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BBB 20 chega à reta final renovado e com multiplicação de seguidores

Há quem o odeie e há quem não viva sem. O fato é que, este…

Há quem o odeie e há quem não viva sem. O fato é que, este ano mais do que nunca, foi impossível ignorá-lo. Na sua vigésima edição, o Big Brother Brasil — um dos mais antigos reality shows do país — chega à final nesta segunda-feira (27) após bater recordes de votos nas suas eliminações e mobilizar a opinião pública nas redes sociais, engajando inclusive celebridades como Bruna Marquezine e Anitta.

O buzz na internet alimentou a audiência na TV, e vice-versa: segundo dados do Painel Nacional de Televisão (PNT), o BBB 20 completou três meses ultrapassando a marca de 165 milhões de pessoas alcançadas. Entre o período de 21 de janeiro a 21 de abril, o programa obteve média de 24 pontos. O número representa um aumento de 20% em relação ao mesmo período da edição anterior.

Depois de uma temporada morna em 2019, o reality havia feito uma mudança arriscada em seu formato: em vez de acolher somente anônimos, misturou participantes “gente como a gente”, chamados de “pipoca”, com o grupo do “camarote”, representado por figuras públicas como a cantora Manu Gavassi, o ator Babu Santana, o hipnólogo Pyong Lee e a blogueira Bianca Andrade, a “Boca rosa”.

Eliminada semana passada, a influenciadora digital Mari Gonzalez diz que pensou duas vezes antes de aceitar o convite, que envolveria um novo tipo de exposição, sem o controle que as redes permitem:

— Tinha muito medo, pensei até que ponto seria legal para mim. Lá a gente está totalmente vulnerável. Não existe filtro da Mari, é a Mari mulher.

Mesmo assim, ela considera que a aposta se pagou. Se quando entrou na casa a influenciadora tinha cerca de 3,2 milhões de seguidores no Instagram, hoje este número chega a 8,6 milhões.

Ela não é a única. Segundo a TV Globo, do início do confinamento até 14 de abril, participantes do grupo pipoca somavam 205.456 fãs em suas contas no Instagram. Hoje, são 28 milhões de seguidores no total. O mesmo ocorre no grupo camarote: somando seus perfis na plataforma, houve um salto de 22,4 milhões de seguidores para mais de 64 milhões.

Narrativa paralela

Mestre em Comunicação pela UnB e professor na Casa Thomas Jefferson, Pedro Tapajós, conhecido no Twitter por suas observações sobre o programa na conta @philosopop, acredita que a entrada de rostos familiares foi um chamariz no começo. Porém, o que fez a edição “dar liga” foi quando as mulheres da casa descobriram que parte dos homens pretendia seduzir as participantes comprometidas, para que elas ficassem “queimadas” na opinião pública. Se eles contavam com uma postura machista da audiência, se deram mal. Os envolvidos no complô, como Petrix, Hadson, Felipe, Lucas e Guilherme, foram sendo eliminados um por um.

— Foi um elenco inusitado. Não eram “famosos da TV” e sim gente de diversos mundos, que entrou com pessoas de muita personalidade no grupo pipoca — analisa Tapajós. — A grande confusão no início foi um motor de explosão que movimentou toda a narrativa a seguir. Do meio para o fim, houve o envolvimento de famosos fazendo torcida para participantes, o que consolidou de vez o sucesso. Mas o meu maior termômetro foi ouvir o povo na rua falando sobre o programa. Aí eu percebi que o “BBB” havia “retornado”.

Se há anos as redes sociais já funcionam como uma segunda tela para quem acompanha o reality, desta vez houve uma reunião de fatores que fizeram com que lá transcorresse quase um segundo “BBB”. Coordenador da pós-graduação em Produção Audiovisual da ESPM, Pedro Curi explica que a entrada dos influenciadores não trouxe apenas para a televisão o seu próprio público, mais nichado. Trouxe também suas conexões: é o caso de Manu Gavassi, que teve como maior incentivadora nas redes uma de suas melhores amigas, a atriz Bruna Marquezine.

Além disso, conforme o público identificava na casa comportamentos que exemplificavam machismo ou racismo, os paredões se tornaram plebiscitos sobre temas mais amplos que transbordavam para além da casa.

— Nesta edição, o “BBB” aconteceu mais do lado de fora do que antes — avalia Curi. — Os paredões deixaram de ser uma disputa entre duas pessoas e passaram a ser uma questão maior, ligada a debates das redes sociais. Muitas coisas não estavam no programa em si, não eram preocupações das pessoas da casa. É como se existisse uma narrativa paralela nas redes sociais que complementa a que está acontecendo no “BBB”.

1,5 bilhão de votos

Isso ficou claro no momento mais dramático e histórico do programa, quando o reality bateu o recorde mundial de votos num paredão: 1,5 bilhão. Com o país em quarentena, foi possível ouvir pelas janelas o público comemorando a saída de Felipe Prior em 31 de março, numa disputa acirrada com Manu Gavassi, que recebeu 42,51% dos votos (também participante desta eliminação, Mari teve apenas 0,76% dos votos). Após Prior deixar o programa, a revista “Marie Claire” trouxe à tona relatos de mulheres que acusam o arquiteto de estupro. Prior, que na sexta-feira, dia 24, prestou depoimento na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher de São Paulo, nega as acusações.

Outra questão que pulou o muro da casa do “Big Brother”, porque tem raízes mais antigas e profundas no mundo real, foi o debate racial. Um voto da médica Thelma Assis no ator Babu Santana inflamou discussões nas redes. De núcleos distintos dentro do jogo, os dois, que são negros, sempre reiteraram o vínculo da representatividade como um elo entre eles. Com sua decisão, a médica paulista chegou a ser “cancelada” no tribunal da internet. O que abriu mais debate.

— O cancelamento não possibilita crescimento ou troca — pondera o dramaturgo, professor e ex-participante do “BBB 19”, Rodrigo França, que vê na atitude uma forma pós-moderna de silenciar os outros. E suas vozes também.

— A pessoa deve apenas calar a boca, e pronto — argumenta ele, que, em sua edição, foi alvo de comentários que flertavam com a intolerância de raça e credo. — Mas também não acredito que existam pessoas desconstruídas, estamos sempre em um processo. Só que é preciso estar disposto a repensar seus próprios privilégios.

Para outra participante da edição anterior, a cantora Gabi Hebling, o “BBB” funciona tão bem como lupa da sociedade porque expõe o que, fora da casa, costuma ser varrido para baixo do tapete:

— Na minha edição pautamos essas questões. Muitas vezes fomos tachados de chatos, extremistas. Se no “BBB”, onde há tantas câmeras, o racismo, a homofobia e machismo são vistos como “mimimi” por alguns confinados, aqui fora a realidade é muito mais difícil e “oculta”.