A Lista de Schindler (1993) | #tbt Clássicos
Cinema é entretenimento. Cinema é se divertir. É relaxar a mente. É esquecer os problemas…
Cinema é entretenimento. Cinema é se divertir. É relaxar a mente. É esquecer os problemas do dia a dia e passar duas horas vivenciando o impossível. Sim, cinema é tudo isso. Mas cinema também é fonte de informação, é documento cultural de uma época e, principalmente, é uma ferramenta para falar do passado e não deixá-lo esquecer. Existem filmes que não são para divertir. Existem filmes que até são desconfortáveis, mas necessários por tocar em feridas e acontecimentos da nossa trajetória como seres humanos que não apenas o presente, mas futuras gerações também precisam conhecer.
Conheci “A Lista de Schindler” através de um trabalho da escola. Tinha 14 anos e a professora de história nos pediu para assistir ao filme para escrever um resumo e fazer um trabalho sobre o holocausto na 2ª Guerra Mundial. Não tinha idade para assisti-lo, claro, mas antigamente não existia tantas restrições com conteúdo didático, desde que fosse importante para o aprendizado e formação dos alunos. E aquela professora (não me recordo seu nome) me fez ter uma das experiências mais marcantes de toda a minha vida. Não apenas por vivenciar uma história tão assustadora do ponto de vista humano, como por ter, pela primeira vez, contato com imagens em movimento sobre um período tão sombrio da humanidade – já que antes eram apenas fotografias inseridas nos livros escolares.
A história do filme é bastante inusitada. Temos aqui um alemão chamado Oskar Schindler (Liam Neeson) que começa como um homem ganancioso e astuto que deseja, apenas, aproveitar o período da guerra para lucrar. Ele não se importa com política, mas aceita entrar para o partido nazista com intenções de favorecer os seus negócios. Ele abre uma fábrica de utensílios domésticos e contrata vários judeus para o trabalho. Mas após assistir ao massacre de um campo de concentração e perceber que a guerra se afunilava e que muitos inocentes seriam assassinados, Schindler usa sua própria fábrica e negócios para comprar o máximo de judeus que conseguir e impedir que fossem mortos pelos nazistas.
Dirigido pelo gênio Steven Spielberg, responsável por obras-primas do cinema como “Tubarão”, “Indiana Jones” e “E.T – O Extraterrestre”, o diretor de descendência judia buscou em outras ocasiões ao longo de sua carreira fugir do estigma de alguém que não sabia dirigir filmes sérios, mas apenas obras de aventura e ação. E conseguiu se provar com dramas ótimos como “A Cor Púrpura”, “Império do Sol” e “Além da Eternidade” (pouco conhecido, mas que amo). Mas foi apenas com “A Lista de Schindler”, em 1993, que Spielberg mostrou pela primeira vez uma crueza e realismo até então nunca vistos em seu cinema. Geralmente seus trabalhos são carregados de melodramas, e até nos dramas previamente lançados e já citados acima, Spielberg manipula escancaradamente as emoções do público. Não tenho nada contra, é o meu diretor favorito e o considero um dos poucos capazes de utilizar o melodrama de maneira memorável e emocionante.
Mas “A Lista de Schindler” requeria algo mais ousado. É uma obra carregada de emoção e dramaticidade, sem dúvida, e exagerar no melodrama poderia diminuir o peso da história. Aqui, Spielberg filma como um documentário, não segura a mão na violência e nos entrega uma das recriações mais inesquecíveis e impactantes do holocausto em toda a história do cinema. O longa ter sido filmado em preto e branco em plena década de 90 é uma escolha pensada para nos fazer ter a sensação de estar, justamente, assistindo à vídeos antigos da Segunda Guerra Mundial. Uma escolha que nos coloca totalmente imersos naquele mundo e vivenciando o sofrimento e austeridade do momento.
É um filme longo, incômodo, pesado e sentimentalmente doloroso. Não é um tipo de obra para assistir com frequência, mas é extremamente necessária quando falamos de holocausto. Os avós de Spielberg estiveram em um campo de concentração, portanto, a história possui alto apelo pessoal para o diretor. O cuidado com cada momento, a preocupação em recriar os cenários e cada detalhe do período foram prioridade para a realização do longa. Ser fiel à época retratada e à desumanidade do período é uma maneira de respeitar a história e os muitos inocentes mortos injustamente.
“A Lista de Schindler” foi indicado a 12 Oscars e ganhou 7 estatuetas, incluindo de Melhor Filme e Melhor Diretor para Spielberg (seu primeiro Oscar de direção). É um filme colossal, magistralmente filmado e com atuações poderosas de um elenco formidável. É um dos meus filmes favoritos da vida. Uma obra-prima marcante e perfeita como raramente o cinema proporciona. Está atualmente disponível na Netflix.
Schindler’s List/EUA – 1993
Dirigido por: Steven Spielberg
Com: Liam Nesson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes…
Sinopse: A inusitada história de Oskar Schindler (Liam Neeson), um sujeito oportunista, sedutor, “armador”, simpático, comerciante no mercado negro, mas, acima de tudo, um homem que se relacionava muito bem com o regime nazista, tanto que era membro do próprio Partido Nazista (o que não o impediu de ser preso algumas vezes, mas sempre o libertavam rapidamente, em razão dos seus contatos). No entanto, apesar dos seus defeitos, ele amava o ser humano e assim fez o impossível, a ponto de perder a sua fortuna mas conseguir salvar mais de mil judeus dos campos de concentração.