque, para mim, ele sempre foi isso (que está no livro) — explica. — Quando comecei a escrever “Crepúsculo”, sempre soube que o se passava em sua mente. Mas acho que o leitor vai vê-lo de um jeito muito diferente agora. Em “Crepúsculo” ele parece sempre muito seguro de si. Não sei se qualquer pessoa que não estivesse em minha mente veria os seus sinais de ansiedade e indecisão.
Confinada em casa com os filhos, Meyer não está aproveitando a quarentena para escrever novos projetos. No momento, todo a sua energia está voltada para a divulgação de “Sol da meia-noite”. Ela, porém, não sabe dizer se o romance será um dia adaptado para o cinema, assim como todos os outros opus da saga.
— Há alguns desafios únicos em levar esta obra para o cinema, como mostrar o mundo pela perspectiva de Edward, especialmente pelo fato dele estar sempre ouvindo vozes em sua cabeça. Mas, se um dia isso acontecer, não acredito que usaremos o mesmo elenco. Bella e Edward têm 17 anos, enquanto Rob e Kristen já estão com mais de trinta.
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