Crítica: A Voz Suprema do Blues | Netflix
Filme tem a última atuação de Chadwick Boseman - que morreu ano passado
“A Voz Suprema do Blues” se passa na cidade de Chicago, na década de 20, durante uma sessão de gravação de músicas da cantora Ma Rainey (Viola Davis) com sua banda. O filme, apesar de se passar basicamente em um único cenário, aproveita o momento para explorar algumas características do mundo da música daquela época (e que não mudou muito sob aspectos operacionais) como, por exemplo: a busca por controle dos donos de estúdio sob os cantores, preconceito e etc, etc, etc. Tudo envolvendo questões raciais e financeiras do período.
O longa é dirigido por George C. Wolfe, estrelado por Viola Davis e Chadwick Boseman, produzido por Denzel Washington e adaptado de uma peça teatral escrita por August Wilson. Aliás, Wilson já teve outro trabalho levado ao cinema por Denzel e Viola: o filme “Um Limite Entre Nós” (2016).
No início do século XX o blues estava no auge, e era um estilo predominantemente cantado por homens. Mas aos poucos este cenário foi mudando. As mulheres começaram a ganhar mais espaço e iniciar turnês pelos EUA se apresentando em casas de shows. Ma Rainey não foi a primeira mulher a cantar blues, mas foi a primeira a ganhar fama nacional e a se tornar um hit nos EUA. Isto lhe deu o apelido de “mãe do blues”.
“A Voz Suprema do Blues”, como já dito, se passa quase todo dentro do estúdio de gravação e acompanha as discussões e conflitos entre os personagens. Seja a relação conturbada de Ma Rainey com seu empresário, ou com o dono do estúdio, ou com o seu trompetista chamado Leeve (Boseman) – cuja ambição é revolucionar o blues e se tornar um sucesso.
Diferente de “Um Limite Entre Nós”, a direção de George C. Wolfe não fica apenas assistindo os personagens como se fosse um expectador numa sala de teatro. Aqui, a câmera se envolve nos cenários, ela meche e busca dar ritmo à história – já que o roteiro é totalmente centrado nos embates entre os personagens e não sai muito disso.
Mas ai reside meu problema com o filme. Apesar da direção se esforçar em dar ritmo e dinâmica à trama, a história não é nada interessante. Aliás, um filme sobre a trajetória de vida de Ma Rainey, ou do trompetista Leeve seria muito melhor – eu fiquei interessado em conhecer mais de cada um. Mas o que temos aqui é um longa focado em discussões totalmente sem propósito. Algumas são extremamente desnecessárias e só enrolam a história deixando tudo arrastado e cansativo.
Já as atuações são o maior força de “A Voz Suprema do Blues”. O maior destaque, e a melhor atuação do filme, é a de Chadwick Boseman. Seu Leeve é quem possui as cenas mais fervorosas e emocionantes, e é ele quem nos faz ter maior sensibilidade e emoção com a trama.
Já Viola Davis considero uma atuação ótima, mas nada de novo ou surpreendente que ela já não tenha feito. A mulher impetuosa, nervosa, que sai disparando ofensas para todos. Não me entenda mal, Viola como Ma Rainey é excelente, mas o diferencial aqui é vê-la numa maquiagem que a deixa horrível e extremamente irreconhecível. Provavelmente será indicada ao Oscar, mas quem realmente merece algum prêmio neste filme é Boseman – que infelizmente faleceu em agosto de 2020.
Ma Rainey’s Black Botton/EUA – 2020
Dirigido por: George C. Wolfe
Com: Chadwick Boseman, Viola Davis, Taylor Paige…
Sinopse: A Voz Suprema do Blues Voz acompanha Ma Rainey (Viola Davis) em Chicago, 1927, numa sessão de gravação de álbum mergulhada em tensão entre seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca que está determinada a controlar a incontrolável “Mother of the Blues”. Porém, uma conversa no local revela verdades que irão abalar a vida de todos.