BBB 21 aborda temas sensíveis e chega à reta final com recorde de audiência
Especialistas acreditam na 'reinvenção' do programa a partir de pautas sociais aliadas ao poder das redes
Era para ser apenas mais um Jogo da Discórdia, dinâmica que acontece toda segunda-feira no BBB 21. Sob o comando do apresentador Tiago Leifert, os participantes lavam a roupa suja no reality show. Na semana em questão, o brother João Luiz decidiu expor ao mundo — e ao vivo — sua mágoa em relação a um comentário feito dias antes por outro confinado, o sertanejo Rodolffo.
O cantor havia comparado o penteado do professor a uma peruca de uma fantasia de homem das cavernas usada na casa. João se emocionou ao falar do racismo que sofre e já sofreu; Rodolffo não soube bem o que dizer; as redes sociais pegaram fogo.
Na ocasião, o Google Brasil registrou um aumento de 355% nas buscas pelo termo “black power”, atingindo seu nível mais alto desde outubro de 2016 e mostrando como o programa é um microcosmo da sociedade e de temas que estão na pauta do dia.
Desde o início do BBB 21 tem sido assim. O reality entra em sua reta final trazendo no “currículo’’ debates sobre assuntos contemporâneos, como racismo, machismo, homofobia, masculinidade tóxica, cancelamento e negacionismo. O que se passa lá dentro reverbera na sala de estar e no universo digital, onde muitos concordam e outros tantos discordam de tudo.
Na visão de especialistas, há uma explicação para esta retroalimentação entre o que os participantes vivenciam nesta 21ª edição e os temas quentes do cotidiano. Para Pablo Moreno, doutor em Ciências da Comunicação e professor da UFMG, uma crescente conexão do público com a internet é fator primordial para potencializar essas discussões.
“Os efeitos dos microcosmos do BBB são mais intensos em função da sociedade conectada em rede”, disse.
Ondas de interesse
Muitos foram os temas que geraram ondas de interesse para além dos muros do confinamento. É o caso da “xenofobia”, foco de discussão após comentários feitos pela rapper Karol Conká em relação à maquiadora paraibana Juliette. Entre janeiro e abril, as buscas pela palavra cresceram 70%.
Na semana de 21 a 27 de março, o BBB 21 ferveu por outro comentário de Rodolffo, desta vez sobre um vestido usado pelo cantor Fiuk. O sertanejo foi acusado de ser machista e homofóbico ao insinuar que o músico não seria bem recebido numa balada em Goiás. No mesmo período, as buscas por “machismo” atingiram seu pico dos últimos 12 meses, enquanto as consultas por “homofobia” registraram o maior nível desde outubro de 2020.
Nos últimos 60 dias, as consultas por “bissexual” e “bifobia” tiveram um salto de 26% em comparação aos 60 dias anteriores. O pico foi em 7 de fevereiro: 170%. Naquela madrugada, os participantes Gilberto e Lucas se beijaram durante uma festa na casa, o que gerou alguns comentários considerados bifóbicos entre alguns brothers.
De acordo com Adriana Amaral, professora de Comunicação Social da Unisinos (RS) e pesquisadora de cultura digital, este fortalecimento do diálogo com uma agenda social viva e pulsante marca uma reinvenção do programa.
“Vivemos um momento de muita desinformação sobre assuntos diferentes. É crucial que as pessoas sejam instigadas a pesquisar mais sobre esses temas”.
Aposta na diversidade
Para ter um leque variado de debates dentro da casa, há um consenso de que é preciso apostar na diversidade. Neste quesito, o BBB 21 subiu o sarrafo em sua escalação, com um recorde de participantes negros e LGBTs. Mas, se por um lado as pautas sociais ganharam força com esta gama heterogênea de competidores, tornou-se perceptível o medo dos próprios participantes de serem reduzidos a ativistas e militantes.
A presença de famosos ocupando metade das vagas trouxe à tona outra questão: o cancelamento. Taxados como vilões pelo público, Karol Conká, Nego Di e Projota saíram da casa com altos índices de rejeição.
Desde então, tentam rearrumar suas imagens. Karol, por exemplo, transformou sua passagem pelo BBB em um documentário com nome sugestivo, “A vida depois do tombo’’ , que estreia dia 29 no Globoplay. Em tempo: entre janeiro e abril, as buscas pelo assunto cancelamento saltaram 720%.
Para Luiza Mello, doutoranda em Comunicação pela UFF e autora de pesquisas acadêmicas sobre o reality, é importante ressaltar a força de nomes conhecidos como trampolim para os debates:
“O programa já tem uma base de fãs muito dedicada nas mídias sociais. E acaba angariando ainda mais engajamento com os seguidores das celebridades confinadas”.
Cancelamento cancelado
Para Luiza, há vida após o cancelamento:
“A pessoa cancelada não deixa de receber uma grande visibilidade num período curto. É uma projeção negativa, mas que pode ser revertida”.
E não é somente na internet que o BBB 21 turbina os números. De acordo com o Painel Nacional de Televisão (PNT), nos primeiros 60 dias a atração teve média de 27 pontos de audiência, batendo o recorde das sete edições anteriores e superando o BBB 20 em 17%.
Em relação aos paredões, a eliminação da atriz Carla Diaz registrou o maior fluxo de votos por minuto em toda história do programa: 2,9 milhões em apenas 60 segundos. Até 4 de maio, quando tudo termina, há tempo para novos recordes e mais debates.