Crítica: ‘Batman: O Retorno’ (1992) – Especial Batman 85 anos
Longa-metragem foi dirigido por Tim Burton
Após o imenso sucesso de “Batman” em 1989, Tim Burton ganhou liberdade total para fazer o que bem entender nesta continuação intitulada “Batman – O Retorno”, lançada em 1992. O filme, podemos dizer, possui 100% identidade Burton em um universo menos parecido com o dos quadrinhos, e mais particular às ideias de seu diretor. Ele é mais sombrio, mais denso e por vezes mais sádico do que o antecessor e foi extremamente importante para estabelecer de uma vez por todas a imagem de um Batman sombrio no imaginário popular.
Particularmente, “Batman – O Retorno” possui um dos visuais mais lindos de um filme de super-herói. A direção de arte, a fotografia, os figurinos e a maquiagem são de uma beleza ímpar e memoráveis. Mas no que “O Retorno” acerta em produção, ele perde em ritmo e em diversão.
Como muitos, o filme foi um dos marcos da minha infância e assim como outros longas do Batman na época, eu ficava sempre empolgado quando era reprisado na televisão. Mas de todos os filmes, quando criança, “O Retorno” era o que menos me empolgava. Os vilões são de um visual inesquecível e icônico, e as interpretações de Danny DeVito como Pinguim e Michelle Pfeiffer como Mulher-Gato são clássicas, mas como vilões eles não empolgam dentro da narrativa, e o Batman de Michael Keaton, me desculpem, é muito ‘pamonha’ em diversos momentos onde apenas espera as coisas acontecerem para depois agir.
Como falei em meu texto sobre o filme de 1989, super-heróis foram criados para crianças, então todos os filmes do Batman – sombrios ou menos sombrios -, são repletos de decisões bestas que compõem o universo lúdico e infantil proveniente das HQs. Como no filme anterior, os planos dos vilões não saem do superficial de destruir o Batman e dominar a cidade, e não fazem o menor sentido (mas isso é bem quadrinhos e não me incomoda!). O que me incomoda são algumas escolhas de como chegar a este objetivo, como, por exemplo: colocar pinguins para carregar explosivos e destruir Gotham (a começar ter centenas de pinguins no esgoto de uma metrópole, mas ok, estamos falando de um filme com um cara vestido de morcego, então passa).
Se for utilizar as galhofas habituais do gênero, que crie algo realmente empolgante e divertido. Falta a “Batman – O Retorno” aventura. Falta ação. Falta ritmo. Falta heroísmo. É muito mais um drama gótico fantástico de Tim Burton, do que um filme de super-herói dos quadrinhos. Burton nunca foi muito bom em fazer ação, e aqui ele se abdica de boa parte dela para explorar o visual estranhíssimo que lhe é tão característico. Se por um lado combina com os personagens, por outro deixa a desejar no senso de aventura.
Sem falar que com Burton em total liberdade criativa, o diretor – que não é um leitor assíduo de quadrinhos – parece acreditar em um surgimento literal dos vilões. Para ele, se o personagem se chama Pinguim ele deve ser então um animal Pinguim, ou a Mulher-Gato deve ser mordida por gatos para se transforma na… Mulher-Gato! Mas isto também não me incomoda pois faz parte da fantasia e da liberdade de autor.
Nunca defendi que um filme deve ser fiel aos quadrinhos. Assim como nas páginas dos gibis, onde existem inúmeras versões de um mesmo personagem ao longo das décadas, no cinema o realizador deve ter liberdade para criar a sua adaptação – e Batman é o maior exemplo desta diversidade. Goste ou não, Burton criou aqui o seu Batman, o seu Pinguim, a sua Mulher-Gato e o seu universo próprio. Eu gosto muito desta visão e ousadia, mas, repito, meu maior problema com o filme é ele ter deixado o espírito de aventura de lado, afinal, acima de tudo, continua sendo um filme de super-herói.
Batman Returns/1992 – EUA
Dirigido por: Tim Burton
Com: Michael Keaton, Danny DeVito, Michelle Pfeiffer, Christopher Walken…
Sinopse: Com o objetivo de manipular Gotham City, um milionário (Christopher Walken) tenta transformar o Pinguim (Danny DeVito), um ser deformado que tinha sido abandonado ainda bebê nos esgotos, em prefeito da cidade. Como se isto não bastasse, surge a Mulher-Gato (Michelle Pfeiffer) que, apesar de ser linda e sedutora, também tem dupla personalidade, em razão de problemas no passado. Ambos se tornam verdadeiros pesadelos para Batman no presente.